BBB23: psicólogo comenta fatores estressantes do confinamento
Apesar de ser entretenimento para quem assiste, confinamento do BBB pode causar ansiedade, estresse e desconforto entre participantes
atualizado
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Na última segunda-feira (16/1), a edição 23 do reality Big Brother Brasil (BBB) estreou prometendo entretenimento com intensa disputa entre os participantes. Confinados e vigiados por câmeras 24 horas por dia, os competidores são privados de qualquer contato com o mundo exterior e expostos a provas e dinâmicas polêmicas.
Temático e fechado, o ambiente do programa carece de oportunidades de fuga, o que estimula conflitos e desconforto entre os participantes. “Na vida normal, é fácil escapar de situações problemáticas, onde há uma autoridade a quem recorrer em caso de conflito — seja o síndico do prédio, o RH da empresa ou a diretoria da escola. Mas não no BBB. Você precisa resolver tudo na raça”, diz o coordenador de psicologia Luiz Gonzaga Leite, do Hospital Santa Paula, em São Paulo.
O psicólogo vê alguns fatores que estimulam o estresse para os competidores:
- Provas de liderança e outras atividades com prêmios funcionam como um lembrete de que aquilo é uma competição, e mantêm o nível de rivalidade e de estresse altos;
- Não há como fugir de um ambiente aversivo. “Então, coisas banais, como uma cama desarrumada ou uma louça suja, se transformam em brigas cômicas”, diz Gonzaga;
- Dinâmicas de posicionamento. O Jogo da Discórdia, por exemplo, exige que a pessoa se posicione sobre a personalidade do outro, o que pode gerar desavenças entre eles;
- Busca de alianças. Como animais sociais, as pessoas lá dentro não medirão esforços para tecer as melhores alianças, o que alimenta o estresse geral.
Gonzaga alerta para os riscos de o confinamento desencadear quadros de depressão. “Competir por um prêmio em dinheiro, somado aos fatores de estresse e a pressão de ser observado, pode causar depressão”, sinaliza.
A serotonina é um hormônio importante no combate à ansiedade, depressão e estresse e pode ser liberada com a prática de atividades físicas. Porém, a não ser a academia, a casa oferece poucas oportunidades de prática esportiva.
Em situações de estresse, ansiedade e depressão, Gonzaga avalia que as pessoas tendem a aliviar os sentimentos em dois caminhos: compulsão alimentar ou perda de apetite. “Ou elas comem mais e consequentemente acabam engordando, ou ingerem poucos alimentos e caem em desnutrição”, afirma.
Decoração e comportamento
O ambiente no qual as pessoas estão inseridas pode influenciar no comportamento e humor do indivíduo. Por exemplo, o quarto branco, explica o psicólogo, possui luzes que desregulam o ciclo circadiano, impedindo que o competidor consiga dormir.
No quarto branco do BBB, três jogadores vestidos com uma roupa especial branca ficam confinados e dividem um banheiro sem chuveiro. No centro do cômodo há um botão vermelho, quem o aperta vai direto para a votação de eliminação, vulgo paredão.
O método de confinar pessoas em ambientes cheios de luz branca não é exatamente uma criação da indústria do entretenimento: as Forças Armadas dos EUA, da Venezuela e do Irã usam o artifício em prisioneiros para obter confissões.
Gonzaga manifesta preocupação com a possibilidade de algum competidor ser preso no cômodo claro sozinho. “Saber a diferença entre dia e noite é fundamental para que o cérebro regule a produção de hormônios, como a melatonina. Sem ela, você não dorme. Sem descansar, você caminha para o estresse absoluto, o que pode causar insanidade“, diz.
Pós BBB
De acordo com Gonzaga, a falta de privacidade dentro da casa tem mais impacto no competidor ao deixar o programa. “No pós-jogo, os participantes precisam lidar com o que disseram na casa. Lá dentro, você pode até ir no cantinho e contar um segredo para alguém, algo que você jamais falaria em público”, analisa.
Ele acrescenta que depois do programa, será como se você tivesse dito aquilo no horário nobre da TV — o que de fato aconteceu. Uma das principais consequências é o chamado cancelamento nas redes sociais.
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