Instituto cria estratégia para ampliar acesso a tratamentos de câncer
Fundador do Instituto Vencer o Câncer, Fernando Maluf diz que a ideia é capacitar hospitais para que indústria seja atraída e teste remédios
atualizado
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O tratamento de câncer no Brasil é extremamente desigual. A diferença não é só entre o paciente que usa o serviço particular e o indivíduo que depende do Sistema Único de Saúde (SUS) — dentro do próprio atendimento público, existem discrepâncias baseadas principalmente na localização do usuário. A maior oferta de centros de saúde especializados em câncer ainda está concentrada na região Centro-Sul do país.
Para tentar ampliar o acesso de pacientes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o Instituto Vencer o Câncer lançou uma iniciativa para modernizar hospitais e atrair o interesse da indústria farmacêutica para a realização de estudos clínicos com drogas promissoras.
“Esse projeto é fantástico, porque uma das formas de aumentar o acesso a altas tecnologias sem custo para população e para o hospital público é aumentar a pesquisa, que é subsidiada pelas companhias farmacêuticas”, explica o fundador do Instituto Vencer o Câncer (IVC), Fernando Maluf, em entrevista ao Metrópoles. A entidade é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip).
A ideia é ampliar o leque da pesquisa clínica no Brasil, trazendo inovação também para outras regiões, melhorando o acesso dos pacientes a tratamentos inovadores e também capacitando mais médicos e profissionais da saúde.
O oncologista conta que os centros escolhidos em um primeiro momento são no Amazonas, Maranhão, Pará, Paraíba, Bahia e Mato Grosso do Sul. Os hospitais, que geralmente são filantrópicos, ficam em áreas com quase nenhuma ou nenhuma pesquisa clínica, e devem atrair estudos que estejam sendo feitos nos centros mais modernos do mundo, como MD Anderson e Harvard, nos Estados Unidos.
Participarão do projeto pacientes do SUS e hospitais que fazem parte do sistema público. Os locais estão equipados e abastecidos com profissionais treinados, permitindo que a indústria farmacêutica escolha o centro para pesquisa de drogas promissoras.
“É a oportunidade de alguém com condição financeira desfavorável entrar em um estudo para testar o mesmo remédio que está sendo avaliado na Europa e Estados Unidos”, aponta Maluf.
Desafios no acesso à saúde
O oncologista aponta que, durante a pandemia de Covid-19, muitos pacientes deixaram de fazer exames de rastreamento e, por isso, foi observado um excesso de pessoas com quadros avançados de câncer quando os hospitais voltaram a funcionar normalmente.
“Em casos de câncer de mama, colo de útero, próstata e intestino, por exemplo, que podem ser detectados por exames de rastreamento, dependendo do mês, a quantidade de testes caiu até 90% em relação a anos anteriores. Tivemos uma avalanche de casos novos muito avançados e, por causa disso, o prognóstico piorou muito”, alerta Maluf.
A pandemia também desacelerou a pesquisa, já que houve limitação dos protocolos de pesquisa e a comunidade científica se concentrou em resolver o problema mais urgente.
Hoje, Maluf considera que o sistema geral de saúde brasileiro, público e privado, ainda tenta equilibrar a demanda gerada durante a pandemia. “Quanto mais avançado estiver o câncer, mais complexo e longo é o tratamento, e as chances de sucesso são menores. Estamos tentando lidar com essa situação”, afirma.
Para tentar resolver o problema, o oncologista aposta principalmente na prevenção. Campanhas sobre a importância da vacina contra o HPV, por exemplo, são consideradas essenciais para evitar que o câncer se desenvolva, e apostar em exames de rastreio pode garantir que o tumor seja encontrado nos estágios iniciais, otimizando o prognóstico. Ele sugere também que esse tipo de teste seja direcionado para pacientes de alto risco.
“Para que as pessoas tenham o diagnóstico de câncer, precisamos rever nosso sistema desde os encaminhamentos de exames até a criação de centros de excelência, aumentando a quantidade de pacientes que vai para um hospital especializado. Precisamos evitar o desperdício dentro do SUS e criar protocolos mais custo-efetivos”, explica o médico.
Ele diz que uma das sugestões do IVC é que as compras de insumos, radioterapia, maquinário cirúrgico e medicamentos seja feita de forma centralizada. Hoje, cada hospital público compra separadamente o que precisa, e o preço é muito mais caro do que seria se o SUS fizesse a compra de uma vez.
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