Bonecos ajudam crianças a perder medo de procedimentos na Rede Sarah
As crianças do hospital podem escolher os bonecos que mais se identificam para colocar pontos e gessos iguais aos seus, aliviando a tensão
atualizado
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Passar por um procedimento hospitalar, por menos invasivo que seja, pode gerar tensão e estresse no paciente — principalmente o pediátrico. Para tornar este momento mais leve, há 20 anos, a Rede Sarah de Hospitais implementou um projeto que utiliza bonecos com gesso e suturas simulando as mesmas experiências que serão vividas pela criança.
O objetivo, de acordo com a neurocientista Lúcia Willadino Braga, presidente da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, é que o paciente se torne agente do próprio tratamento, entendendo cada etapa do processo.
O fator lúdico também ajuda na distração. Enquanto o enfermeiro retira os pontos da criança, ela faz o mesmo no brinquedo, tornando o processo menos estressante para o paciente.
“O princípio neuropsicológico é focar a atenção da criança em outra atividade. Enquanto está brincando, ela libera neurotransmissores e fica feliz. Estudos desenvolvidos aqui dentro mostram que essa técnica promove uma recuperação mais rápida”, explica Lúcia.
Sthefany Lauany, 9 anos, foi internada na unidade de Brasília em 18 de agosto para fazer uma osteotomia, cirurgia para corrigir o alinhamento das pernas. A menina nasceu com mielomeningocele, uma má-formação da coluna vertebral e da medula espinhal que ocorre durante a gestação.
Assim que chegou ao hospital, Sthefany escolheu uma boneca de pano que a acompanhou durante todo o tratamento e irá com ela para casa no dia da alta. Através do brinquedo, os médicos explicaram como o procedimento seria realizado, fizeram pontos e colocaram um gesso nas duas pernas, assim como foi feito na menina.
“A boneca deixou a Sthefany mais tranquila. Ela se apegou ao brinquedo e ficou bem tranquila. Ela se distraiu e ficou entretida, sem prestar atenção no que eles estavam fazendo”, conta a mãe, Jeobina Resende Tomé.
Parceria com Athos Bulcão
O projeto com bonecos como apoio emocional para os pacientes pediátricos teve a primeira semente plantada na década de 1980. Lúcia assumiu a chefia da enfermaria infantil do hospital Sarah de Brasília em 1981. Naquela época, a médica de mente criativa e inquieta pensou na possibilidade de ter um baú de brinquedos no formato de um cubo, algo fácil de transportar entre as dependências do hospital.
O projeto saiu do papel com a ajuda de Athos Bulcão, que também era funcionário da rede de hospitais – os dois trabalharam juntos por aproximadamente 30 anos. “Eu projetei o cubo, atravessei o prédio e pedi que ele fizesse os desenhos”, lembra Lúcia. Ao todo, o artista criou 59 desenhos diferentes, presentes em armários de brinquedos de todas as unidades da rede.
Dentro dos armários, os pacientes encontram também bonecos cadeirantes e opções com réplicas perfeitas de seus gessos de imobilização criados na oficina ortopédica do Sarah.
“Quem já colocou gesso sabe que retirar ele ou pontos não causa dor. Mas às vezes as pessoas ficam com medo. Aqui, a criança recebe a boneca na sala de gesso junto com uma serrinha que não corta. Enquanto o técnico de gesso abre o da criança, ela faz o mesmo no boneco. Assim, ela foca a atenção no que está fazendo e isso faz com que acabe qualquer tipo de estresse ou tensão”, considera a médica.
Preparação para cirurgias
Os bonecos aparecem também na preparação para cirurgias. Antes do procedimento, uma equipe com psicólogos e enfermeiros se reúne com o paciente e acompanhante para explicar o que será feito e tirar as dúvidas. Nessa etapa, a criança é apresentada aos equipamentos usados no procedimento com a ajuda de um boneco.
Foi o caso de Davi Ribeiro da Silva, 12 anos. O menino encontrou a equipe um dia antes de passar por uma cirurgia na bacia após sofrer uma lesão e conheceu os equipamentos usados para anestesia e infusão de soro. “Orientação é sempre bom, a gente fica mais tranquilo, e eles dão muita informação”, afirma a mãe do menino, Andrelurdes Ribeiro da Silva.
Segundo Lúcia, quando a preparação psicológica para a cirurgia foi implementada, o tempo de recuperação foi reduzido. “A gente compartilha conhecimento e não joga de cima para baixo. A criança se torna agente do próprio tratamento e sente autoconfiança. Como ela faz parte de todo o processo, é muito mais simples ir para o centro cirúrgico, sair e ter alta. Nós conseguimos reduzir o tempo de internação e a recuperação é mais rápida”, enfatiza.
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