CAR-T: quem pode fazer tratamento que provocou remissão de câncer
Tratamento revolucionário que levou paciente brasileiro do tratamento paliativo à remissão do tumor em um mês ainda é experimental
atualizado
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Na segunda-feira (29/5), o anúncio sobre um paciente que convivia com um câncer metástatico e teve remissão em apenas um mês após o tratamento experimental com células CAR-T provocou esperanças em muitas pessoas.
O acesso à terapia inovadora, no entanto, ainda é uma expectativa distante para a maioria das pessoas com câncer. No momento, o tratamento com células CAR-T está em fase de ensaios clínicos no Brasil. Além disso, ele é indicado apenas para leucemia linfoblástica B, linfoma não-Hodgkin de células B e mieloma múltiplo – todos tumores de sangue.
“Creio que, no futuro, teremos o tratamento CAR-T como primeira linha de combate para os cânceres, mas ainda estamos longe desta realidade. Estamos estudando os impactos e as aplicações. Teremos que desenvolver marcadores para cada doença, não será um processo rápido”, diz o hematologista Vanderson Rocha, que atuou diretamente no caso de paciente Paulo Peregrino.
O que é o CAR-T?
No CAR-T, o paciente tem células de defesa do próprio corpo modificadas para combater o tumor. É como se os linfócitos, as células de defesa do corpo, ganhassem novos óculos que permitissem enxergar as células cancerígenas como eventuais inimigos.
“Em resumo, nós modificamos esses linfócitos geneticamente, alterando o DNA deles, para que se armem contra as células do câncer e injetamos essas células no paciente”, diz Rocha.
Ainda não é possível determinar, no entanto, quando essa terapia estará disponível ao grande público. Faltam estudos mais conclusivos sobre sua aplicação e seus efeitos colaterais. Enquanto isso, mesmo para quem tem os tumores que a terapia já provou combater, é possível recorrer a ela voluntariando-se em estudos científicos ou recorrendo a hospitais privados que têm parceria com centros médicos de excelência no exterior.
Estudos do SUS
Os mesmos pesquisadores que anunciaram a remissão do câncer de Peregrino estão selecionando 75 pacientes pacientes para uma nova rodada do estudo. No entanto, não é possível fazer inscrição para participar da nova etapa de estudos clínicos. O convite é feito a partir de médicos oncologistas apenas para pessoas que já estão previamente identificadas.
Os estudos são uma parceira entre o Butantan, aa Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), aa Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e o Hemocentro de Ribeirão Preto.
Acesso privado
O Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, é um dos centros particulares que oferece a terapia CAR-T em parceria com hospitais fora do Brasil.
“Compartilhamos deste sentimento de esperança, mas devemos estar atentos ao fato de que o número de indicações ainda é muito pequeno. Isso, não é só pelo custo alto da realização, mas também precisamos ter indicações médicas, ter tentado ao menos duas outras terapias sem sucesso antes de partir para o CAR-T”, diz Jayr Schimidt, líder do Centro de Referência em Neoplasias Hematológicas do A. C. Camargo.
Os custos envolvidos em modificar os linfócitos podem chegar a R$ 2 milhões e envolvem uma logística de envio de células de defesa coletadas no paciente para os Estados Unidos ou países da Europa e uma espera de no mínimo um mês entre a coleta e a preparação das células para a aplicação.
Efeitos colaterais
De acordo com Schimidt, o tratamento de câncer por células CAR-T não pode ser considerado como uma cura ao câncer. Embora tenha resultados muito positivos na maioria dos pacientes, não são todos que alcançam a remissão.
“O tratamento pode levar a duas síndromes. A primeira é a síndrome de liberação de citocinas, que leva a uma inflamação generalizada e pode durar até uma semana com sintomas no paciente. A outra é a síndrome de neurotoxicidade, que pode causar confusão mental e até convulsões. Por isso monitoramos de perto os pacientes no ambiente ambulatorial”, detalha Schimidt.
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