Comidas gordurosas alimentam a ansiedade, apontam cientistas
Estudo mostra que alimentos gordurosos afetam microbioma intestinal, provocando maior expressão de substâncias químicas ligadas à ansiedade
atualizado
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Ao final de um dia estressante e cansativo, você se autoriza a comer fast food com a justificativa de que “merece”? Uma pesquisa feita na Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, mostra que esse comportamento pode torná-lo mais suscetível à ansiedade.
A partir de um experimento feito com ratos, os cientistas descobriram que alimentos ricos em gordura alteram o comportamento de bactérias intestinais e, através de um caminho complexo entre o intestino e o cérebro, influenciam a expressão de substâncias químicas cerebrais que alimentam a ansiedade.
Os resultados do trabalho foram publicados na revista Biological Research, em 6 de maio.
Dieta rica em gordura aumenta ansiedade
Para fazer o estudo, os pesquisadores separaram os animais em dois grupos. O primeiro grupo recebeu uma dieta padrão, com aproximadamente 11% de gordura, durante nove semanas. Os demais seguiram uma dieta com 45% de gordura, composta principalmente de gordura saturada de origem animal.
Durante as nove semanas, os pesquisadores colheram amostras das fezes dos ratos para analisar as bactérias do microbioma intestinal. Em geral, uma diversidade maior de bactérias está associada à melhor saúde.
Ao final do período, os animais foram submetidos a uma bateria de testes. Os piores resultados foram observados entre os ratos que seguiram a dieta rica em gordura. Além de ganhar mais peso, eles mostraram uma diversidade significativamente menor de bactérias intestinais.
Eles hospedavam uma quantidade muito maior de bactérias da categoria Firmicutes em relação às bactérias da categoria Bacteroidetes. Essa proporção é associada à dieta industrializada típica e à obesidade, explicou o principal autor do estudo, Christopher Lowry, professor de fisiologia integrativa, em comunicado.
Os ratos do grupo da alimentação mais gordurosa também apresentaram maior expressão de três genes envolvidos na produção e sinalização da serotonina. Os genes tph2, htr1a e slc6a4 foram encontrados com maior foco no núcleo dorsal da rafe cDRD, uma área associada ao estresse e ansiedade.
Lowry explica que, embora a serotonina seja frequentemente considerada uma “substância química do bem-estar”, alguns subconjuntos de neurônios serotoninérgicos podem provocar respostas semelhantes às da ansiedade quando são ativados. A maior expressão de tph2 ou triptofano hidroxilase no cDRD, por exemplo, tem sido associada a transtornos de humor e risco de suicídio em humanos.
“Pensar que apenas uma dieta rica em gordura poderia alterar a expressão destes genes no cérebro é extraordinário. O grupo com alto teor de gordura tinha essencialmente a assinatura molecular de um estado de alta ansiedade no cérebro”, afirma Lowry.
Os pesquisadores suspeitam que um microbioma pobre compromete o revestimento intestinal, permitindo que as bactérias entrem na circulação do corpo e se comuniquem com o cérebro através do nervo vago, uma via que liga o trato gastrointestinal ao cérebro.
Como se alimentar corretamente?
Segundo Lowry, nem todas as gorduras são ruins para a saúde. Gorduras saudáveis, como a presente no peixe, azeite, nozes e sementes, têm função anti-inflamatória e são boas para o cérebro.
Uma dieta balanceada deve incluir uma diversidade de frutas e vegetais e alimentos fermentados para manter o microbioma saudável.
Evite comer pizza e batatas fritas. Se comer um hambúrguer, adicione uma fatia de abacate. De acordo com o professor, pesquisas mostram que a gordura boa pode neutralizar algumas ruins.
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