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Com pandemia, número de mortes deve superar o de nascimentos no Brasil

Até aqui, em abril, foram registradas 32.177 certidões de nascimento e 31.506 óbitos em todo o país, e algumas regiões já têm inversão

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coveiros de cemitério municipal, em goiânia, goiás, enterram vítima de covid-19. rotina cansativa
1 de 1 coveiros de cemitério municipal, em goiânia, goiás, enterram vítima de covid-19. rotina cansativa - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Vivendo o pior momento na pandemia até o momento, com recordes de mortes em 24h quase diários, o Brasil pode, nas próximas semanas, registrar mais mortes do que nascimentos, um sinal de retração da população. De acordo com dados do Portal da Transparência, acessado às 21h do dia 9/4, em abril de 2021, até o momento, foram emitidas 32.177 certidões de nascimento nos cartórios do país. No mesmo período, 31.506 óbitos foram registrados. Em algumas regiões, como a Sudeste, Sul e Centro-Oeste, a mudança populacional já é realidade, e morreram mais pessoas do que nasceram nos nove primeiros dias do mês.

Segundo cientistas da Universidade Federal Fluminense (UFF), a situação tende a piorar e, no final de abril, são esperadas cerca de 5 mil mortes por dia só pela Covid-19. Relatório publicado na terça (6/4) pelo Observatório Covid-19, da Fiocruz, alerta para um nível “crítico” da pandemia. De acordo com os pesquisadores, o vírus continua circulando de forma intensa no território nacional, com aceleração da transmissão.  A taxa de letalidade da Covid-19, que estava por volta de 2% no final de 2020, chegou a 4,2% na semana passada.

“Demograficamente, é como se estivéssemos em um momento de guerra. Temos um número muito grande de mortos por causa da pandemia e uma queda no número de nascimentos”, explica Ana Maria Nogales, do Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinares e do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília (UnB).

A professora ensina que a situação para qual o Brasil caminha nas próximas semanas não é inédita na história: foi registrada em países que sofreram com grandes guerras. A Síria, Ruanda e as nações da Europa durante as guerras mundiais tiveram uma alta muito grande nos óbitos e uma baixa expressiva na taxa de fecundidade. Por aqui, alguns municípios já registram uma contração da população. “É um cenário que nos preocupa, porque a intensidade de mortalidade em alguns locais é muito mais forte e grave do que poderíamos imaginar”, diz.

Essa mudança na balança de nascimentos e óbitos é uma tendência natural em alguns países com uma porcentagem maior de idosos, como Japão e os do Leste Europeu. Porém, a perspectiva é que o Brasil só chegasse a esse momento daqui a 20 anos. O problema maior da mudança inesperada é que quem está morrendo é uma parcela da população jovem, essencial para manter o funcionamento do setor produtivo da sociedade.

Segundo Ana Maria, neste momento, não estão nascendo pessoas suficientes para suprir a demanda de emprego no futuro, e só enxergaremos as consequências dessa mudança a longo prazo. “Não há produção econômica e como sustentar o território dessa forma. A baixa nos nascimentos é uma tendência que já vem de algum tempo, mas no último ano, muitas famílias decidiram postergar o momento de ter filhos diante da situação que estamos vivendo. Ter filhos é pensar no futuro, e muitos estão adiando pela incerteza do momento”, explica a especialista em demografia.

Nos países que sofreram com guerras, também houve a queda na natalidade, mas foi substituída pelo chamado “baby boom”, uma explosão de nascimentos, logo que a situação se reverteu. Porém, não se sabe como a população brasileira vai se comportar quando a pandemia acabar. A professora acredita que a curva deve voltar a apontar para um aumento na população quando a crise for superada, mas provavelmente voltará a cair no futuro.

“O que está em jogo agora é se a sociedade vai retomar o ritmo anterior ou se essa queda vai permanecer. Todas essas questões vão se colocar de maneira mais forte e precisam começar a ser discutidas na agenda política do país”, afirma a professora.

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