Datafolha: 90% da população está insatisfeita com atendimento de saúde
Pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Medicina revela que o setor é prioridade máxima para 39% dos entrevistados
atualizado
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Apenas 10% dos brasileiros estão satisfeitos com o atendimento de saúde no país, segundo dados de uma pesquisa Datafolha encomendada pelo Conselho Federal de Saúde e divulgada nesta terça-feira (26/6), em Brasília. Ao todo, considerando aquelas pessoas que avaliam o sistema como ruim ou péssimo e como regular, 89% estão descontentes com o atendimento recebido, seja na área pública ou no setor privado de saúde.
Na última vez que o mesmo levantamento foi feito, em 2015, avaliação positiva era de 6%. O instituto ouviu 2.087 pessoas em 150 municípios entre os dias 9 e 16 de maio passado.
Às vésperas das eleições majoritárias, em outubro, a pesquisa revela ainda que a saúde aparece como prioridade máxima para os eleitores (39%), à frente de educação (21%) e do combate à corrupção e ao desemprego (14% cada). Mesmo concentrando a atenção dos brasileiros, no entanto, o percentual é menor do que em 2014, quando 57% dos entrevistados diziam que a saúde deveria ser a primeira prioridade do governo federal.
O levantamento constatou ainda que a entrada para o Sistema Único de Saúde continua sendo a atenção primária, nos postos de saúde, onde 78% das pessoas disseram ter batido na porta nos últimos dois anos. Consultas com especialistas tiveram 72% de procura, seguido de exames laboratoriais (62%) e remédios gratuitos (52%).
Difícil acesso
Justamente as consultas com especialistas parecem ser o ponto de maior dificuldade da população. Ao responder o questionário, 78% dos usuários disseram considerar “difícil” ou “muito difícil” conseguir consultas com ginecologistas ou oncologistas, por exemplo. A mesma resposta foi dada por 68% das pessoas em relação à realização de cirurgias e por 64% para internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Dos 14 serviços avaliados, o que teve melhor desempenho foi o de vacinas: 87% disseram considerá-lo de fácil acesso.
Na avaliação de Donizete Dimer, coordenador da Comissão Pró-SUS do Conselho Federal de Medicina, os resultados da pesquisa refletem consequências políticas – ou a falta delas – direcionadas à saúde nos últimos anos pelo poder público. “O governo, quando propõe uma medida de contenção de custos, tem como resultado a ineficiência do sistema”, avalia, se referindo à PEC do teto de gastos, que congelou o montante do PIB investido no setor.
O SUS é um sistema que defendemos e acreditamos que é, sim, o melhor para o Brasil. Mas percebemos que os cidadãos identificam o acesso como um grande problema. E eles têm razão. Se a porta de acesso, que é a atenção básica, não for eficiente, tudo se torna ineficiente. Estamos contemplando uma ineficiência.
Donizete Dimer, coordenador da Comissão Pró-SUS do Conselho Federal de Medicina
Ainda conforme o coletado na pesquisa, o maior culpado pela má avaliação do SUS é o tempo de espera para atendimento, considerado longo demais por 24% dos consultados. A escassez de recursos também foi avaliada como ponto crítico por 15% dos entrevistados e 12% acreditam que o sistema é vítima de má gestão por parte dos responsáveis. Para 10%, há poucos médicos.
Quando questionados sobre o que esperam de políticos e administradores, os entrevistados priorizaram o combate à corrupção na área de saúde (26%), seguido da redução no tempo de espera por consultas e procedimentos (18%) e fiscalização do serviço prestado no SUS (13%).
Por outro lado, a oferta de práticas integrativas pelo SUS, ampliada em março deste ano pelo Ministério da Saúde, foi apontada como prioritária por apenas 1% dos entrevistados. Na época, o Conselho Federal de Medicina atacou a medida, justificando gasto desnecessário de recursos com práticas que, conforme argumentam, não têm respaldo científico.