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Como pais podem ajudar filhos a superar o medo da volta às aulas

Nervosismo com o retorno às aulas presenciais é natural, mas pais devem ficar atentos para sintomas de ansiedade

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A volta às aulas presenciais mexeu com a rotina de pais e crianças, que precisam se readaptar à rotina do mundo fora de casa. Para alguns estudantes, o retorno pode ser estressante e até mesmo desencadear um quadro de ansiedade. Por isso, a família deve se envolver para que a transição seja o mais saudável possível.

É natural que crianças e adolescentes fiquem um pouco nervosos, apreensivos ou tenham medo de entrar na sala de aula até a segunda semana, sem que isso traga prejuízos para a vida delas, segundo Penélope Ximenes, psicóloga clínica de crianças e adolescentes, mestre em educação pela Universidade de Brasília (UnB). Mas os pais devem ficar atentos para perceber se esses sintomas diminuem gradativamente ou permanecem.

“Se na segunda-feira a criança chorou para ir a escola, a mão ficou gelada e ela teve taquicardia, mas na sexta-feira esses sintomas diminuíram em 50%, significa que essa criança está indo bem. Esses sinais depois de um ano e meio fora da escola são adaptativos e naturais. O esperado é que eles diminuam”, afirma Ximenes.

Quando os sintomas persistem, o quadro pode estar relacionado à ansiedade. A criança demonstra isso com pensamentos negativos, de que nada vai dar certo e que coisas catastróficas vão acontecer, com medo excessivo que prejudica a realização de tarefas do dia a dia.

A psicóloga explica que o cérebro humano é condicionado a fazer várias coisas no decorrer da vida. Desde pequenas, as crianças são acostumadas a ir para a escola com o objetivo de estudar e a casa é associada a um lugar de relaxamento e lazer. Quando são obrigadas a ficar em casa por um longo período, o cérebro precisa se readaptar.

“Por isso a volta às aulas gera uma situação de desconforto. A criança teve um ano e meio para o cérebro se acostumar ao padrão de estudar em casa e agora tem de voltar para a escola. Além disso, a pandemia de Covid-19 gera muita insegurança”, esclarece Ximenes.

A psicóloga sugere algumas estratégias para que o retorno às aulas seja mais saudável para as crianças.

Entenda o que está acontecendo

Existem diferenças entre preocupação, medo e ansiedade. Na maioria das vezes, as crianças sentem medo misturado com ansiedade. A preocupação pode surgir pelo desconhecido. O medo é uma resposta adaptativa natural do corpo, importante para a sobrevivência.

Já a ansiedade é a antecipação de uma ameaça, quando pensamos no futuro de forma catastrófica, ruminando ideias de que coisas ruins vão acontecer ou que nada vai dar certo. “A ansiedade não brota do nada. Ela é uma resposta a uma situação anterior. A insegurança pode gerar como consequência comportamentos de ansiedade”, explica.

Aprender a lidar com sentimentos

A ansiedade é um comportamento aprendido e a criança a assimila por observação dos adultos que estão à volta dela que, geralmente, são seu maior modelo. Então, primeiro os pais precisam aprender a lidar com a própria ansiedade e se perguntar se estão passando medo para o filho ou, até mesmo, uma racionalização desnecessária.

“Os pais têm que olhar para si e fazer uma autoanálise do seu próprio comportamento. Entender se é razoável o que eles estão pensando e como conversar com os filhos”, esclarece a psicóloga.

Incentive a prática de esportes

Praticar um esporte faz a criança se distrair e pensar em outros assuntos além do medo de voltar para a escola. A prática da atividade física, em especial, é positiva porque libera serotonina, noradrenalina e outros hormônios para o cérebro, dando a sensação de bem-estar natural.

“A criança não consegue prestar atenção em duas coisas. Então, se ela está focada no momento presente – praticando o esporte – ela não pensará em coisas catastróficas. Estes sintomas de ansiedade não vão aparecer”, afirma a psicóloga.

Exposição gradual ao mundo

Depois de tanto tempo em casa, é necessário fazer uma readaptação ao mundo externo, mostrando que o ambiente fora de casa também pode ser seguro quando seguimos os cuidados. Quanto mais a criança é exposta de forma segura mais ela tem a percepção de segurança, e os sintomas diminuem de frequência.

Aqui, a psicóloga propõe brincadeiras ao livre, visitas a familiares e também encontros aos finais de semana com um ou dois amigos mais próximos em ambientes abertos e arejados. “Não vai ser igual porque a gente está usando máscara, com medo de tocar nas coisas. Mas tentar voltar à rotina é o melhor remédio para que as crianças tenham a sensação de bem-estar”, explica.

Sinais de alerta

Os pais devem ficar atentos à persistência dos sinais de alerta e procurar atendimento especializado caso eles perdurem por um mês depois do retorno dos filhos para o ensino presencial.

Alguns sintomas são: respiração curta, aperto no peito, tontura, palpitação, dores musculares no pescoço e na cabeça e tremores nas pernas e mãos. Sudorese excessiva, boca seca, dificuldade para engolir, visão borrada ou turva também merecem atenção, bem como relatos de frio na barriga, enjoo ou frequência elevada de idas ao banheiro sem uma condição que justifique.

Choro contínuo para ir à escola, dificuldade de concentração ou para dormir, agressividade e compulsão alimentar também são sinais que merecem atenção. Pensamentos negativos, medo de que coisas ruins aconteçam, medo de morrer e dificuldade para defecar ou urinar na cama devem ser observados com atenção.

Importância de voltar à escola

Na avaliação da especialista, os receios em voltar para a escola estão muito mais relacionados ao retorno à rotina do que ao medo do novo coronavírus.

Estudos publicados ao longo da pandemia mostram que as crianças e os adolescentes tiveram o que os psicólogos chamam de “ganhos secundários” ao ficarem em casa, como passar o dia de pijama, permanecer deitado na cama durante a aula e comer na hora que quiser, por exemplo. A volta para a escola, por outro lado, significa o oposto disso tudo.

Saiba como o coronavírus ataca o corpo humano:

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