Conheça a frutosemia: doença que impede o consumo de frutas e legumes
Especialistas explicam sintomas, causas e riscos da doença que também é chamada de intolerância hereditária à frutose
atualizado
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A frutosemia é uma doença genética rara. A condição é causada pela deficiência da enzima aldolase B no fígado, que leva à má absorção da frutose, açúcar natural encontrado em frutas, hortaliças, verduras e mel. O distúrbio também pode se manifestar como resistência à sacarose, chamada popularmente de açúcar de mesa, e ao sorbitol, outro adoçante natural.
Os primeiros indícios da frutosemia surgem entre os quatro e seis meses de vida do bebê, quando se dá, geralmente, o desmame do leite materno e a introdução de alimentos com açúcar natural, como frutas e hortaliças.
Os sintomas da frutosemia são vômitos, mal-estar, diarreia, hipoglicemia, náuseas, inquietação, palidez, sudorese, tremores, letargia, e eventualmente apatia, coma e convulsões. A condição também causa problemas crônicos, uma vez que a quantidade de frutose ingerida silenciosamente danifica a função do fígado e dos rins.
“Tanto o pai como a mãe podem carregar um gene alterado. Para que a doença se manifeste, o paciente deve herdar os dois genes alterados simultaneamente”, afirma a geneticista Ana Maria Martins, do Instituto de Genética e Erros Inatos do Metabolismo (Igem).
De acordo com a médica, os alimentos excluídos da alimentação são açúcar, mel e aqueles que os contenham, além dos adoçantes artificiais e outros produtos com sorbitol ou frutose na composição. Frutas em geral e a maioria das hortaliças também são excluídas.
Arroz, batata e algumas leguminosas são permitidos em quantidades controladas, de acordo com a tolerância individual. Alimentos de origem animal como laticínios, carnes e ovos podem ser utilizados sem restrição, exceto embutidos que contenham frutose e sacarose.
A geneticista ressalta: “Os indivíduos que tiverem sintomas de frutosemia devem fazer um acompanhamento com equipe multidisciplinar, médico e nutricionista especializado, e seguir as orientações de tratamento para evitar possíveis descompensações nutricionais e ter uma evolução satisfatória”.
Drama
A pediatra Andreia Melo percebeu que havia algo de errado com seu filho Davi, de quase quatro meses, quando introduziu suco de frutas na alimentação e o bebê rejeitou. A primeira vez que tomou, ele passou muito mal. Então, a médica voltou para o leite materno, e a criança melhorou.
“Um dia, meu filho tomou 30ml de suco de carambola, que a babá tinha dado a ele, e dormiu. Quando cheguei do trabalho e peguei ele para dar de mamar, começou a convulsionar no meu colo. Entrei em pânico e o levei para a emergência”, relata.
Andreia diz que o instinto de mãe e pediatra dizia que ela precisava fazer um exame para medir a glicose em seu filho. Quando saiu, o resultado estava muito baixo. Depois disso, Davi chegou a ficar internado, mas melhorou.
“Davi recebeu alta da terapia, mas eu sabia que havia algo de errado com ele. Tinha muita dificuldade ao alimentá-lo, ele não aceitava tudo que a gente ofertava, só com muita insistência. Tomava suco forçado, sempre recusava. Basicamente, era o leite materno que o sustentava. Comidas salgadas ele aceitava bem, algumas coisas ele tolerava. Vivia com diarreia, assadura, parado na curva de crescimento e barriga muito grande”, declarou.
Diagnóstico
A solução para o problema de Davi estava em um livro que Andreia ganhou no final da sua graduação. “Descobri dois parágrafos que tratavam da frutosemia, e liguei isso aos sintomas do meu filho”, afirmou.
Após consultar médicos em várias partes do Brasil, a mãe de Davi descobriu que precisava fazer um teste genético (sequenciamento do gene ALDOB) para fechar o diagnóstico. Desde então, Andreia passou a ler o rótulo de todas as comidas, pois até as salgadas tinham frutose, sacarose ou sorbitol.
A experiência com o filho a levou a criar um site sobre frutosemia, ajudando mães, médicos e reunindo pessoas. Depois, veio a ideia de escrever um livro, Quando as Frutas Fazem Mal. publicado em PDF. A obra está disponível gratuitamente para quem quiser ler.
“Hoje, meu filho tem 17 anos. É super controlado e consciente com a dieta. Leva uma vida praticamente normal, vivendo com as restrições dietéticas e repondo as vitaminas que precisa”.