Crianças têm baixa taxa de transmissão de Covid-19, aponta Fiocruz
Pesquisa da fundação acompanhou 667 pessoas no município de Manguinhos (RJ), entre maio e setembro de 2020
atualizado
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Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgada, nesta segunda-feira(10/05), indica que as crianças são mais frequentemente infectadas pela Covid-19 por adultos do que atuam como transmissores da doença.
Realizado com 667 pessoas de 259 famílias de Manguinhos (RJ), entre maio e setembro de 2020, o trabalho será publicado na Pediatrics, Official Journal of the American Academy of Pediatrics. Além dos pesquisadores da Fiocruz, participaram do trabalho cientistas da Universidade da Califórnia (UCLA) e da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM).
As informações vieram do acompanhamento de crianças atendidas no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, em Manguinhos. Os cientistas visitaram as residências das crianças e fizeram testes com PCR e sorologia. Adultos e adolescentes que moravam com as crianças também foram testados.
Das 667 pessoas avaliadas, 323 eram crianças (de 0 a 13 anos), 54 adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos. Os testes de 45 crianças (13,9%) deram positivo para o vírus. O estudo mostrou que a infecção foi mais frequente em crianças com menos de 1 ano e na faixa etária de 11 a 13 anos. Todas as crianças haviam tido contato com um adulto ou adolescente com sinais recentes de Covid-19.
Para os pesquisadores, “as crianças incluídas no estudo não parecem ser a fonte da infecção de Sars-CoV-2 e mais frequentemente adquiriram o vírus de adultos”. A pesquisa observou também uma proporção maior de crianças com menos de um ano infectadas, em comparação com outros grupos, o que seria atribuído ao contato direto com as mães.
“A menos que essas crianças fossem portadoras do Sars-CoV-2 por um longo período, nossos resultados são compatíveis com a hipótese de que elas se infectam por contatos domiciliares, principalmente, com seus pais”, diz o artigo.
O estudo foi coordenado Patrícia Brasil, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas. Os pesquisadores defendem que as crianças sejam vacinadas tão logo seja possível.
“Mesmo não sendo as principais fontes de infeção nos domicílios no estudo, é necessário incluir crianças nos ensaios clínicos de vacinação. Se os adultos forem imunizados e as crianças não, elas podem continuar a perpetuar a epidemia. Se no mínimo 85% dos indivíduos suscetíveis precisam ser imunizados para conter a pandemia de Covid-19 em países de alta incidência, esse nível de proteção só pode ser alcançado com a inclusão de crianças em programas de imunização, principalmente no Brasil, onde 25% da população têm menos de 18 anos”.
Os autores ressaltam ainda que os resultados do estudo são referentes ao local e ao período estudado (maio a setembro de 2020, etapa da pandemia em que as escolas estavam fechadas), diferente do cenário atual com nova variante do vírus circulando.