Covid-19: resposta imunológica pode esclarecer por que homens morrem mais
Pesquisadores identificaram diferenças na maneira como pacientes do sexo masculino e do feminino reagem à infecção
atualizado
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Desde o começo da epidemia de Covid-19, os homens têm sido as maiores vítimas dos casos graves da infecção. No Brasil, 58% dos óbitos são de pacientes do sexo masculino, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com uma pesquisa feita pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e publicada na revista Nature nesta quarta-feira (26/8), a maneira como o organismo se defende de invasões é diferente entre os sexos e, por isso, eles enfrentam mais dificuldades para se recuperar da Covid-19.
A pesquisa, considerada pequena, foi realizada com 17 homens e 22 mulheres com a doença acompanhados em intervalos entre três e sete dias. Pessoas que estavam em ventilação mecânica, ou tomaram remédios que afetam o sistema imunológico, não participaram da amostra. Também foram analisados dados de 59 homens e mulheres.
Os cientistas descobriram que o organismo feminino produz mais linfócitos T, que matam células infectadas e evitam que a infecção se espalhe. Nos homens essa resposta é muito menor e, quanto mais velho, mais fraca.
“Quando eles envelhecem, perdem a capacidade de estimular as células T. Se você olhar para os que realmente falharam em produzi-las, foram os que tiveram pior desenvolvimento da doença”, explicou Akiko Iwasaki, imunologista responsável pelo estudo. O mesmo não acontece com as mulheres – algumas pacientes de 90 anos continuaram criando defesas consideradas “decentes” pelos pesquisadores.
Comparados a pacientes saudáveis, todos os participantes tinham níveis altos de citocinas, as proteínas que estimulam a inflamação do organismo para combater a invasão do coronavírus. Porém, todos os homens e apenas algumas mulheres apresentaram dois tipos específicos de citocina, a interleucina-8 e a interleucina-18. As voluntárias que apresentaram esse quadro ficaram mais doentes.
Segundo os pesquisadores, os resultados mostram que homens, principalmente os acima de 60 anos, dependem mais da vacina para evitar o desenvolvimento da doença. Para os pesquisadores, a informação é relevante, inclusive, para que seja incluída nos testes de imunizações.
“É possível imaginar cenários em que apenas uma dose de vacina pode ser suficiente para alguns indivíduos, talvez mulheres jovens, enquanto homens mais velhos podem precisar de até três doses, por exemplo”, afirmou Marcus Altfeld, imunologista do Heinrich Pette Institute e da Universidade Medical Center Hamburg-Eppendorf, na Alemanha, em entrevista ao The New York Times.
Ainda não está clara a razão pela qual as respostas do corpo são tão diferentes, principalmente em mulheres idosas, que já passaram da menopausa. A explicação para as mais jovens é que talvez o organismo delas esteja mais eficiente para lutar contra infecções que possam contaminar fetos e recém-nascidos.
E esse tipo de defesa não é de todo positiva: mulheres também são maioria entre os pacientes com doença autoimune, quando o sistema imunológico se descontrola e acaba atacando o próprio organismo.