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Covid-19: logística de imunização pode ser mais complicada do que a vacina

Brasil tem tradição em campanhas vacinais, mas será a primeira vez na história que doses precisarão chegar a toda população

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1 de 1 seringa vacina - Foto: Karl-Josef Hildenbrand/ Picture alliance /GettyImages

Com a compra de vacinas contra a Covid-19 sendo discutida e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) enviando uma equipe para inspecionar fábricas na China, está cada vez mais próximo o Brasil terá acesso à imunização contra o vírus que parou o mundo. Porém, esta é apenas a primeira fase do desafio: falta, agora, garantir que as doses cheguem à população.

“O desafio da logística é maior do que o do próprio desenvolvimento da vacina. No Brasil, temos que imunizar 210 milhões de pessoas. Isso nunca foi feito em lugar nenhum no mundo, nunca tivemos que cobrir uma população inteira. Isso envolve questões muito complexas”, avalia o diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José Davi Urbaez.

Ele afirma que há uma série de fatores que precisam ser decididos antes de começar uma campanha de vacinação deste porte, a começar pelas pessoas que serão imunizadas primeiro — é preciso saber, por exemplo, quantos idosos e pessoas do grupo de risco há em cada um dos 5.570 municípios do país.

Depois, quantos profissionais de saúde serão necessários para aplicar as doses, quantas horas de trabalho esse processo levará, como está estruturada a rede de refrigeradores para manter a vacina na temperatura certa, se há espaço para o armazenamento das doses que serão enviadas, como será o transporte para todos os cantos do país e em que época isso vai acontecer.

Entre as imunizações que o país estuda comprar, a vacina da Pfizer precisa estar a -70 graus célsius, o infectologista explica que não há país no mundo que possua refrigeradores com essa potência para armazenar vacinas.

“Por isso, a empresa está desenvolvendo uma maleta com gelo seco para fazer o transporte. Mas, depois que abrir, tem que aplicar em cinco dias. Há ainda a possibilidade de as doses serem mais eficientes no primeiro dia. Há obstáculos vários a serem contornados”, ensina.

Apesar das dificuldades, Urbaez está otimista e lembra que o Brasil tem o Programa Nacional de Imunização (PNI), referência internacional em logística com 38 mil postos de vacinação ao redor do país. “Se o Brasil sabe fazer alguma coisa, é esse planejamento. Temos a expertise. O PNI já tem todas as informações necessárias”, diz o médico.

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que a vacinação contra a Covid-19 seguirá os trâmites do que já é praticado nas campanhas de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS). “O sistema já está preparado para isso, com toda a expertise conquistada ao longo dos 47 anos do PNI. O Ministério da Saúde enviará as doses aos estados que farão a logística de distribuição em seus municípios. A distribuição será absorvida pela rede de frio nacional, no formato de campanha, conforme realizado tradicionalmente”, escreve o órgão.

A pasta explica ainda que a definição da população-alvo, a estratégia de vacinação, a operacionalização, o controle dos fármacos e a comunicação sobre a campanha de imunização já estão sendo desenvolvidos.

Seringas

Apesar de ainda não se saber como a vacina vai ser apresentada — se em ampolas, ou seringas já prontas (no caso da Coronavac), a indústria de suprimentos hospitalares vem alertando, desde julho, sobre a possibilidade de falta de insumo caso o governo não faça uma encomenda com antecedência.

De acordo com Fernando Silveira Filho, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed), não há nenhuma licitação publicada para a compra de seringas.

“A indústria não tem noção clara de quanto vai precisar fornecer. Para uma campanha de vacinação que pode ter duas rodadas, as fábricas precisam se organizar, tanto em compra de insumos e embalagens quanto na questão do transporte”, explica.

Ele alerta ainda que, se o pedido não for feito o mais rápido possível, a indústria vai ter dificuldades para atender a demanda a tempo. “Se fosse feita a licitação agora, já estaríamos atrasados para entregar no primeiro semestre. Estamos no limite do planejamento para garantir que o produto chegue nos pontos de consumo”, afirma.

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