Covid: três pontos em que a vacinação precisa avançar no Brasil
Apesar da adesão à vacina ter sido massiva, ainda é necessário avançar em questões específicas para garantir a cobertura necessária
atualizado
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Um ano e dois meses após o início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, o país está hoje com cerca de 73% da população totalmente imunizada contra o coronavírus, taxa que o coloca entre as nações do mundo com melhores índices de adesão à vacina.
No entanto, ao detalhar o desempenho do Programa Nacional de Imunização (PNI), é possível perceber que há lacunas importantes a serem preenchidas para criar a barreira de proteção que impeça a circulação do Sars-CoV-2. A realidade das diferentes regiões do país é bastante desigual e há brechas de cobertura vacinal entre as diferentes faixas etárias.
No início da pandemia, acreditava-se que imunizar 70% da população seria o suficiente para frear a transmissão do coronavírus. Estudos mais recentes, com dados sobre as características das variantes em circulação, elevaram esse patamar para 90%, aumentando o desafio das campanhas de vacinação.
Desigualdade entre estados
Na avaliação do pesquisador do Observatório Covid-19 Fiocruz Raphael Guimarães, a vacinação contra Covid-19 escancarou as desigualdades entre estados e municípios.
São Paulo tem mais de 83% da população com o esquema primário de imunização completo – com as duas doses – os estados do Norte do país caminham com taxas aquém do ideal. No Amapá, apenas 45,5% da população recebeu as duas doses. Índices parecidos são verificados em Roraima (47,7%), Acre (56%), no Amazonas (58,6%), Tocantins (58,8%) e em Rondônia (59,2%).
“Temos muitos Brasis dentro do nosso país. Enfrentamos dificuldades de todas as ordens, incluindo as de logística”, afirma Guimarães.
As características geográficas limitam a expansão da cobertura em comunidades mais remotas, de difícil acesso. O Amazonas, por exemplo, tem uma parcela razoável de pessoas vivendo em comunidades ribeirinhas, onde o sistema de saúde não consegue chegar com facilidade.
Também há localidades sem estrutura para armazenar as doses e fazer a distribuição delas adequadamente. “É uma questão crônica. A gente sabe que os estados e municípios têm autonomia, mas é preciso ter uma coordenação nacional”, afirma o pesquisador da Fiocruz.
Procura por doses de reforço
A dose de reforço, considerada essencial para aumentar a proteção contra a variante Ômicron, foi incluída no calendário vacinal em setembro de 2021, sendo ofertada, em um primeiro momento, apenas aos idosos e imunossuprimidos.
Atualmente, todos os adultos e adolescentes com problemas no sistema imunológico estão elegíveis para receber a terceira dose dos imunizantes. No entanto, de acordo com o Ministério da Saúde, mais de 59 milhões de brasileiros ainda não foram aos postos de saúde para o booster.
O levantamento do Executivo foi divulgado na sexta-feira (18/3) e identificou os cinco estados nos quais a situação é pior: São Paulo (15,7 milhões), Minas Gerais (5,3 milhões), Rio de Janeiro (4,9 milhões), Bahia (3,6 milhões) e Paraná (3 milhões).
Uma outra pesquisa, esta feita pela Fiocruz, mostrou que, apesar de a aplicação da dose de reforço seguir em ritmo crescente, nenhum grupo etário alcançou o patamar de 80% de vacinados.
“Nós estamos falando sobre a quarta dose, mas só 30% da população tomou a terceira. Temos que ir atrás dessas pessoas. É óbvio que eu gostaria que a gente fortalecesse a cobertura vacinal, mas eu preciso que todos recebam a terceira dose antes”, avalia o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, fundador e ex-presidente da Anvisa.
Vacinação de crianças
As crianças de 5 a 11 anos foram o último grupo a ser incluído no cronograma de vacinação. Elas representam 10% da população brasileira e são apontadas como peças-chave para levar o país à imunização coletiva.
Até aqui, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, 53,8% das crianças receberam a primeira dose contra a Covid-19 e apenas 6,2% a segunda.
O estado de São Paulo encabeça a lista, com 99,75% das crianças tendo recebido a primeira dose, seguido por Piauí (77,14%) e Ceará (64,81%). No extremo oposto da lista estão Roraima (7,87%), Amapá (15,31%) e Rondônia (20,25%).
Busca ativa
Raphael Guimarães, da Fiocruz, considera inviável, na atual campanha de vacinação, esperar que a população vá até os postos.
É preciso entender as razões pelas quais os diferentes grupos populacionais não estão se vacinando – dificuldade de acesso, de compreensão sobre a importância das vacinas ou influência de fake news, por exemplo –, fazendo recortes por sexo, idade, raça e renda para que seja feita uma busca ativa com campanhas de conscientização efetivas.