Como a diabetes transformou Hugo Almeida em um ultramaratonista
Para alguns, a doença é um sério limitador. Para o ultramaratonista brasiliense, ela foi um incentivo para que ele se dedicasse aos esportes
atualizado
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A ficha ainda não caiu para Hugo Sousa Alves de Almeida, 29 anos. Depois de completar a prova de 100 km da Volta do Lago, realizada em Brasília em 19/05/2019, ele virou um ultramaratonista. Uma categoria de corredores que desafiam o cansaço físico e mental ao se manterem firmes no percurso por horas a fio. No caso de Hugo, foram cerca de 12 horas.
O feito de completar a prova, por si só, é motivo de orgulho. Mas, neste caso, há ainda um outro fator: Hugo sofre de diabetes tipo 1 desde a infância e acredita que a doença foi uma espécie de motivadora para que, desde cedo, ele cuidasse da própria saúde e se dedicasse a atividades físicas. “Eu não me lembro da minha vida sem diabetes, mas vejo a doença como uma vantagem”, explica Hugo, que recebeu o diagnóstico aos 5 anos.
A diabetes tipo 1 é crônica e ocorre quando o pâncreas não produz insulina suficiente ou quando o corpo não consegue mais utilizar de maneira eficaz o hormônio. A doença aparece geralmente na infância ou na adolescência, e o tratamento, com injeções de insulina, precisa ser seguido durante toda a vida. A suplementação é necessária para que a quantidade de glicose no sangue fique regulada.
Para evitar as complicações da doença, Hugo, desde a infância, mergulhou de cabeça em diferentes modalidades esportivas. “Já fiz ginástica olímpica, sou faixa roxa de taekwondo, pratiquei futsal, natação e, por fim, participei durante 10 anos do circuito juvenil de tênis. A corrida é meu esporte há três anos”, conta.
Na corrida de rua, Hugo começou com uma prova de 5 km e, aos poucos, foi aumentando as distâncias. Convidado por um amigo a integrar uma equipe de assessoria de corrida, ele conheceu Fabiano Araújo (@diabetestriathlon), outro atleta amador diabético tipo 1, que estava planejando correr 100 km. No mundo da corrida, qualquer prova acima de 42 km é considerada uma ultramaratona. “Nessa hora pensei: por que só um diabético completando 100 km? Vamos representar melhor nossa comunidade”, afirma, divertido.
Foram cinco meses de preparação, que incluíram consultas regulares com nutricionista, preparador físico, psicólogo e endocrinologista. Hugo conta que os treinamentos para os diabéticos e os não diabéticos são semelhantes, mas alguns ajustes são necessários, como regular a quantidade de insulina a ser administrada durante o esforço físico.
Acostumado com a rotina puxada de um atleta, Hugo a encarou da melhor forma possível. Três dias antes da prova, ele conta que estava bastante ansioso e que o sentimento só passou quando deixou os primeiros quilômetros para trás. “Eu só pensava em curtir cada passo, aproveitar a vista, o nascer do sol”, afirma.
Durante todo o trajeto, Hugo usou uma bomba ligada ao corpo para administrar a insulina de que ele precisa, além de um sensor no braço que, junto a outro dispositivo, monitorava os níveis de glicemia do corpo. “Durante a prova, consumi oito bananas, quatro isotônicos, quatro latinhas de Coca, um sanduíche e 20 géis de carboidrato”, conta.
Apesar de preparado, o corredor teve momentos difíceis. Depois de correr 85 km, o corpo começou a a pesar. “Resisti aos meus últimos 15 km graças ao meu amigo e treinador Marcelo Prata, que me acompanhou de bicicleta durante a prova. Até hoje estou ouvindo a voz dele me incentivando”, brinca.
Para incentivar outros diabéticos a praticarem atividades físicas, Hugo mantém a conta no Instagram @dm1atleta para mostrar a sua rotina de treinos e cuidados com a saúde. “Não tento incentivar as pessoas a correrem 100 km, mas quero incentivá-las a começarem uma atividade. Pode ser corrida, dança, natação, tênis. O importante é estar em movimento”, finaliza.
Para a prova Volta do Lago, 25 pessoas se inscreveram para correr os 100 km correspondentes à ultramaratona, sendo que 21 completaram o trajeto.