Covid tem impacto no cérebro semelhante à esquizofrenia, diz Unicamp
Pesquisa revela que mecanismo de atuação da Covid-19 no cérebro é semelhante à esquizofrenia e pode acelerar deficiências cognitivas
atualizado
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Um estudo chefiado por brasileiros aponta que a Covid-19 ataca o cérebro de forma muito semelhante à esquizofrenia. A pesquisa mostrou que ambas as doenças aceleram o envelhecimento cerebral e aumentam o risco de diabetes.
A investigação foi conduzida por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Instituto D’Or e do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM) e publicada nesta sexta-feira (19/7) na revista European Archives of Psychiatry.
A ciência já havia observado que pessoas com esquizofrenia tinham risco maior de apresentar a forma grave da Covid-19. Foi justamente para entender essa correlação que os pesquisadores iniciaram o estudo e acabaram descobrindo várias semelhanças entre elas.
Os pesquisadores compararam cérebros de pessoas que morreram de Covid-19 com os de indivíduos que tinham esquizofrenia. Eles identificaram as proteínas presentes nos órgãos dos voluntários, tanto nos de óbitos causados pela doença respiratória como nos de pacientes que tinham o transtorno.
“Nós esperávamos encontrar mais diferenças do que semelhanças, já que uma das condições é uma infecção viral aguda e a outra é uma doença que acontece desde o neurodesenvolvimento, com base genética, mas observamos o contrário”, afirma o pesquisador Daniel Martins-de-Souza, da Unicamp, autor principal do estudo, em entrevista à Agência Bori.
Impactos semelhantes das doenças no cérebro
O pesquisador destaca que ambas as doenças criam estados inflamatórios que aceleram o envelhecimento cerebral e modificam os processos de comunicação do cérebro com o organismo. A longo prazo, essa combinação pode contribuir para deficiências cognitivas e sintomas psiquiátricos.
“A infecção do vírus mostra um potencial de dessintonizar a maquinaria cerebral, deixando a pessoa mais propensa a eventos psiquiátricos e, aparentemente, também aos neurodegenerativos”, completa o autor.
Uma preocupação de Martins-de-Souza é que, em pessoas com esquizofrenia, esses efeitos demoram 20 ou 30 anos para causar os sintomas mais graves de confusão mental, mas a Covid-19 pode fazer isso ocorrer ainda mais rápido. Por isso, os pesquisadores pedem que mais investigações sejam feitas.
O estudo também descobriu que a Covid-19 e a esquizofrenia podem aumentar, de forma semelhante, o risco de diabetes. Elas alteram a forma como o corpo processa os carboidratos, especialmente a glicose, atrapalhando a forma como o organismo controla o quanto de açúcar circula.
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