Covid longa: veja descobertas recentes que explicam a condição
Estima-se que um em cada cinco pacientes infectados pelo vírus continue sentindo os efeitos da Covid semanas depois do fim da doença
atualizado
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Dois anos e meio depois do começo da pandemia de Covid-19 e com grande parte da população já vacinada, a preocupação do mundo vem deixando de ser os casos novos da infecção — que são, em sua maioria, leves — para se concentrar na chamada Covid longa.
A estimativa é que um em cada cinco pacientes que tiveram Covid-19 continuam sentindo sintomas da doença nas semanas seguintes à infecção. Antes de desenvolver remédios para tratar as sequelas – que variam bastante de pessoa para pessoa – a ciência tenta entender por que isso acontece.
Existem três hipóteses principais para explicar a Covid longa. A primeira delas é que, durante a infecção pelo coronavírus, algumas células e tecidos são danificados, o que aumenta as chances de aparecimento de coágulos sanguíneos. Esses coágulos podem acabar entupindo veias e artérias, prejudicando a circulação e causando problemas de saúde ao paciente.
Outra possibilidade é que o coronavírus não desapareça do corpo do indivíduo recuperado, e que continue afetando algumas áreas do organismo mesmo depois que a fase aguda da infecção já tenha passado.
Por último, pode ser que o sistema imunológico “enlouqueça” depois da Covid-19, e as células imunológicas continuem sendo despachadas para lutar contra o vírus que não está mais no corpo. Sem alvo, acabam causando inflamações que causam danos ao organismo.
Alguns pesquisadores acreditam que não há uma única explicação para a Covid longa, e é provável que mais de uma das alternativas acima aconteça ao mesmo tempo. Porém, é difícil provar exatamente o que está se passando no organismo do indivíduo com a condição.
“Considero a Covid longa como uma emergência muito séria”, afirmou a microbiologista Amy Proal, da PolyBio Research Foundation, nos Estados Unidos, em entrevista à revista científica Science.
Coágulos sanguíneos
Várias equipes ao redor do mundo estudam a questão dos coágulos sanguíneos, mas alguns se destacaram até o momento. Uma delas é a do pediatra Danilo Buonsenso, do Gemelli University Hospital, na Itália: desde o começo da pandemia, ele tem acompanhado crianças que tiveram Covid-19 e desenvolveram a Covid longa.
É muito difícil encontrar coágulos escondidos pelo corpo — por isso, o italiano e sua equipe uniram dois exames diferentes para analisar os pulmões de 11 jovens que têm Covid longa considerada severa, com batimentos cardíacos irregulares e falta de ar ao fazer exercícios.
Em seis dos participantes, os pulmões pareceram completamente normais. Mas, em cinco deles, um dos pulmões se mostrou basicamente sem função, indicando pouca circulação sanguínea. Para o médico, pequenos coágulos podem ter causado a situação. Em julho de 2021, a equipe publicou o primeiro estudo sobre o assunto no mundo na revista The Lancet Child & Adolescent Health.
Como não há coágulos visíveis, os cinco pacientes não podem ser tratados com anticoagulantes, que podem causar hemorragias. Porém, os pais desesperados decidiram, junto com Buonsenso, testar o medicamento. As mudanças são visíveis, segundo ele.
Dois dos pacientes refizeram os exames — um deles não teve grandes mudanças, mas o outro está com o pulmão completamente saudável. Os outros três farão exames nos próximos meses. O próximo passo da equipe é começar um estudo clínico com o uso de placebo para saber se realmente o anticoagulante faz a diferença.
Coronavírus residual
No final de 2021, um estudo publicado em pré-print chamou a atenção da comunidade científica. Em uma análise de tecidos de 44 pessoas que tiveram Covid-19 e morreram, pesquisadores encontraram o coronavírus até em cadáveres de pessoas que não apresentaram sintomas ou tiveram apenas casos leves da doença. Foram identificadas partes do Sars-CoV-2 no cérebro, músculos, pulmões e até no intestino dos participantes.
A partir desta informação, outros pesquisadores estão começando estudos para verificar se a presença do coronavírus pode ajudar a explicar a Covid longa. Um dos estudos, realizado na Universidade de Innsbruck, na Áustria, procurou sinais do vírus no intestino em pessoas com doença inflamatória no órgão.
O gastroenterologista Hebert Tilg, a frente do estudo, recolheu amostras de tecido durante exames de endoscopia para analisar a presença do coronavírus e encontrou pedaços do patógeno em todos os pacientes que tinham Covid longa. Os resultados foram publicados na revista científica Gastroenterology em maio.
Sistema imunológico atrapalhado
Em janeiro de 2022, um estudo publicado na revista científica Nature Immunology descobriu que, oito meses depois da Covid-19, pacientes com Covid Longa têm uma quantidade exorbitante de interferons no sangue, a proteína é usada pelo corpo para combater invasores. Os resultados mostram que, apesar de já curado, o organismo continua em alerta.
Os voluntários também tinham uma grande quantidade de células T e B desativadas — as unidades normalmente ficam esperando ativação para lutar contra invasores. Todo o cenário mostrou que as pessoas tinham bastante inflamação no organismo, o que pode levar a problemas de saúde.
Outra pesquisa, feita pelas universidades de Yale e Stanford, nos EUA, descobriu que, em ratos, o cérebro desenvolve inflamação mesmo depois que o vírus desaparece do órgão. O grupo também comparou amostras de sangue de 48 pessoas com Covid longa e 15 sem, e percebeu altos níveis de marcadores inflamatórios entre os que ainda sofrem com os sintomas da doença.
Mesmo depois que a razão por trás da Covid longa for desvendada, ainda será preciso testar medicamentos para tratar a condição, e o processo todo pode demorar. Enquanto isso, o mistério continua.
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