Damar Hamlin: entenda por que atletas jovens podem ter parada cardíaca
Jogador de futebol americano Damar Hamlin está em estado grave após colidir com advsersário e sofrer parada cardiorrespiratória
atualizado
Compartilhar notícia
O jogador de futebol americano Damar Hamlin, de 24 anos, sofreu, na última segunda-feira (2/1), uma parada cardíaca durante um jogo da NFL. Apesar de jovem e saudável, o atleta caiu no chão após colidir fortemente com um adversário e está internado em estado crítico.
A parada cardíaca acontece quando o funcionamento do coração é interrompido, o que resulta na ausência de fluxo sanguíneo circulante. O problema impede que o sangue leve oxigênio para os órgãos vitais e, se não tratada, causa a morte do paciente.
Apesar de o quadro ser mais comum em indivíduos idosos e com vários fatores de risco, a parada cardíaca não é exclusiva de sedentários. O cardiologista Ricardo Teixeira Leal, do Hospital do Coração do Brasil, em Brasília, enfatiza que jovens atletas também podem sofrer com o problema. “Normalmente acontece com pessoas em atividades competitivas que exigem muito”, explica o especialista.
O médico lembra que o caso de Hamlin não é isolado. O jogador de futebol dinamarquês Christian Eriksen sofreu parada cardíaca durante partida válida pela Eurocopa de 2020 contra a Finlândia. O meio-campista, que na época tinha 28 anos, foi reanimado ainda dentro de campo.
Leal explica que pacientes que recebem forte impacto no tórax, como Hamlin, podem sofrer com dois problemas: o comotion cordis e o contusion cordis. “Provavelmente, o que aconteceu com esse paciente foi o comotion cordis. É quando há um impacto forte no coração, normalmente por conta de um acidente automobilístico, quando o volante bate no peito, ou algum esporte que tenha um trauma contundente”, conta o médico.
O abalo que acontece em um momento específico, quando a parte elétrica do coração está suscetível a arritmias, pode mexer com o ritmo dos batimentos, e o paciente pode desenvolver a parada cardíaca.
Já no caso do contusion cordis, acontece uma contusão no miocárdio quando há um impacto forte sobre a musculatura do coração. A batida pode causar dano estrutural no órgão, e as paredes fracas podem causar uma arritmia grave que ocasiona na parada cardíaca.
Doença prévia
No caso de problemas genéticos que podem causar parada cardíaca em jovens saudáveis, Leal aponta há dois tipos de condições: origem anômala da artéria coronária direita e cardiomiopatia hipertrófica.
A primeira é um defeito cardíaco raro, que tem a ver com o trajeto da artéria pulmonar. A doença geralmente é assintomática, mas potencialmente perigosa se não diagnosticada e tratada precocemente. A anomalia pode causar dor torácica, morte súbita, insuficiência cardíaca, síncope, dispnéia, fibrilação ventricular e infarto do miocárdio. Estima-se que cerca de 1,5% da população geral sofra com o problema.
Já a cardiomiopatia hipertrófica tem causa genética hereditária, e causa um engrossamento nas paredes dos ventrículos, as duas câmaras inferiores do coração, que se tornam maiores e rígidas. A condição é causa comum de desmaio, dor torácica, falta de ar e palpitações.
Em atletas acima de 35 anos, o cardiologista alerta ainda para a possibilidade de casos de infarto (a principal causa de parada cardíaca), como aconteceu com o goleiro Iker Casillas, que em 2019, aos 37 anos, precisou ser socorrido durante treinamento. “O infarto pode ter ligação com placas de colesterol associadas ao componente genético. A competição exige maior sobrecarga, que pode ser fatal”, explica Leal.
Prevenção
O ideal, conforme o médico, é seguir os protocolos internacionais que sugerem exames antes de iniciar as atividades para antecipar o diagnóstico e evitar problemas.
O cardiologista lembra que os protocolos atingiram fama em 2004, quando o zagueiro Serginho, do São Caetano, morreu dentro de campo devido a uma parada cardíaca. “Os clubes grandes tiveram a obrigatoriedade de realizar exames não só para prevenir lesões, mas para evitar casos como esse”, afirma.
Atletas que tiveram parada cardíaca durante o jogo podem adotar algumas medidas para voltar a performar em alto nível. Eriksen, por exemplo, tem o cardiodesfibrilador implantável (CDI), um dispositivo médico colocado no interior do corpo para tratar graves arritmias.
É importante, segundo Leal, saber quais são os sinais de alerta para identificar se alguém está sofrendo a parada cardíaca e disponibilizar atendimento médico o mais rápido possível. “Tempo é músculo. Quanto mais tempo eu perco, mais músculo morre”, enfatiza.
Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.