Clembuterol: saiba os riscos e as contraindicações do anabolizante
Remédio veterinário usado para tratamento de asma em cavalos passou a ser usado como anabolizante, mas pode ter efeitos até fatais
atualizado
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O clembuterol, uma substância originalmente desenvolvida como broncodilatador para tratar asma em animais, ganhou notoriedade ao ser desviado de seu propósito inicial para se tornar um popular anabolizante para queima de gordura.
Apesar de não ser um esteroide (categoria dos derivados da testosterona), ele atua como agonista beta-2-adrenérgico, abrindo as vias aéreas. O remédio acelera o metabolismo, promovendo a queima de gordura e tem um efeito anabolizante em animais (em humanos, as doses para chegar a este efeito seriam fatais).
A popularidade do clembuterol para queimar gordura e ganhar massa contrasta com os danos irreversíveis que pode causar ao coração, alertam especialistas. O uso estético está associado a graves riscos à saúde, incluindo taquicardia, arritmias cardíacas e, em casos extremos, morte súbita.
O que é o clembuterol?
Ao contrário da maioria dos anabolizantes, que derivam da testosterona, o clembuterol imita um outro hormônio: a adrenalina. Sua função é de dilatar os vasos sanguíneos e as vias aéreas para melhorar a respiração, o que consequentemente aumenta a oferta de oxigênio para os músculos e melhora seu rendimento esportivo.
Ele é usado oralmente, geralmente em gotas, ou em versões injetáveis. Por não ter testosterona e seus consequentes efeitos (engrossamento de voz, crescimento de pelos, etc.), passou a ser muito usado por mulheres.
Para que foi criado e quando?
Segundo o médico esportivo Alberto Pochini, editor-chefe da Revista Brasileira de Medicina Esportiva, o clembuterol foi amplamente usado na década de 1970 como tratamento respiratório para pessoas com asma, mas seus efeitos colaterais levaram a uma restrição do uso. A dosagem sugerida era muito baixa, de cerca de 0,05 mg/dia, mas fisiculturistas costumam tomar uma quantidade até 10 vezes maior em busca dos efeitos termogênicos.
Tem registro na Anvisa? Para que tipo de uso?
No Brasil, ele não é aprovado para consumo humano de nenhuma natureza. Seu uso é veterinário, especialmente para tratamento da asma em cavalos. É através dessas receitas que a maioria dos fisiculturistas adquire a substância de forma ilícita para uso pessoal. No mercado clandestino, frequentemente o clembuterol apresenta adulterações que aumentam ainda mais sua toxicidade.
Quais os efeitos?
Ao simular os efeitos da adrenalina, o clembuterol causa um relaxamento bronquiolar, aumentando a capacidade de absorção de oxigênio. Ele também bloqueia a ação das histaminas, diminuindo as respostas alérgicas do organismo e aumentando a frequência de batimentos cardíacos, efeitos semelhantes, mas mais intensos, do que os remédios usados por asmáticos.
Os fisiculturistas, porém, não buscam o remédio para melhorar a respiração, mas sim por seu efeito de queima de gordura e aceleração do metabolismo.
“Embora ele intensifique a lipólise, ou seja, a queima de gordura, não promove ganho de massa muscular. Mas como ele tampouco ataca a massa magra durante o processo de emagrecimento, o clembuterol acabou sendo muito usado por atletas que querem secar”, explica Pochini. No entanto, ele enfatiza que os benefícios estéticos vêm acompanhados de uma lista assustadora de efeitos colaterais, desde tremores e insônia até o crescimento descontrolado do coração.
Quais são os riscos do uso?
Clayton Macedo, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP), ressalta o perigo cardíaco do uso do clembuterol, que pode ser até fatal. “Ele simula a adrenalina, aumentando significativamente o risco de arritmias. Seu uso crônico pode causar danos irreversíveis às fibras do coração, levando à hipertrofia e, em casos extremos, falência cardíaca”, alerta.
O médico também destaca que, apesar de ser popular entre atletas em fase de pré-competição, o clembuterol está frequentemente envolvido em casos de morte súbita. Por simular os efeitos da adrenalina, ele também pode instigar crises de ansiedade, agressividade, agitação e diminuir a capacidade de tomar decisões racionais.
Os danos do clembuterol não se limitam ao sistema cardiovascular. Além de acelerar o ritmo cardíaco, ele provoca ansiedade, tremores e cãibras musculares. O uso prolongado, conforme apontado por Pochini, pode causar fraqueza muscular significativa e insônia crônica.
A substância também é viciante para o organismo, tornando o funcionamento das vias respiratórias dependente de sua função, o que pode levar a problemas respiratórios crônicos, como a falta de fôlego.
Os especialistas são unânimes: não há caminho seguro para o uso estético do clembuterol. Mesmo em pequenas doses, a substância coloca o coração sob intensa pressão, aumentando o risco de lesões cardíacas graves e de danos às fibras do órgão.
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