Cientistas identificam enzima ligada à depressão em mulheres
Pesquisadores da Universidade de Wuhan descobriam que a enzima a 3β-HSD está ligada à depressão em mulheres em fase reprodutiva
atualizado
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Em novo estudo publicado na revista Cell Metabolism no dia 17 de março, cientistas da Universidade de Wuhan, na China, relatam que uma única enzima pode ser a responsável pela depressão em algumas mulheres que estão em fase reprodutiva.
Levantamentos anteriores já revelaram que existe uma interação entre hormônios, intestino e uma mente saudável. Na pesquisa, os autores revelam ter descoberto uma enzima responsável por ligar esses três pontos, causando a depressão: a 3β-HSD.
Hormônios e depressão
Há mais de um século, a ciência relaciona os níveis de estradiol a quadros de depressão em mulheres férteis. Quedas naturais do hormônio durante a menopausa e no puerpério estão ligadas a mudanças negativas de humor, por exemplo.
O estradiol é produzido nos ovários e é responsável por algumas tarefas, como a regulação do ciclo menstrual. Ele é metabolizado no fígado e passa para o intestino antes de ser parcialmente reabsorvido pelo organismo e voltar para a corrente sanguínea.
Os pesquisadores estudaram a ação do estradiol no intestino comparando o soro sanguíneo e o microbioma fecal de 91 mulheres com depressão e 98 sem a condição. Todas elas tinham idades entre 18 e 45 anos.
Eles adicionaram estradiol às amostras de microbioma fecal das mulheres com depressão e perceberam que, passadas duas horas da adição, houve uma degradação de 78% do hormônio. Já para as mulheres sem depressão, esse declínio foi de apenas 20%.
Os cientistas transplantaram também o microbioma fecal de cinco mulheres com depressão em camundongos. Eles observaram uma queda de 25% nos níveis do estradiol no soro sanguíneo, em comparação a um grupo de controle.
Em seguida, para detectar e isolar o microrganismo responsável pela degradação, os pesquisadores colocaram as amostras do microbioma das mulheres com depressão em uma placa de ágar e as alimentaram apenas com estradiol. Após duas horas, mais de 60% do hormônio foi degradado em estrona e eles identificaram o microrganismo: uma cepa de bactérias denominada Klebsiella aerogenes TS2020.
“Esses resultados mostram que K. aerogenes TS2020 pode reduzir o nível sérico de estradiol em camundongos e induzir comportamentos do tipo depressivo”, afirmaram os pesquisadores.
Descoberta da enzima
Os cientistas observaram ainda que o K. aerogenes age convertendo o estradiol em estrona com uma enzima denominada de 3β-HSD. Quando acrescida ao microbioma intestinal e “injetada” em camundongos, a substância causou uma queda de estradiol e o surgimento da depressão. Os ratinhos apresentaram também níveis mais baixos do estradiol em seus cérebros, inclusive no hipocampo – região conhecida por estar fortemente associada à doença.
Já o hormônio dado isoladamente aos camundongos do grupo de controle não surtiu efeitos depressivos, o que descarta a possibilidade do excesso de estradiol causar depressão.
“Acreditamos que a K. aerogenes nas fezes não é a única bactéria intestinal que pode produzir 3β-HSD. Nossos dados de sequenciamento metagenômico mostraram que as bactérias Bacteroides thetaiotaomicron e Clostridia possuem 3β-HSD. No entanto, pode haver outras bactérias produtoras de 3β-HSD abaixo do limite de detecção do sequenciamento metagenômico”, pontuam os cientistas, que sugerem outros estudos para mapear novos microrganismos fabricantes da enzima.
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