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Candida auris: fungo que deixa EUA em alerta já causou surto no Brasil

Infecção preocupa por ser um fungo resistente a medicamentos, que se espalha rapidamente em hospitais e tem altas taxas de mortalidade

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O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos emitiu um alerta nessa segunda-feira (20/3) sobre a disseminação em ritmo alarmante do fungo Candida auris durante a pandemia de Covid-19. O fungo é considerado pelas autoridades uma “ameaça urgente”.

Um estudo feito pelo órgão americano, publicado no mesmo dia na revista científica Annals of Internal Medicine, mostra que os casos dispararam no país em 2021. As notificações da doença passaram de 476 em 2019 para 1.471 em 2021. Há casos em aproximadamente metade dos 50 estados americanos, com a maioria concentrada na Califórnia, Nevada, Texas e Flórida.

Uma das maiores preocupações é a alta resistência de algumas cepas de C. auris às principais classes de medicamentos antifúngicos. Dados do CDC mostram que cerca de metade dos pacientes morrem nos três meses seguintes à infecção. As principais vítimas são os idosos e as pessoas com o sistema imunológico fragilizado.

“As infecções são, em geral, muito difíceis de tratar porque o fungo é resistente às medicações que temos”, explica o professor de imunologia médica André Moraes Nicola, da Universidade de Brasília (UnB).

O Candida auris é uma espécie de fungo emergente identificado pela primeira vez como causador de doença em humanos em 2009, no Japão. Nos anos seguintes, foram registrados surtos na Índia, África do Sul, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, Reino Unido, Espanha e no Brasil. A maioria dos casos se limita ao ambiente hospitalar.

Segundo Moraes, as pessoas infectadas que desenvolvem a doença são geralmente pacientes com a saúde muito frágil, como idosos, pessoas com doença de base, e internados em unidades de terapia intensiva (UTI). “É ainda mais difícil tratar porque esses indivíduos já estão com a saúde debilitada”, afirma Moraes.

Alerta nos EUA

Ao todo, as autoridades americanas registraram 3.270 infecções por Candida auris nos EUA entre o início de 2016 – quando o primeiro relato foi feito – e o fim de dezembro de 2021. Foram feitas cerca de 7,4 mil triagens, onde o fungo foi identificado, mas não houve contaminação. De acordo com o estudo, ocorreu um aumento mais rápido do número de infecções nos anos 2020 e 2021 e a tendência se repetiu em 2022.

“O rápido aumento e a disseminação geográfica dos casos são preocupantes e enfatizam a necessidade de vigilância contínua, capacidade laboratorial expandida, testes de diagnóstico mais rápidos e adesão à prevenção e controle de infecções”, afirma a epidemiologista do CDC e principal autora do artigo, Meghan Lyman, em comunicado.

As autoridades atribuem o surto dos últimos anos a diversos fatores, incluindo às práticas inadequadas de prevenção e controle geral de infecções e à pressão no sistema de saúde durante a pandemia, quando as atenções foram focadas quase que exclusivamente no combate ao coronavírus.

Risco para o Brasil

O maior surto brasileiro ocorreu entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022 em um hospital de Recife, em Pernambuco. O professor da UnB acredita que o fungo continua em circulação no país, mas limitações em testes de diagnóstico dificultam sua identificação.

“É um fungo super comum, mas difícil de identificar. Precisamos de testes de laboratório muito específicos porque ele é facilmente confundido com outros tipos do fungo. É possível que a gente tenha casos em vários cantos do Brasil, mas não conseguimos encontrar”, explica Moraes.

Sintomas e prevenção

Os pacientes podem apresentar sintomas clássicos de infecções, como febre e dificuldade de respiração, além de queda da pressão arterial, sonolência e até mesmo entrar em coma.

A principal estratégia para evitar surtos é garantir que os hospitais tenham infraestrutura de vigilância para detectar o fungo assim que ele aparecer. “Sem estrutura de detecção do fungo nos hospitais e no Sistema Único de Saúde (SUS), acabamos deixando ele escapar, aumentando as chances de mais pessoas morrerem”, afirma o professor da UnB.

Do ponto de vista individual, a população pode se proteger lavando as mãos com frequência e se certificando de que os equipamentos utilizados nos hospitais são esterilizados.

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