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Coronavírus: cardiologista esclarece potencial dos remédios mais comentados

Diretora da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Ludhmila Hajjar, detalha quais são os tratamentos mais promissores contra a Covid-19

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1 de 1 Doutora Ludhmila-Hajjar-capa - Foto: Cortesia

Desde que os primeiros casos de Covid-19 surgiram no mundo, muito tem se falado sobre remédios que já estão no mercado e podem servir tanto para impedir a contaminação pelo novo coronavírus como para evitar que os pacientes cheguem ao estágio mais avançado da doença.

Diretora de Ciência, Tecnologia e Inovações da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a médica Ludhmila Hajjar tem acompanhado o assunto de perto – seja lendo as publicações científicas, seja atuando como intensivista da Rede D´Or. Em entrevista ao Metrópoles, ela rejeita o uso de substâncias que ainda não tem eficácia comprovada pela ciência e esclarece as principais dúvidas sobre o tratamento da doença que surgiram ao longo dos últimos seis meses.

Pacientes hipertensos têm mais chances de serem infectados pela Covid-19 ou correm maior risco de agravamento caso sejam contaminados pelo novo coronavírus?
O paciente hipertenso não tem mais chance de ser contaminado. Mas uma vez infectado, ele tem a chance de ter a forma mais grave (da Covid-19), com o índice maior de mortalidade. Isso porque qualquer doença do coração deixa o organismo do paciente mais suscetível a complicações frente a uma infecção viral.

Remédios anti-hipertensivos facilitam a entrada do novo coronavírus no pulmão?
No início da pandemia, houve uma hipótese de que os medicamentos anti-hipertensivos das classes ECA (enzima conversora de angiotensina) e  BRA (bloqueador de receptor da angiotensina) – Enalapril, Lisinopril, Losartan, Valsartana e Telmisartan – poderiam facilitar a entrada do novo coronavírus no pulmão. Mas, comprovadamente hoje, nós sabemos que não é verdade.

Os pacientes hipertensos devem suspender ou trocar o remédio usado no tratamento diário?
Todos nós recomendamos que os pacientes hipertensos em uso dessas medicações continuem usando. Não há nenhum motivo para suspender ou trocar medicação. O paciente hipertenso deve cuidar da sua pressão. Deixar de cuidar aumenta muito a chance de complicar no caso de uma infecção pelo novo coronavírus.

A dexametasona é vista como a esperança para o tratamento da Covid-19?
Os dois medicamentos que possivelmente são bastante úteis são a dexametasona e a metilprednisolona. A dexametasona é realmente uma esperança para o tratamento da Covid-19. Ela faz parte de um grupo de medicações chamado corticosteroide ou corticoide. Uma pesquisa importante mostra que ela pode reduzir a mortalidade em até 30% dos casos.

Em quais casos a dexametasona é indicada?
Hoje, ela deve ser usada nos pacientes internados na forma grave da doença e que precisam, pelo menos, de algum tipo de suporte de oxigênio: seja cateter ou respirador. Em hipótese alguma a gente pode recomendar o corticoide para prevenir, para a pessoa comprar na farmácia. É com prescrição médica para doente internado.

A ivermectina é eficiente na prevenção ou tratamento da Covid-19?
Infelizmente isso vem sido propagado de uma maneira inadequada. Não existe até o momento nenhuma medicação capaz de prevenir a doença. A ivermectina e a cloroquina não têm nenhuma evidência científica para uso preventivo. Inclusive, têm evidências contrárias. Portanto, não são recomendadas do ponto de vista científico de maneira alguma. Casos leves e tratamento sintomático devem incluir analgésico, antitérmico, hidratação e a consulta ao médico se houver agravamentos dos sinais e sintomas.

A cloroquina ou a hidroxicloroquina funcionam no combate ao coronavírus?
No laboratório, com testes in vitro, essas medicações diminuem a replicação do novo coronavírus. Mas, nos testes em humanos, essas medicações não funcionam. Por isso hoje a gente não recomenda para prevenir, muito menos para tratar.

Até o momento, não há pesquisas que demonstrem alguma eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina para a Covid-19. É bem possível que a gente não tenha nenhuma surpresa nos próximos meses e continuamos, então, não recomendando cloroquina ou hidroxicloroquina.

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Vários estudos comprovaram que a cloroquina não tem eficácia contra a Covid-19
Medida foi tomada para evitar que a população usasse a mesma receita para comprar várias unidades e fazer estoque em casa
O uso do remédio é recomendado apenas para pessoas com alto risco de evolução para o caso grave da doença
Azitromicina, cloroquina e outros remédios do kit Covid não têm comprovação científica de eficácia contra o coronavírus
De acordo com a Pfizer, a pílula tem 89% de eficácia na prevenção de hospitalizações e mortes de pacientes de alto risco contaminados pela Covid-19
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Nos anos anteriores, o HFA não recebeu sequer uma unidade do medicamento

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Vários estudos comprovaram que a cloroquina não tem eficácia contra a Covid-19

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Medida foi tomada para evitar que a população usasse a mesma receita para comprar várias unidades e fazer estoque em casa

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O uso do remédio é recomendado apenas para pessoas com alto risco de evolução para o caso grave da doença

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Azitromicina, cloroquina e outros remédios do kit Covid não têm comprovação científica de eficácia contra o coronavírus

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De acordo com a Pfizer, a pílula tem 89% de eficácia na prevenção de hospitalizações e mortes de pacientes de alto risco contaminados pela Covid-19

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O ibuprofeno foi um dos primeiros remédios a gerar polêmica. Por que o uso desse anti-inflamatório foi suspenso nos casos de Covid-19?
Ele é um anti-inflamatório que fez parte da mesma polêmica dos medicamentos da pressão. Hoje nós sabemos que é bem possível que isso não seja verdade, que o ibuprofeno não tenha nenhum efeito em aumentar a replicação do vírus. Mas, diferente do remédio da pressão que é essencial, o ibuprofeno é um anti-inflamatório e igual a ele existem vários. Nessa doença a gente não recomenda anti-inflamatório. Se tiver dor ou febre, nós vamos dar dipirona, paracetamol e hidratar bastante.

Podemos ter a esperança para dias melhores a partir de quando?
Nós não temos uma expectativa imediata para a vacina. É possível em seis meses, 12 meses…É possível. Há uma expectativa, porém não imediata. Nós estamos num momento em que a gente assiste mais de 1,5 milhão de casos de infecção, mais de 60 mil casos de mortes no Brasil, porém, ao mesmo tempo, muito países como Espanha, Reino Unido, Itália, China já estão voltando às suas vidas, à sua estabilidade, então é muito difícil que a gente faça uma previsão. Cada país é um país.

O Brasil, infelizmente, não teve uma política adequada no combate ao coronavírus. Então é muito difícil a gente comparar o que aconteceu em outros países com o Brasil, um país continental que não investiu em testes, que tem cidades que não têm médicos, que tem populações ribeirinhas e indígenas. Nós não sabemos quando ocorrerá o declínio da curva.

Nesse momento, cabe a nós tentar prevenir com isolamento, máscaras, higienização e, ao mesmo tempo, lutar para adequar o mais rápido nosso sistema de saúde para tratar bem as pessoas que necessitarem. Hoje, o nosso foco é no combate à Covid-19, na luta pela vida das pessoas. Nós estamos no momento em que o nosso país precisa estruturar os hospitais e as unidades de terapia intensiva (UTIs) e capacitar as pessoas.

A nossa vida deve voltar ao normal pré-pandemia?
Eu não acho que vá e nem que deva. Depois dessa pandemia, a gente vai mudar muito a nossa forma de reagir, vai mudar o foco que a humanidade tem em relação à saúde e vai entender que a gente só consegue construir uma nação quando investe em tecnologia, inovação, saúde e educação. O foco da transformação tem que ser esse.

A gente tem que voltar diferente, focado na reconstrução de uma nação mais justa e mais forte. Isso é, infelizmente, o que a Covid-19 vai trazer de “bom”. Porque o restante é sofrimento, são vidas perdidas, é incapacidade e desespero.

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