Covid-19: China instala câmeras até dentro da casa de pacientes
Equipamentos estão sendo colocados pelo governo para monitorar quarentena de pessoas confirmadas com a doença
atualizado
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Com o objetivo de monitorar pessoas colocadas em quarentena depois do diagnóstico positivo de coronavírus ou por estarem chegando de viagem, a China está instalando câmeras de segurança na frente das portas dos moradores. Em alguns casos, com a desculpa de “evitar vandalismos”, os dispositivos são colocados dentro da casa dos pacientes por duas semanas.
As informações são da CNN. Segundo a reportagem, as câmeras são ativadas quando a porta se abre – uma luz branca acende, e as imagens são enviadas para a polícia ou para um supervisor do prédio. Em algumas províncias, o equipamento é programado para detectar formas humanas.
Esse tipo de instalação está em uma “área cinzenta” da legislação chinesa sobre privacidade e é difícil comprovar as reações da sociedade, uma vez que as redes sociais são monitoradas pelo governo. Uma das pessoas que falou com a reportagem afirma que foi avisada da instalação de uma câmera e de um alarme na sua porta e “entendia e respeitava completamente a decisão”.
De acordo com o professor Jason Lau, da Universidade Batista de Hong Kong, que é especialista em privacidade, as pessoas na China assumem que o governo já tem muitas informações sobre elas. “Se elas acham que as medidas irão protegê-las e são feitas a partir do interesse público, tentam não se preocupar tanto com isso”, afirma.
Saúde mental
Porém algumas pessoas se revoltam com o sistema de monitoramento. O servidor publico William Zhou, que aparece na reportagem sob um pseudônimo, voltou de viagem e, dias depois, um oficial de polícia foi à casa dele para instalar uma câmera apontando para a porta da residência. O equipamento, entretanto, foi colocado em uma das paredes de dentro.
Indignado, Zhou pediu para retirar a câmera, o que foi negado. Ele ligou para a prefeitura para reclamar e, dois dias depois, oficiais do governo apareceram e solicitaram que ele colaborasse com as medidas. Eles também afirmaram que a câmera só seria ativada caso a porta se movesse e não gravaria áudio ou vídeo, só tiraria fotografias.
O homem conta que a instalação teve um impacto forte em sua saúde mental: ele parou de fazer ligações com medo de estar sendo gravado e passou a ter dificuldades para dormir. Outras pessoas do mesmo prédio também passaram pela mesma situação. Quando a quarentena de Zhou acabou, o governo desinstalou a câmera e deu de presente a ele, que a despedaçou com um martelo na frente dos oficiais.
Questionado pela CNN, o governo chinês não respondeu os pedidos de entrevista.
Privacidade
A China não é o único país que tem tomado medidas polêmicas quanto à privacidade da população para garantir a quarentena. Na Coreia do Sul, os pacientes confirmados são monitorados pelos celulares, e o caminho que percorreram nos últimos dias é divulgado para vizinhos. Na Polônia, a polícia lançou um aplicativo em que as pessoas devem enviar selfies para comprovar que estão em casa.