Cientistas localizam área do cérebro ativada ao estimular o clitóris
O experimento estimulou o clitóris de 20 mulheres adultas enquanto seus cérebros eram mapeados por meio de ressonância magnética funcional
atualizado
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Um novo estudo científico publicado na revista científica JNeurosci nessa segunda-feira (20/12) mostrou pela primeira vez, com precisão, a localização exata no cérebro que é ativada ao estimular o clitóris. Especialistas observaram que a região cerebral de mulheres que relataram ter relações sexuais com frequência são mais responsivas ao toque genital do que as que fazem menos sexo. O experimento estimulou o clitóris de 20 mulheres adultas enquanto seus cérebros eram mapeados por meio de ressonância magnética funcional (fMRI).
Os resultados podem ser usados no futuro para direcionar tratamentos para pessoas que foram sobreviveram a violências sexuais ou têm disfunção sexual. Porém, os autores esclarecem que o artigo não responde a perguntas como se um maior desenvolvimento da área cerebral dedicada à estimulação genital torna as mulheres mais sensíveis ao toque, ou se estimula mais relações sexuais.
“É um assunto que não se estuda muito. Estamos pesquisando como os órgãos genitais femininos são representados no córtex somatossensorial em humanos e se ele tem a capacidade de mudar em relação à experiência ou uso”, declara a médica coautora do estudo Christine Heim, em entrevista à AFP.
O córtex somatossensorial é responsável por receber e processar informações sensoriais de todo o corpo. Cada parte do corpo corresponde a uma área diferente do córtex, formando um mapa representacional. Para descobrir qual é a parte correspondente ao clitóris, foram analisadas voluntarias com idades entre 18 e 45 anos consideradas com boa saúde.
Um pequeno objeto redondo projetado especificamente para estimular as mulheres foi aplicado por cima da roupa íntima na altura do clitóris. Jatos de ar faziam a membrana do dispositivo vibrar ligeiramente. Elas foram estimuladas oito vezes por 10 segundos cada vez, intercalados com 10 segundos de repouso. O mesmo dispositivo foi usado nas costas da mão direita como um controle. O método foi projetado para ser “o mais confortável possível”, disse o neurologista John-Dylan Haynes, coautor da pesquisa.
Os resultados das imagens cerebrais confirmaram que o córtex somatossensorial representava os órgãos genitais femininos próximos aos quadris, exatamente como ocorre nos homens, mas a localização precisa variava para cada mulher testada. Os pesquisadores então investigaram se essa área tinha características diferentes dependendo da atividade sexual.
As 20 mulheres foram questionadas sobre a frequência das relações sexuais durante o último ano, bem como o início da vida sexual. Em seguida, para cada um dos casos, os cientistas determinaram os dez pontos mais ativados no cérebro durante a estimulação e mediram a espessura dessas áreas. Eles descobriram que quanto mais sexo a paciente fez, maior é a região.
“Encontramos uma associação entre a frequência da relação sexual e a espessura do campo genital mapeado individualmente”, disse Heim.
Estudos anteriores apontam que quanto mais a parte do cérebro é usada, maior ela se torna: isso é conhecido como plasticidade cerebral. Contudo, um outro estudo de Christiane Heim, realizado em 2013, mostrou que as pessoas que sofreram violência sexual traumática tiveram um afinamento das áreas cerebrais dedicadas aos órgãos genitais. Ela espera que sua pesquisa ajude a desenvolver futuras terapias destinadas a reabilitar esta região entre os sobreviventes de abuso.