Cientistas descrevem doença causada pela ingestão de plástico em aves
Pesquisadores analisaram as carcaças de dezenas de aves australianas e encontraram pedaços de plástico em 90% dos animais
atualizado
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Cientistas da Austrália e do Reino Unido descreveram, pela primeira vez, uma doença causada pela ingestão de plástico em aves. A plasticose, como foi nomeada a condição, foi identificada em pássaros cagarros, e é responsável por cortes internos no organismo dos animais, causando a formação de tecido cicatricial grave.
O tecido cicatricial nada mais é do que uma cicatriz que se forma para reparar o local lesionado. Porém, em excesso, o quadro pode causar uma doença chamada fibrose, que pode impedir a função dos órgãos, levando-os à falência. O plástico também pode bloquear, causar feridas e perfurar o trato digestivo, além de reduzir o apetite do animal a ponto de ele morrer de fome.
O estudo foi publicado no começo de março na revista científica Journal of Hazardous Material. Os pesquisadores analisaram as carcaças de dezenas de aves mortas e encontraram microplásticos afiados, com cerca de cinco milímetros de tamanho. Segundo o artigo, o estômago das aves estava protuberante e a ponto de romper — foram encontrados 202 pedaços de plástico no total.
“Este estudo demonstra claramente a capacidade do plástico de induzir diretamente a formação de tecido cicatricial grave em animais selvagens de vida livre, o que provavelmente é prejudicial à saúde e à sobrevivência individual”, destaca a pesquisa.
Poluição plástica
Os cagarros são aves que vivem na ilha Lord Howe, que fica a aproximadamente 600 quilômetros da costa leste da Austrália. Apesar da considerável distância da civilização humana, alguns filhotes da espécie morrem em decorrência do descarte incorreto de plástico.
A cada outono, filhotes mortos se espalham pelas praias da ilha e, há anos, os cientistas analisam o porquê. “Esta espécie é fortemente impactada pela poluição plástica, com aproximadamente 90% das aves necropsiadas contendo plásticos ingeridos”, descreve o estudo.
Consequências
As consequências da ingestão de plástico podem não ser as mesmas para todos os animais, mas dada a proporção em que se usa o material, há motivos para se preocupar com, por exemplo, o desequilíbrio ecológico. O processo em cadeia pode diminuir drasticamente o número de aves, impactando na sobrevivência de seu predator, que, por sua vez, impacta na vida de outra espécie.
À medida que o consumo de plástico continua a crescer e a poluição piora cada vez mais, é inevitável que, em breve, animais de todas as espécies sejam expostas ao material.
Acredita-se que a poluição plástica afete mais de 1,2 mil espécies marinhas em quase todos os níveis da cadeia alimentar, mas os cientistas ainda não sabem qual o impacto que fibras e fragmentos sintéticos ingeridos ou inalados têm na saúde animal.
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