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“‘Chip da beleza’ acabou comigo”, relata professora que usou implante

Nessa 6ª, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso e a venda de implantes hormonais conhecidos como “chips da beleza”

atualizado

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Reprodução/Acervo Pessoal
Foto mostra a professora Sônia Damico, que usou o chip da beleza e teve muitas complicações de saúde relacionadas a esse uso
1 de 1 Foto mostra a professora Sônia Damico, que usou o chip da beleza e teve muitas complicações de saúde relacionadas a esse uso - Foto: Reprodução/Acervo Pessoal

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou, nesta sexta-feira (18/10), a suspensão da venda e do uso de implantes hormonais manipulados, conhecidos como “chips da beleza”.

Os itens se tratam de implantes injetáveis de hormônios, em geral derivados da testosterona, que prometem benefícios às mulheres – desde ganhos de massa magra ao controle dos sinais da menopausa.

Justamente para tentar melhorar o sono, que havia sido afetado durante a menopausa, que a professora de 59 anos Sônia* (foto em destaque) decidiu começar a usar um dos implantes.

“Tenho duas amigas que haviam feito [o procedimento] e, para elas, tudo tinha sido maravilhoso. Acabei influenciada e busquei implantar o chip. Mas, desde o primeiro dia que aquele grãozinho de arroz entrou no meu corpo, eu me arrependi”, relatou.

Consequências do implante

A educadora colocou o “chip da beleza” em janeiro de 2023, com uma ginecologista, meses antes de o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibir o uso do item. O dispositivo foi inserido sob a pele do glúteo da paciente, com anestesia local. Contudo, Sônia relatou que havia ido àquela primeira consulta pensando que apenas faria exames para “personalizar” o implante.

Após o procedimento, a professora começou a sentir dores e a perceber inflamações. Ela precisou usar antibióticos por duas semanas para controlar o quadro, mas a vermelhidão persistiu, e o mínimo toque na área onde ficava o chip a fazia sentir fortes dores.

Exames posteriores revelaram que a cápsula estava sendo bem absorvida pelo organismo da paciente e que o problema era, na verdade, a quantidade de hormônios implantados em Sônia.

“Minha voz mudou. Como sou professora, tinha de falar aos alunos que estava gripada sempre. Meu rosto se encheu completamente de acne. Nem tenho fotos desse período por causa do tanto que aquilo afetou minha autoestima. Meu sono, que era o motivo pelo qual comecei a fazer o tratamento, nunca foi pior em toda a minha vida”, detalhou.

Sônia chegou a tomar uma segunda dose de hormônios para tentar controlar os efeitos do “chip da beleza”, mas a situação só se normalizou por volta de outubro, pois o dispositivo costuma liberar os derivados de testosterona, além de estrogênio e progesterona no organismo durante, no máximo, seis meses.

Atualmente, a professora faz tratamento apenas para reposição de estrogênio, acompanhada por médicos. “Gastei muito dinheiro e perdi quase um ano inteiro da vida por um tratamento que prometia ser uma pílula mágica”, criticou.

Imagem mostra mão com luva segurando um pedaço fino e pequeno de plástico, o chip da beleza - Metrópoles
Implante foi proibido pela Anvisa e estava na lista de dispositivos desaprovados pelo CFM desde 2023

Anvisa proibiu uso do chip da beleza

Além disso, as consequências do uso dessa terapia hormonal não comprovada cientificamente poderiam até ser mais graves do que aquelas que afetaram Sônia. A Anvisa também divulgou que o uso dos dispositivos levou mulheres a complicações graves de saúde, como a ter aumento do risco de acidente vascular cerebral (AVC).

“Esses implantes levaram à elevação de colesterol e triglicerídeos no sangue (dislipidemia), hipertensão arterial, acidente vascular cerebral e arritmia cardíaca. Além disso, também pode ocorrer crescimento excessivo de pelos em mulheres (hirsutismo), queda de cabelo (alopecia), acnes, alteração na voz (disfonia) insônia e agitação”, alertou a agência nacional ao fazer a proibição dos chips.

A restrição, porém, não tranquilizou Sônia. “Tenho várias amigas que seguem colocando o implante, mesmo sabendo das consequências possíveis e do que aconteceu comigo. Temo que, sem incentivar a educação e a informação, várias mulheres continuem a se submeter às doses-padrão, mesmo que [o item seja obtido] no mercado ilegal”, concluiu a professora.

*A entrevistada pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome

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