Covid-19: por que modelo coreano é difícil de adotar no Brasil
O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, defende o “isolamento inteligente” com base nas medidas adotadas no país asiático
atualizado
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Em pronunciamento ao lado do presidente Jair Bolsonaro, o novo ministro da Saúde, o médico Nelson Teich afirmou que uma das prioridades no combate ao coronavírus deve ser a testagem da população. Em artigo recente, o médico havia proposto o que chama de “isolamento inteligente”, citando o modelo implantado na Coreia do Sul.
O país asiático é considerado um dos que melhor lidou com a epidemia: desde o primeiro caso, foram registradas 10.613 pessoas contaminadas – dessas, 7.757 já se recuperaram – e 229 morreram. O governo asiático segue atento para evitar que a epidemia volte a se alastrar no país.
Os Estados Unidos e a Coreia do Sul registraram o primeiro caso de coronavírus no mesmo dia, 20/01. Porém, tomaram medidas muito diferentes em relação à pandemia: o país asiático adotou de primeira o isolamento social e apostou na testagem. Em dois meses, os EUA fizeram 4,3 mil testes. No mesmo período, a Coreia fez 275 mil exames. Hoje, o país presidido por Donald Trump é o líder em casos e mortes pelo coronavírus.
“Detectar o vírus em seus estágios iniciais é essencial para poder identificar as pessoas infectadas, e, assim, impedir ou atrasar a disseminação”, afirmou, à CNN, Park Neunghoo, ministro da Saúde do país. “Isso também nos permitiu planejar adequadamente os cuidados de saúde, porque apenas 10% dos infectados precisam de hospitalização”, acrescentou.
Na Coreia do Sul, os testes são gratuitos para quem for encaminhado por um médico,porém, as pessoas que só quiserem ter certeza de que não estão contaminadas podem fazer o exame por um preço acessível. Foi lá que surgiu o teste feito em drive thru, que hoje é adotado em várias partes do mundo.
O governo coreano apostou também na informação por georreferenciamento – o que gerou críticas. A população recebia, em seus celulares, informações sobre vizinhos infectados, mostrando, inclusive, por onde eles andaram, as linhas de trem que tomaram e onde comeram antes do diagnóstico.
Testes
Apesar de ter adotado medidas de distanciamento social, a Coreia do Sul não fechou ruas ou restringiu ostensivamente o movimento da população. Porém, até hoje, todos são obrigados a andar de máscara, tenham ou não sintomas.
O modelo coreano, entretanto, não é fácil de ser adotado em outras partes do mundo. No Brasil, por exemplo, os testes estão em falta e vêm sendo feitos apenas em pessoas que apresentam quadros graves da doença. Até para os profissionais de saúde, que estão na linha de frente do combate, há dificuldade de testagem, o que os obriga a serem afastados devido à falta de um diagnóstico preciso.
Além de o Brasil ser muito maior e menos próspero do que a Coreia do Sul, não possuímos os insumos necessários para produzir os testes em larga escala. É preciso importar os exames, e o mundo inteiro está atrás da mesma coisa – um cenário explicado várias vezes pelo agora ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.
A cultura seria outro impeditivo: os coreanos já enfrentaram duas epidemias sérias: Sars e Mers e, por isso, estão bem mais acostumados ao isolamento social e às medidas de prevenção preconizadas pela OMS.