CRISPR: edição genética para tratar anemia falciforme avança
Terapia que permite editar genes para tratar doenças deverá ser usada futuramente também contra o Alzheimer e o câncer
atualizado
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O nome é complexo e a técnica também, mas o CRISPR é uma das apostas da medicina para tratar diversas doenças. Parece coisa de filme, mas a edição genética está cada vez mais perto de se tornar realidade.
Ainda neste ano, o FDA (Food and Drug Administration) deve aprovar o CRISPR para o tratamento da anemia falciforme e, com isso, espera-se que as pesquisas e ensaios clínicos que usam a método para outras doenças, como o Alzheimer e o câncer, avancem.
“O CRISPR pode ser a resposta para o tratamento de várias doenças congênitas“, diz o geneticista Thyago Leal Calvo, PhD em biologia molecular e genômica e especialista na técnica. Ele é pesquisador da iniciativa Ciência Pioneira, criada em parceria com o Idor (Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa) para pesquisas científicas na área de saúde.
Afinal, o que é o CRISPR?
A técnica funciona em várias etapas. Primeiro, o material genético do paciente indicado para o tratamento é coletado. Em laboratório, os cientistas buscam no DNA dele alternativas para curar o problema – é possível ativar ou desativar genes, por exemplo.
O passo seguinte é devolver ao corpo o material genético adaptado para que o organismo passe a funcionar de maneira saudável.
“Gosto de pensar a edição gência com CRISPR como uma árvore de natal bem enfeitada representando o nosso DNA. A técnica permite que a gente mude algumas coisas na decoração, troque alguns globos de lugar, inclua até um novo pisca-pisca, mas a árvore permanece a mesma e não mudamos a estrutura”, exemplifica Calvo.
Em ensaios clínicos, a técnica foi bem-sucedida para o tratamento de diversas doenças, mas é no combate à anemia falciforme, que ela está mais avançada.
Pesquisas avançadas
O médico brasileiro Bruno Solano é especialista em terapia gênica celular. Ele trabalha no desenvolvimento de tratamentos com CRISPR para a anemia falciforme, com o apoio do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Atualmente, Bruno está na Califórnia estudando alternativas para diminuir os custos do uso da terapia gênica que, apesar de comprovadamente eficaz, exige recursos milionários.
“Há anos a ciência sabe que a anemia falciforme é apenas uma letrinha alterada no DNA. Ela provoca a formação de glóbulos vermelhos em formato de foice, os quais não conseguem distribuir o oxigênio corretamente pelo corpo. Quem tem esta doença acaba vivendo até 20 anos menos”, explica Solano.
O CRISPR, no entanto, não altera o nucleotídeo específico ligado à anemia falciforme. Por princípio ético, este tipo de terapia não pode ser feita direto na mutação pelos riscos de se passar a editar genes germinativos.
“No caso da anemia falciforme, o que fazemos é reativar caminhos do DNA que orientam a produção de hemácias com o gene da hemoglobina fetal. Quando somos fetos, produzimos um tipo diferente de hemoglobina em nossos glóbulos vermelhos, que não é afetado pela anemia falciforme. Ao editar o DNA, fazemos o corpo voltar a produzi-los da maneira embrionária”, diz Solano.
O pesquisador é vinculado à iniciativa Ciência Pioneira. Ele atualmente realiza as suas pesquisas no IGI (Innovative Genomics Institute), na Califórnia, e veio ao Brasil nesta sexta-feira (20/10) para participar de um encontro que reuniu representantes duas instituições.
Tratamento caro
A anemia falciforme é uma condição de saúde muito ligada a pessoas com ascendência negra. No Brasil, 1 a cada 650 nascidos vive com essa condição. A maioria desta população, no entranto, tem baixa renda e não poderia pagar pelo CRISPR.
“A técnica se mostrou segura e eficaz para todos os 75 pacientes que participaram dos testes mais recentes. O problema é que essas terapias podem chegar a custar US$ 2 milhões por paciente. Nosso objetivo é desenvolver alternativas mais acessíveis e de menor custo. A maior parte deste preço está vinculada à forma que podemos fazer este DNA voltar ao corpo para ser replicado, então temos nos dedicado a buscar alternativas”, afirma.
Outros usos da CRISPR
Tratamentos oftalmológicos e terapias contra o câncer estão sendo pensadas para ser tratadas com o CRISPR. Também há pesquisas para que a técnica seja aplicada ao Alzheimer.
O pesquisador brasileiro Thyago Calvo tem se dedicado ao estudo da aplicação do método para deter o Alzheimer. “Atualmente os estudos têm sido feitos em animais para simular a entrega de algumas proteínas que são sintetizadas quando nos exercitamos. Sabemos que o exercício físco é importante para atrasar a progressão do Alzheimer. A ideia é que, com essa dose extra de proteínas, o corpo seja equilibrado sem efeitos colaterais”, afirma o geneticista.
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