Covid-19: entenda como foi possível criar vacinas em tempo recorde
O feito científico mais celebrado das últimas décadas foi alcançado graças a investimentos financeiros e conhecimentos prévios
atualizado
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A rapidez sem precedentes no desenvolvimento das vacinas contra Covid-19 é motivo de orgulho não só para a comunidade científica, mas para toda a população mundial. Em menos de um ano do início da pandemia, grandes laboratórios do mundo inteiro trabalharam para criar imunizantes eficazes contra o coronavírus. Ainda assim, há quem ainda fique receoso com a velocidade do processo. Mayra Moura, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que não há o que temer.
Segundo a especialista em tecnologia de imunobiológicos, a produção de qualquer vacina ou medicamento envolve certas etapas que vão sendo feitas uma após a outra, para que não haja o risco de perder o investimento em um produto que não funciona. O que possibilitou que os imunizantes contra a Covid-19 ficassem prontos tão rapidamente foi justamente a possibilidade de realizar as etapas do estudo ao mesmo tempo. “Não houve redução da burocracia, nem aceleramento das etapas. A pandemia tornou mais urgente o processo, o que houve foi a otimização do tempo”, afirma.
O grande aporte financeiro aos imunizantes também foi peça-chave para acelerar a produção dos medicamentos. Mayra Moura explica que, por ser uma vacina de interesse mundial, houve investimentos de governos, laboratórios públicos e privados e mesmo de milionários em pesquisas. “Enquanto os laboratórios estavam avaliando a vacina em animais, já estavam produzindo vacinas para iniciar os testes em humanos. Isso demanda muito dinheiro, pois estamos falando em uma produção em larga escala.”
Outro ponto que trabalhou a favor das vacinas contra o coronavírus foi a tecnologia médica já utilizada na criação de outros imunizantes. “Isso ajuda a acelerar o processo [de criação da vacina] porque usamos um conhecimento prévio”, explica Moura.
A médica destaca que há três vertentes principais de imunizantes. O primeiro tipo é feito com o vírus inativado e atenuado. A abordagem já é usada desde os anos 1980. O segundo seriam vacinas desenhadas com DNA sintético, fruto das pesquisas feitas para a produção de imunizantes contra Sars e Mers, que causaram epidemias em 2002, na China, e em 2012, no Oriente Médio, respectivamente.
A terceira vertente são as vacinas baseadas em mRNA, que usa RNA mensageiro sintético, como o imunizante Pfizer/BioNTech. “Essa é uma tecnologia totalmente inovadora e a grande vantagem dela é justamente a redução do tempo de fabricação da vacina”, completa.
A velocidade das vacinas contra Covid-19 impressionou, mas, segundo Mayra, não existe um tempo pré-determinado para o desenvolvimento de imunizantes. “A vacina mais rápida criada antes dos imunizantes contra a Covid-19 demorou quatro anos, mas isso não quer dizer que é preciso esse tempo mínimo para se criar uma vacina”, ensina.
Rapidez com segurança garantida
Dizer que uma vacina foi aprovada para uso emergencial não significa que os critérios de segurança foram ignorados. Segundo Mayra, o mecanismo já existia antes da pandemia. “Por se tratar de uma crise sanitária mundial, é importante usar esse recurso, mas a qualidade, a segurança e as boas práticas de fabricação continuam sendo avaliadas”, detalha a especialista.
Com a descoberta de novas cepas do Sars-CoV-2, pode surgir a dúvida: se as vacinas produzidas agora não servirem para novas mutações do vírus? Por sorte, segundo Mayra Moura, o coronavírus não tem como característica mutações radicais. “O que pode acontecer é a necessidade de um reforço da vacina porque ainda não se sabe quanto tempo dura da imunização, tanto a desencadeada pelos imunizantes quanto pela infecção natural”.
Para quem ainda está com medo das vacinas pelo tempo recorde de produção, um alento: o medicamento estar pronto não significa que os cientistas vão deixar de monitorar seus resultados. A prática, aliás, vale para qualquer remédio, de acordo com a especialista.