Como se proteger de spray sedativo no carro? Médicos ensinam
A fotógrafa Bruna Custódio, de 32 anos, acusou motorista de um aplicativo de transporte de tentar dopá-la durante uma corrida em São Paul
atualizado
Compartilhar notícia
A fotógrafa Bruna Custódio, de 32 anos, acusou um motorista de aplicativo de ter tentado dopá-la durante uma corrida em São Paulo. Nos últimos meses, relatos semelhantes foram feitos por mulheres de diferentes estados do país.
Bruna contou, via redes sociais, que estava no carro de um motorista da 99 quando começou a se sentir zonza e ficar com a visão turva inesperadamente. O caso teria acontecido por volta das 20h30, quando ela sai do trabalho, na Zona Sul de São Paulo. O mal estar teria começado após ela sentir um cheiro forte vindo do ar-condicionado.
Sintomas assim podem ser provocados pelo uso de solventes como éter, clorofórmio ou metano. Os relatos das vítimas coincidem ao dizer que o cheiro começou após os acusados terem borrifado algo no ar ou ligado o sistema de ar condicionado.
A toxicologista da Rede Dasa, Maristela Andraus, explica que a inalação de produtos químicos tem efeito muito rápido, nos primeiros minutos após a aspiração.
Os solventes agem diretamente no cérebro, com efeitos que passam por quatro fases:
- Excitação, com euforia, tontura, náuseas, tosse e muita salivação;
- Depressão do cérebro, com confusão mental, visão embaçada, dor de cabeça e alucinações;
- Depressão profunda, com redução do estado de alerta, falta de coordenação motora e ocular, reflexos deprimidos e processos alucinatórios;
- Depressão tardia, levando à inconsciência, queda de pressão e convulsões.
“Em geral, os solventes são substâncias altamente voláteis, ou seja, evaporam rápido e por isso são também facilmente inaladas. Se a pessoa estiver em um ambiente pouco ventilado, pode sim sofrer os efeitos relatados (pela fotógrafa)”, afirma a médica.
O neurologista do Hospital Brasília, Thiago Taya, explica que a exposição aos vapores do éter causam sintomas neurodepressores. Eles diminuem a função do sistema nervoso central, que pode gerar uma sonolência e até levar ao coma.
“Substâncias inaladas vão para o sangue rapidamente porque, no momento em que chegam no alvéolo – a subunidade mais importante da via respiratória, onde o oxigênio penetra do sangue diretamente – elas caem diretamente no sangue”, explica o médico.
Como se proteger
Os solventes têm cheiros muito característicos. “O éter é adocicado, não remete a uma substância tão nociva quanto ela é. Já o clorofórmio – chamado de cola de sapateiro, usado como uma droga ilícita – tem um teor químico que o paciente consegue identificar, mas também não é tão desagradável, o que pode facilitar os casos de intoxicação”, afirma Taya.
Os especialistas recomendam que os passageiros deixem a janela aberta durante a viagem para dispersar qualquer substância presente no ambiente.
As máscaras de proteção usadas durante a pandemia também podem ajudar neste sentido, especialmente a N95, que veda a passagem de substâncias.
Desfecho
Segundo a fotógrafa, depois de andar cerca de 2 km desde o ponto de partida, o motorista parou no sinal de trânsito, olhou para o banco de trás e fechou o vidro do carro. Achando toda a situação muito estranha, ela pediu que a viagem fosse interrompida e mandou mensagem para a namorada.
A 99 afirmou, em nota, que bloqueou o motorista do sistema de cadastros da empresa.
Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.