Covid longa: estudo relaciona nevoeiro cerebral à falta de serotonina
Pesquisa sugere que o sintoma da névoa cerebral, dificuldade de memória típica da Covid longa, pode ter origem na baixa do neurotransmissor
atualizado
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O nevoeiro cerebral é uma das consequências mais comuns da Covid longa, mas a comunidade científica ainda não conseguiu explicar exatamente por que ele acontece. Uma pesquisa divulgada na última segunda-feira (16/10) na revista Cell por médicos da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, aponta uma possível justificativa para o fenômeno: a baixa na quantidade de serotonina no corpo.
A nova pesquisa apontou que a Covid longa acaba esgotando a serotonina periférica, que circula por todo o corpo e não só pelo cérebro. Para os autores do estudo, essa ausência leva ao nevoeiro cerebral, caracterizado pelos prejuízos na atenção, memória e concentração.
O que é a serotonina?
A serotonina é um neurotransmissor, ou seja, uma substância que regula a comunicação entre um neurônio e outro, e é produzida principalmente no intestino. De acordo com a psiquiatra Danielle H. Admoni, supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM), o receptor tem função sistêmica no organismo.
“Embora seja conhecida como o neurotransmissor do bom humor, a serotonina regula vários outros aspectos: apetite, sono, temperatura corporal, controle da pressão arterial, sensibilidade — todo um universo. Seus níveis baixos alteram o apetite, a capacidade de aprendizado e até o nível de atenção”, explica Danielle.
Segundo os neurocientistas americanos, a redução da serotonina provocada pela Covid-19 seria a melhor explicação para o nevoeiro cerebral, mas também pode ser a raiz de outros problemas enfretados por quem tem Covid longa: por sua atuação sistêmica, a falta da substância poderia causar até problemas cardiovasculares e pulmonares.
Como ocorre o desequilíbrio?
A pesquisa foi feita avaliando os níveis metabólicos de 58 pacientes que tiveram Covid longa, com sintomas que duraram de três a 22 meses após a fase aguda da infecção. Eles foram comparados com 60 pessoas recuperadas da doença sem sintomas.
Os níveis de serotonina em quem teve Covid longa foram, em média, metade do que a dos participantes sem sintomas prolongados. Quanto mais tempo os sintomas de Covid-19 persistiam, menores eram os níveis periféricos de serotonina, descobriu o estudo.
Para os pesquisadores, o que justifica a queda da serotonina é o aumento de proteínas interferon, responsáveis por combater células tumorais e invasoras no cérebro e no intestino.
Um dano colateral do aumento de interferons é que eles acabam atacando também os neurotransmissores. Como é no intestino que a maior proporção de serotonina é produzida, os níveis caem rapidamente.
Os médicos ainda testaram diminuir os níveis de serotonina em camundongos e observaram que os animais sofreram sintomas semelhantes de confusão mental aos descritos pelos pacientes. Isso reforça a teoria de que a origem do problema está na falta do neurotransmissor.
Segundo os pesquisadores, porém, são precisos testes com públicos mais amplos para comprovar a relação de causa-consequência.
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