“Crio minhas filhas para a liberdade”, diz brasiliense trans pai de gêmeas
Inseminação artificial garantiu que homem trans pudesse realizar o sonho de formar uma família com a companheira
atualizado
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As gêmeas Natasha Kiala e Alice Kisola são a alegria do casal de empresários Frederico Sóter, 25, e Elisabeth Sóter, 44, há dois anos. As meninas chegaram para unir ainda mais os dois, que estão juntos desde 2015.
“Tudo melhorou depois que elas nasceram”, relata o pai, orgulhoso. O sonho de formar uma família era mais de Frederico do que de Elisabeth, mas ele acabou convencendo-a.
Para que o desejo virasse realidade, os dois tiveram que recorrer a um procedimento de reprodução assistida. O espermatozoide foi de um doador anônimo, o óvulo veio de Frederico e a gestação aconteceu na barriga de Elisabeth.
O procedimento foi orientado pelo médico Nicolas Cayres, da Clínica Gênesis, para atender às necessidades do casal formado pelo homem trans e pela mulher cis. “A princípio, tentaríamos com os óvulos dela. Mas, ao realizarmos um check-up, percebemos que os dele eram mais viáveis por conta da idade”, relata Nicolas.
Frederico fez a transição de gênero quando tinha 18 anos, antes de conhecer Elisabeth. Para que seus óvulos estivessem aptos à fecundação, ele suspendeu o tratamento à base de hormônios. A gestação da mulher foi bastante tranquila. “Só tivemos aquele susto inicial de nos acostumarmos a dois bebês, mas depois que criamos uma rotina, tudo se acomodou”, conta Elisabeth.
A situação particular do casal – homem trans e mulher cis – gerou alguns comentários iniciais, que foram encarados com elegância pelos dois. “Alguns amigos e conhecidos acharam que ela tinha me traído, mas nós não devemos satisfações a ninguém”, afirma o pai das crianças.
A liberdade e o respeito às opções de cada um são os pontos centrais da maneira como o casal cria as filhas. “Nós chegamos a cogitar dar nomes neutros para elas, mas desistimos da ideia depois”, relata. Natasha e Alice são criadas como meninas, mas os pais tentam não impor a elas comportamentos tradicionais atribuídos ao feminino.
“Elas brincam de boneca, brincam de dinossauro. Estamos tentando ensiná-las apenas a serem pessoas felizes, respeitarem a elas mesmas e aos outros”, afirma Frederico.