Defesas do corpo: o que há de novo na “teoria da sujeira”?
Saiba os argumentos mais recentes do grupo científico que acusa o excesso de limpeza de atrapalhar o desenvolvimento do sistema imunológico
atualizado
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O sistema imunológico é um conjunto de órgãos, tecidos e células responsável pelo combate a microrganismos invasores causadores de doenças. Hoje, a medicina sabe que é possível estimulá-lo através da boa alimentação, prática regular de exercícios físicos e maior exposição aos antígenos – substâncias que obrigam o corpo a reagir produzindo anticorpos.
O assunto é tema do livro “An Elegant Defense: The Extraordinary New Science of the Immune System“, do jornalista Matt Richtel. Em um dos trechos, ele questiona se crianças devem ou não colocar a mão no nariz e se elas devem ou não comer terra. Recentemente, o jornal americano The New York Times repercutiu o assunto, contestando a necessidade extrema por limpeza do nosso tempo e trouxe dados novos sobre o avanço de alergias nos EUA.
Segundo a reportagem, o percentual de crianças no país com alergia alimentar aumentou 50% entre 1999 e 2011. Cerca de 12% das crianças americanas apresentam problemas de pele ou outras irritações alérgicas relacionadas à comida. Os dados são do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês). Os cuidados com o quais os recém-nascidos são cercados e as restrições alimentares às quais são submetidos no início da vida seriam um dos fatores que acabariam contribuindo para a manifestação posterior de alergias.
Reforçando a hipótese de que até a preocupação com a higiene deve ter limites, o Journal of Allergy and Clinical Immunology publicou artigo apontando que crianças nascidas fora dos EUA, que imigram para lá, tem taxas menores de alergia do que aquelas nascidas em solo americano.
O infectologista Leandro Machado afirma que a chamada “hipótese de higiene” ou “teoria da sujeira” é debatida há décadas. A análise foi formulada em 1989 pelo epidemiologista Dr. Strachan e tem sido difundida ao redor do mundo. De acordo com o cientista, o sistema imune é modulado pela exposição aos antígenos e, desta maneira, quanto maior o contato com eles, menos alergias ou doenças autoimunes ao longo da vida.
O médico brasiliense, no entanto, sugere cautela. Ainda não há respostas práticas para saber, por exemplo, por quanto tempo a pessoa precisa ficar exposta para ser capaz de calibrar o sistema imunológico ou que substâncias são recomendadas para que a calibragem aconteça. Para Leandro Machado, equilíbrio é a palavra chave: “Falta de higiene faz mal e exagero também”.