metropoles.com

“Coronavírus segue nos fazendo de bobos”, afirma pesquisador

Estudo indica que duas novas sublinhagens da Ômicron driblam imunidade de quem já foi infectado. Pesquisador avalia efeitos da descoberta

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Africa Health Research Institute/Divulgação
Alex Sigal isolou variante Ômicron da Covid-19
1 de 1 Alex Sigal isolou variante Ômicron da Covid-19 - Foto: Africa Health Research Institute/Divulgação

Um novo estudo mostrou sinais de uma queda significativa na imunidade de pacientes em relação a duas novas subvariantes da Ômicron – mesmo em pessoas que já foram infectadas com a variante Ômicron “original” do coronavírus. A infecção original deveria dar uma boa proteção extra contra a reinfecção – ou pelo menos era o que se pensava.

A pesquisa se deu dessa forma: primeiro, pacientes foram infectados com a Ômicron original, a BA.1. Em seguida, suas amostras de sangue foram intencionalmente infectadas com as subvariantes BA.4 e BA.5, que são mais recentes.

14 imagens
De acordo com a OMS, variantes consideradas de preocupação são aquelas que possuem aumento da transmissibilidade e da virulência, mudança na apresentação clínica da doença ou diminuição da eficácia de vacinas e terapias disponíveis
Já as variantes de interesse apresentam mutações que alteram o fenótipo do vírus e, assim, causam transmissões comunitárias, detectadas em vários países
Apesar da alta taxa de transmissão, a Ômicron possui sintomas menos agressivos que o coronavírus
Em setembro de 2020, a variante Alfa foi identificada pela primeira vez no Reino Unido. Ela possui alta taxa de transmissão e já foi localizada em mais de 80 países. Apesar de ser considerada como de preocupação, as vacinas em uso são extremamente eficazes contra ela
Com mutações resistentes, a variante Beta também foi classificada como de preocupação pela OMS. Identificada pela primeira vez na África do Sul, ela possui alto poder de transmissão, consegue reinfectar pessoas que se recuperaram da Covid-19, incluindo já vacinadas, e está presente em mais de 90 países
1 de 14

Desde o início da pandemia, dezenas de cepas da Covid-19 surgiram pelo mundo. No entanto, algumas chamam mais atenção de especialistas: as classificadas como de preocupação e as de interesse

Viktor Forgacs/ Unsplash
2 de 14

De acordo com a OMS, variantes consideradas de preocupação são aquelas que possuem aumento da transmissibilidade e da virulência, mudança na apresentação clínica da doença ou diminuição da eficácia de vacinas e terapias disponíveis

Morsa Images/ Getty Images
3 de 14

Já as variantes de interesse apresentam mutações que alteram o fenótipo do vírus e, assim, causam transmissões comunitárias, detectadas em vários países

Peter Dazeley/ Getty Images
4 de 14

Apesar da alta taxa de transmissão, a Ômicron possui sintomas menos agressivos que o coronavírus

Getty Images
5 de 14

Em setembro de 2020, a variante Alfa foi identificada pela primeira vez no Reino Unido. Ela possui alta taxa de transmissão e já foi localizada em mais de 80 países. Apesar de ser considerada como de preocupação, as vacinas em uso são extremamente eficazes contra ela

Aline Massuca/Metrópoles
6 de 14

Com mutações resistentes, a variante Beta também foi classificada como de preocupação pela OMS. Identificada pela primeira vez na África do Sul, ela possui alto poder de transmissão, consegue reinfectar pessoas que se recuperaram da Covid-19, incluindo já vacinadas, e está presente em mais de 90 países

Morsa Images/ Getty Images
7 de 14

A variante Gama foi identificada pela primeira vez no Brasil e também é considerada de preocupação. Ela possui mais de 30 mutações e consegue escapar das respostas imunológicas induzidas por imunizantes. Apesar disso, estudos comprovam que vacinas disponíveis oferecem proteção

NIAID/Flickr
8 de 14

A variante Delta era considerada a mais transmissível antes da Ômicron. Identificada pela primeira vez na Índia, essa variante está presente em mais de 80 países e é classificada pela OMS como de preocupação. Especialistas acreditam que a Delta pode causar sintomas mais severos do que as demais

Fábio Vieira/Metrópoles
9 de 14

Detectada pela primeira vez na África do Sul, a variante Ômicron também foi classificada pela OMS como de preocupação. Isso porque a alteração apresenta cerca de 50 mutações, número superior ao das demais variantes, é mais resistente às vacinas e se espalha facilidade

Andriy Onufriyenko/ Getty Images
10 de 14

Classificada pela OMS como variante de interesse, a Mu foi identificada pela primeira vez na Colômbia e relatada em ao menos 40 países. Apesar de ter domínio baixo quando comparada às demais cepas, a Mu tem maior prevalência na Colômbia e no Equador

Callista Images/Getty Images
11 de 14

Apesar de apresentar diversas mutações que a tornam mais transmissível, a variante Lambda é menos severa do que a Delta, e é classificada pela OMS como de interesse. Ela foi identificada pela primeira vez no Peru

Josué Damacena/Fiocruz
12 de 14

Localizada nos Estados Unidos, a variante Épsilon é considerada de interesse pela OMS. Isso porque a cepa possui a capacidade de comprometer tanto a proteção adquirida por meio de vacinas quanto a resistência adquirida por meio da infecção pelo vírus

Getty Images
13 de 14

As variantes Zeta, identificada no Brasil; Teta, relatada nas Filipinas; Capa, localizada na índia; Lota, identificada nos Estados Unidos; e Eta não são mais consideradas de interesse pela OMS. Essas cepas fazem parte do grupo de variantes sob monitoramento, que apresentam risco menor

Getty Images
14 de 14

Identificada pela primeira vez na França, a Deltacron combina características das mutações Delta e Ômicron. Segundo a diretora da OMS, Maria Van Kerkhove, ainda não há evidências de que a nova variante seja mais grave do que a Delta ou a Ômicron separadamente. Com dois casos identificados no Brasil, no início de março de 2022, a cepa também já foi encontrada em países da Europa e nos Estados Unidos

Getty Images

Os resultados do estudo estão na fase de “pré-impressão”, o que significa que eles ainda precisam ser revisados por pares. Eles também foram baseados em apenas 39 amostras – 24 de pessoas não vacinadas e 15 de pessoas vacinadas com os imunizantes BioNTech-Pfizer ou Johnson & Johnson. Elas haviam contraído covid-19 com a Ômicron original em novembro e dezembro de 2021.

Mas, ainda que o estudo seja preliminar, o pesquisador que liderou os trabalhos, Alex Sigal (foto em destaque), professor de virologia e chefe do Sigal Lab, avalia que podemos estar vendo o início de uma nova onda de infecções.

A DW conversou com Sigal, que chefiou a nova pesquisa em um laboratório de biossegurança em Durban, na África do Sul.

Como podemos estar vendo uma nova onda? Essas variantes são todas sublinhagens da Ômicron e a maioria das pessoas já teve Ômicron.

Alex Sigal: Nós também não esperávamos isso. Acreditávamos que a próxima subvariante seria algo completamente diferente. Mas o vírus continua nos fazendo de bobos com novos truques. Há um par de mutações, e uma reversão para além da sequência ancestral na proteína spike. E aparentemente isso é suficiente para tornar essas subvariantes bem diferentes da Ômicron original. A boa notícia é que elas não são tão diferentes a ponto de alguém que já teve a infecção pela Ômicron BA.1 não apresentar nenhum grau de imunidade, seja vacinado ou não. Mas a imunidade é muito maior quando se está vacinado.

Essas novas sublinhagens estão se tornando ou já são dominantes na África do Sul. Há algo que possa sugerir que a gravidade das infecções aumentou com elas?

Elas têm esta mutação, L452R, que também está na variante delta. E isso demonstra que o vírus infecta de certa forma a nível celular. Talvez isso signifique um aumento na gravidade. Por outro lado, não vemos nenhum sinal disso neste momento. E eu acho que a razão para isso é a imunidade preexistente. A onda Ômicron aqui [na África do Sul], de BA.1, foi grande. E há outras formas de imunidade que compensam quaisquer mudanças que possam tornar o vírus mais severo. Portanto, eu pessoalmente não espero que esta seja uma onda muito severa aqui na África do Sul.

Mas lugares que não têm muita imunidade e que não contam com altos níveis de vacinação podem ter mais problemas. Mas isso ainda é uma incógnita. Acho que, o que quer que aconteça com o vírus, nossa imunidade também está evoluindo e se tornando melhor.

Sabemos que, alguns meses após a infecção, a imunidade começa a diminuir. É possível que a BA.4 e a BA.5 estejam em ascensão porque nossa imunidade está diminuindo − e não por elas serem mais eficientes em escapar de nossas defesas imunológicas?

Não. Elas estão escapando da imunidade anterior. Não há dúvidas quanto a isso. Sim, a imunidade diminui com o tempo. Mas o fato é que essas subvariantes passaram por essas mutações e são capazes de driblar a imunidade anterior. Os anticorpos produzidos pela Ômicron original, a BA.1, não estão reconhecendo as novas subvariantes. A Ômicron original, em si, também não é muito imunogênica. Ela não suscita uma resposta imunológica muito forte. Portanto, a reinfecção pode acontecer mais facilmente.

Mais uma vez, como há seis meses, você se encontra no epicentro do que parece ser mais uma nova onda de covid-19. Qual é a sua mensagem para as pessoas ao redor do mundo?

Antes de mais nada, é claro que espero que ela não vá a outros lugares, mas isso pode acontecer. A variante beta (B.1.351) causou uma onda de infecção muito grande por aqui, mas isso não aconteceu em outros lugares. Por outro lado, a subvariante Ômicron BA.1 começou aqui e foi para todos os lugares. Portanto, há uma boa chance de que isso aconteça.

Minha mensagem é, basicamente, que não se deve ficar muito tenso com isso. Mas, por outro lado, não devemos ser muito complacentes. Precisamos manter nossa imunidade, e a melhor maneira de fazer isso é por meio da vacinação. Mesmo que a vacinação não o proteja de uma infecção, ela protege você tanto do que o infectou como do que pode estar por vir. Portanto, definitivamente algo que vale a pena fazer é ser vacinado. Essa é a nossa melhor ferramenta, a menos que queiramos voltar aos lockdowns. Acho que ninguém mais quer isso.

Penso que a longo prazo haverá melhores vacinas de reforço. Já temos alguns dados de que, se você foi infectado com a variante beta e depois foi vacinado, você realmente tem uma imunidade mais ampla. Você pode enfrentar melhor outras variantes. E agora já estão sendo testadas vacinas de reforço contra a variante beta. Portanto, acho que com o tempo vamos melhorar o tratamento contra o vírus. E as coisas vão ser melhores no sentido de que poderemos viver melhor com ele. Mas talvez não devamos esperar nos livrar dele.

Alex Sigal é chefe do Laboratório Sigal, um projeto conjunto do Instituto de Pesquisa da Saúde da África em Durban, África do Sul, e do Instituto Max Planck de Biologia Infecciosa em Berlim, Alemanha. Ele também é professor na Universidade de KwaZulu-Natal, em Durban.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSaúde

Você quer ficar por dentro das notícias de saúde mais importantes e receber notificações em tempo real?