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Cientistas descobrem como evitar que sentimentos desencadeiem doenças

Cólicas intestinais e idas indesejadas ao banheiro fazem parte da lista de incômodos gerados a partir dessas sensações

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mulher com dor no estômago
1 de 1 mulher com dor no estômago - Foto: Getty Images

Um estudo realizado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Israel e publicado na revista científica Cell, ajuda a entender como sentimentos e preocupações desencadeiam doenças nas pessoas e como evitar que essa relação ocorra. Cólicas intestinais e idas indesejadas ao banheiro fazem parte da lista de incômodos gerados a partir dessas sensações, por exemplo.

De acordo com o artigo, isso acontece porque o córtex insular (área do cérebro) armazena um tipo de memória e, mesmo sem estímulos externos, dispara sinais para que o corpo apresente uma resposta inflamatória.

A inflamação é um mecanismo de defesa, uma espécie de sirene bioquímica para que o corpo produza proteção capaz de combater invasores ou inicie reparo de lesões. Geralmente, a inflamação pode ser notada por alguns sinais, como vermelhidão, inchaço, temperatura local elevada, dor e perda de função da área ou órgão afetado. Mas nem sempre esse tipo de resposta é desejada, como no caso de algumas doenças inflamatórias que têm um gatilho baseado em pensamentos e no estado psicológico da pessoa.

As doenças escolhidas para o experimento serviram para mapear como o córtex insular codifica e armazena os sentimentos. A estratégia para entender como isso funcionava foi usar “etiquetas moleculares”, capazes de denunciar o comportamento dos neurônios durante os eventos inflamatórios suscitados pela aplicação de substâncias químicas. Os autores explicam que a pesquisa ajuda a expandir o conceito tradicional de memória imunológica.

“Sabemos que muitas doenças se desencadeiam a partir de um gatilho emocional, e há evidência de doenças psicossomáticas em todo lugar, mas nós não entendemos como acontecem. Por essa razão, temos pouca habilidade em lidar com elas. O entendimento que surge a partir do nosso estudo abre uma nova possibilidade terapêutica, e até mesmo uma potencial cura, ao inibir essa atividade do córtex insular”, explica a cientista Asya Rolls à Folha de S.Paulo.

A colite (inflamação no intestino grosso), assim como outras doenças do trato digestivo, possui um forte componente psicossomático, e por isso foi escolhida pelos autores do estudo como modelo experimental em camundongos.

“Sabemos que muitas doenças ligadas ao aparelho digestivo são muito sensíveis a gatilhos emocionais, por isso escolhemos a colite. Também estudamos a peritonite [inflamação do peritônio, estrutura que encobre os órgãos abdominais] como forma de entender quão específica é essa ‘memória imunológica’ do cérebro”, conta a Rolls.

O desafio para os pesquisadores é compreender a vantagem evolutiva de termos um “software neurológico” que consegue reduzir doenças inflamatórias. Uma possibilidade seria a capacidade do organismo de antecipar um estímulo, preparando o corpo para o que vem a seguir, com base em pistas ambientais, como odores e imagens. Por outro lado, isso pode levar a situações indesejadas, como reações alérgicas, estomacais e intestinais nos momentos mais inconvenientes.

Segundo Rolls, o plano dos autores agora é entender melhor o que compõe essa memória neural da inflamação, o que faz uma memória ser mais neurologicamente armazenável do que outra, e se outras áreas do cérebro também estão envolvidas.

“Não podemos capturar certos aspectos psicológicos em modelos animais, e por isso é importante avançarmos para estudos em humanos. Assim entenderemos, com base no que já descobrimos, se é possível atenuar essas doenças a partir da inibição da atividade cerebral”, afirma a pesquisadora.

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