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Deltacron: entenda a história da variante da Covid que nunca existiu

Cientistas acreditam que evidências da nova variante que teria sido identificada no Chipre não passaram de um erro de laboratório

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1 de 1 coronavírus - Foto: Getty Images

Há duas semanas, o mundo foi surpreendido com o surgimento de uma nova variante do coronavírus. A Deltacron, como ficou conhecida, seria resultado de uma mutação das variantes Delta e Ômicron. Entretanto, cientistas logo começaram a desconfiar de que o achado não passava de um erro de laboratório.

A descoberta da Deltacron foi anunciada pelo professor de ciências biológicas da Universidade de Chipre, Leondios Kostrikis, em uma rede de televisão local, em 7 de janeiro. De acordo com o chefe do Laboratório de Biotecnologia e Virologia Molecular da universidade, a cepa já tinha infectado ao menos 25 pessoas no país.

No mesmo dia, os 25 sequenciamentos genéticos do vírus foram enviados para o principal banco de dados do coronavírus do mundo, o Gisaid, onde instituições internacionais registram os genomas encontrados. Outras 27 amostras foram encaminhadas nos dias seguintes e rapidamente a notícia se espalhou.

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De acordo com a OMS, variantes consideradas de preocupação são aquelas que possuem aumento da transmissibilidade e da virulência, mudança na apresentação clínica da doença ou diminuição da eficácia de vacinas e terapias disponíveis
Já as variantes de interesse apresentam mutações que alteram o fenótipo do vírus e, assim, causam transmissões comunitárias, detectadas em vários países
Apesar da alta taxa de transmissão, a Ômicron possui sintomas menos agressivos que o coronavírus
Em setembro de 2020, a variante Alfa foi identificada pela primeira vez no Reino Unido. Ela possui alta taxa de transmissão e já foi localizada em mais de 80 países. Apesar de ser considerada como de preocupação, as vacinas em uso são extremamente eficazes contra ela
Com mutações resistentes, a variante Beta também foi classificada como de preocupação pela OMS. Identificada pela primeira vez na África do Sul, ela possui alto poder de transmissão, consegue reinfectar pessoas que se recuperaram da Covid-19, incluindo já vacinadas, e está presente em mais de 90 países
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Desde o início da pandemia, dezenas de cepas da Covid-19 surgiram pelo mundo. No entanto, algumas chamam mais atenção de especialistas: as classificadas como de preocupação e as de interesse

Viktor Forgacs/ Unsplash
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De acordo com a OMS, variantes consideradas de preocupação são aquelas que possuem aumento da transmissibilidade e da virulência, mudança na apresentação clínica da doença ou diminuição da eficácia de vacinas e terapias disponíveis

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Já as variantes de interesse apresentam mutações que alteram o fenótipo do vírus e, assim, causam transmissões comunitárias, detectadas em vários países

Peter Dazeley/ Getty Images
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Apesar da alta taxa de transmissão, a Ômicron possui sintomas menos agressivos que o coronavírus

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Em setembro de 2020, a variante Alfa foi identificada pela primeira vez no Reino Unido. Ela possui alta taxa de transmissão e já foi localizada em mais de 80 países. Apesar de ser considerada como de preocupação, as vacinas em uso são extremamente eficazes contra ela

Aline Massuca/Metrópoles
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Com mutações resistentes, a variante Beta também foi classificada como de preocupação pela OMS. Identificada pela primeira vez na África do Sul, ela possui alto poder de transmissão, consegue reinfectar pessoas que se recuperaram da Covid-19, incluindo já vacinadas, e está presente em mais de 90 países

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A variante Gama foi identificada pela primeira vez no Brasil e também é considerada de preocupação. Ela possui mais de 30 mutações e consegue escapar das respostas imunológicas induzidas por imunizantes. Apesar disso, estudos comprovam que vacinas disponíveis oferecem proteção

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A variante Delta era considerada a mais transmissível antes da Ômicron. Identificada pela primeira vez na Índia, essa variante está presente em mais de 80 países e é classificada pela OMS como de preocupação. Especialistas acreditam que a Delta pode causar sintomas mais severos do que as demais

Fábio Vieira/Metrópoles
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Detectada pela primeira vez na África do Sul, a variante Ômicron também foi classificada pela OMS como de preocupação. Isso porque a alteração apresenta cerca de 50 mutações, número superior ao das demais variantes, é mais resistente às vacinas e se espalha facilidade

Andriy Onufriyenko/ Getty Images
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Classificada pela OMS como variante de interesse, a Mu foi identificada pela primeira vez na Colômbia e relatada em ao menos 40 países. Apesar de ter domínio baixo quando comparada às demais cepas, a Mu tem maior prevalência na Colômbia e no Equador

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Apesar de apresentar diversas mutações que a tornam mais transmissível, a variante Lambda é menos severa do que a Delta, e é classificada pela OMS como de interesse. Ela foi identificada pela primeira vez no Peru

Josué Damacena/Fiocruz
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Localizada nos Estados Unidos, a variante Épsilon é considerada de interesse pela OMS. Isso porque a cepa possui a capacidade de comprometer tanto a proteção adquirida por meio de vacinas quanto a resistência adquirida por meio da infecção pelo vírus

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As variantes Zeta, identificada no Brasil; Teta, relatada nas Filipinas; Capa, localizada na índia; Lota, identificada nos Estados Unidos; e Eta não são mais consideradas de interesse pela OMS. Essas cepas fazem parte do grupo de variantes sob monitoramento, que apresentam risco menor

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Descoberta posta em dúvida

No dia seguinte ao anúncio, cientistas que trabalham com sequenciamento genético e estão envolvidos em pesquisas sobre a Covid-19 alertaram sobre a possibilidade de ter ocorrido um erro de laboratório com as 52 amostras.

As características encontradas não indicavam uma nova variante como resultado de recombinação genética, processo que ocorre quando uma pessoa é infectada por dois micro-organismos diferentes que entram em uma mesma célula. Nessa situação, o material genético deles pode ser trocado aleatoriamente.

“Este é provavelmente um artefato de sequenciamento com contaminação de laboratório, tendo fragmentos de Ômicron em uma amostra Delta”, escreveu a médica Krutika Kuppalli, que integra o grupo técnico da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Twitter.

O virologista do Imperial College de Londres, Tom Peacock, também sugeriu que a sequência genética da amostra parecia estar infectada.

À revista Nature, o virologista Jeremy Kamil, professor da Louisiana State University Health Shreveport, dos Estados Unidos, explicou que o sequenciamento de genomas depende de primers, pequenos pedaços de DNA fabricado.

A variante Delta apresenta uma mutação no gene da spike que reduz a capacidade de alguns primers de se ligarem a ela, dificultando o sequenciamento dessa região do genoma. A Ômicron, por outro lado, não compartilha essa mutação, portanto, se alguma partícula dela for misturada à amostra por contaminação, o gene sequenciado vai se parecer mais com nova cepa.

Novas evidências

Com a repercussão negativa no meio científico, Kostrikis foi a público novamente para explicar que sua hipótese havia sido mal interpretada pela imprensa e que ele e sua equipe nunca chegaram a dizer que as sequências eram a junção das duas variantes. Mas logo as informações sobre a suposta cepa foram despublicadas do banco de dados.

Na última semana, o cientista contou à revista Nature que está “no processo de investigar todas as opiniões cruciais expressas por cientistas proeminentes de todo o mundo sobre meu recente anúncio”.

Rapidez da ciência

Mais de 7 milhões de sequenciamentos genéticos do novo coronavírus foram registrados no Gisaid desde o início da pandemia da Covid-19. A rapidez com que o possível erro foi identificado por outros cientistas chamou a atenção do mundo.

Por outro lado, pesquisadores temem que a repercussão negativa que o caso tomou prejudique o compartilhamento de informações por cientistas, por medo de sofrerem retaliação.

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