Covid: mais de 60% das reações à vacina são psicológicas, diz estudo
Pesquisadores acreditam que em muitos casos, sintomas pós vacina, como dor de cabeça, fadiga ou náusea, sejam reações da imaginação
atualizado
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A mente humana é capaz de despertar muitos efeitos em nosso corpo, e um estudo conduzido por pesquisadores do Beth Israel Deaconess Medical Center (BIDMC), em Boston, enfatiza isso. Segundo os especialistas, cerca de 64% das reações adversas relatadas por pessoas após a vacina contra a Covid-19 estejam relacionadas a efeitos psicológicos.
De acordo com os cientistas, apesar de sensações de mal estar como dor de cabeça, fadiga ou náusea serem reais em recém vacinados, na maioria das vezes, os sintomas partem da imaginação. Esse fenômeno é conhecido entre a comunidade científica como efeito nocebo, que são efeitos colaterais negativos que ocorrem porque o paciente espera aquela reação.
“Coletar evidências sistemáticas sobre essas respostas nocebo em testes de vacinas é importante para a imunização contra a Covid-19 em todo o mundo, especialmente porque a preocupação com os efeitos colaterais é relatada como uma razão para a hesitação da vacina”, declara Julia Haas, a médica que lidera a pesquisa, ao ScienceAlert.
A conclusão partiu de uma analise com um total de 45.380 pacientes. Desses, 22.802 receberam uma vacina real. Os 22.578 pacientes restantes receberam placebo – substância inofensiva e sem valor terapêutico. Nenhum dos pacientes sabia se recebeu a vacina ou o placebo.
“A reação nocebo foi responsável por 76% dos eventos adversos sistêmicos após a primeira dose de vacina e por 51% após a segunda dose”, escreveram Haas e seus colaboradores.
Em um artigo publicado na revista científica JAMA Network Open, da Associação Médica Americana, os pesquisadores mostram que, em média, 30% da população que se voluntariou para testes das vacinas em 2020 relatou algum tipo de reação ao imunizante, mas muitos desses casos são psicossomáticos.
Efeito placebo vs. efeito nocebo
No caso do efeito placebo, a pessoa acredita que o remédio vai fazer bem, e acaba sentindo alguns benefícios mesmo sem ter, de fato, tomado o medicamento. O nocebo tem o efeito oposto, agravando um sintoma ou doença por conta da expetativa ou antecipação do paciente. Outros estudos já mostram que os dois fenômenos parecem ser independentes do grau de escolaridade ou informação das pessoas, e podem ocorrer com qualquer um.
A equipe garante que é possível tentar evitar que uma pessoa vacinada caia nessa armadilha psicossomática. Os cientistas recomendam que profissionais de saúde e cartilhas informativas avisem sobre essa possibilidade, ao menos no contexto dos testes clínicos.
“Por exemplo, adicionar informação simples e precisa sobre reações nocebo ao procedimento já ajudou a reduzir eventos adversos relacionados a medicação em uma outra população clínica (em um teste de antidepressivos)”, escrevem os cientistas. “Realçar que a probabilidade maior é a de não experimentar eventos adversos também pode ser benéfico.”