Covid-19: sem eficácia garantida, túnel de desinfecção pode causar alergias
A maioria dos produtos utilizados neste tipo de equipamento não foi feita para entrar em contato com a pele e as mucosas
atualizado
Compartilhar notícia
Na busca por uma opção segura para a volta à vida normal, enquanto não há vacina, vários estabelecimentos comerciais instalaram túneis ou cabines de desinfecção nas portas de entrada para matar o coronavírus antes que pessoas infectadas possam ter contato com a população saudável. Porém, não há comprovação científica que essas estruturas funcionem e elas podem fazer mal à saúde.
A ideia é simples: o usuário deve ficar de 20 a 30 segundos em pé dentro da cabine, onde um sanitizante é aplicado em toda a superfície do seu corpo.
Porém, de acordo com uma nota técnica emitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em maio, o equipamento não é recomendado por nenhuma agência reguladora de saúde do mundo. Segundo o documento, o tempo de exposição é muito pouco — alguns saneantes exigem pelo menos 10 minutos de contato com a superfície para serem efetivos.
Além disso, a Anvisa pondera que a utilização deste tipo de estrutura pode dar uma falsa sensação de segurança e, com ela, um relaxamento das práticas de prevenção — é importante lembrar que pessoas contaminadas continuam capazes de transmitir o vírus mesmo depois de passar por essa desinfecção.
Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla), Paulo Enger, alguns dos produtos usados nessa desinfecção, inclusive, foram aprovados para a limpeza de superfícies, e não de pessoas. Por isso, podem provocar reações alérgicas se entrarem em contato com as mãos e mucosas.
“O hipoclorito de sódio, por exemplo, é um produto corrosivo. Pode causar lesões na pele e nos olhos, além de problemas respiratórios. Outros produtos que vêm sendo utilizados, os quaternários de amônio, apesar de não serem corrosivos, podem provocar reações alérgicas. Como temos alertado desde o surgimento dessas estruturas, os produtos saneantes, aprovados pela Anvisa, são, totalmente, seguros, desde que utilizados da maneira correta, ou seja, devem ser aplicados em superfícies fixas e inanimadas, como bancadas, pisos, paredes e objetos, mas nunca diretamente nos seres humanos”, afirma.
José David Urbaez, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, afirma que, se o usuário tiver alguma sensibilidade ao produto, pode até sentir falta de ar. “Não são produtos feitos para serem expostos às vias aéreas, há um risco de prejuízo para as pessoas”, explica. Além disso, ele conta que só a dispersão do saneante não é suficiente para retirar a contaminação: é preciso fricção, esfregar, para matar o vírus. “Esses ‘túneis’ não têm utilidade quando pensamos em medidas de controle da transmissão de Covid-19”, diz.