“Tive um AVC na gravidez. Meu medo era perder o bebê”, diz bailarina
A bailarina Mara Rúbia sofreu um AVC na gestação de seu segundo filho, aos 38 anos de idade
atualizado
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A educadora física e bailarina Mara Rúbia do Amaral, de 42 anos, de Brasília, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2019, durante sua terceira gestação. Ela estava com sete semanas de gravidez quando passou pelo episódio.
O coração de Mara possuia um problema chamado forame oval patente (FOP), causado por uma má formação congênita. Em pessoas com a condição, um pequeno orifício faz com que as cavidades do coração que deveriam separar o sangue venoso, pobre em oxigênio, do arterial, que sai do pulmão, continuem se comunicando.
A condição não é rara, estima-se que 20% da população tenha o problema, mas há uma correlação entre as pessoas com FOP e as que têm AVC jovens.
Antes do derrame, Mara não sabia que tinha o problema e levava uma vida de bastante exigência física.
Socorro imediato
A bailarina não tem memórias do dia que teve o AVC. “Lembro apenas de flashes, mas não sei dizer o que senti. Meu marido foi quem me socorreu junto com meu primeiro filho, que tinha só 5 anos”, relata.
O marido de Mara estava tocando piano e os dois cantavam juntos quandoo AVC aconteceu. De repente, ele percebeu que ela tinha parado de cantar e, quando se aproximou, notou que a mulher não estava respirando direito. “Ele disse que eu não conseguia fazer o que ele me pedia, não conseguia falar e nem andar”, conta a bailarina.
Ela foi levada pelo marido imediatamente para a Maternidade Brasília, onde estava fazendo o pré-natal. Depois foi encaminhada ao Hospital Brasília, onde passou por um procedimento de emergência para retirada do trombo que provocou o AVC.
A neurologista Letícia Rebello, do Hospital Brasília, foi uma das responsáveis pelo atendimento de Mara. “Ela teve um AVC isquêmico, que acontece quando uma artéria do cérebro entope. Decidimos fazer um tratamento nela chamado de trombectomia mecânica, que consiste em uma pequena incisão na virilha para desentupir a artéria usando um stent”, detalha.
Mara recobrou a consciência quando já estava no hospital se recuperando da trombectomia. “Quando acordei e percebi que estava no hospital, não entendi nada. A minha primeira preocupação foi a saúde do meu bebê. Tive muito medo de que tivesse ocorrido algo com meu filho. Comecei a chorar e levei algum tempo para entender tudo que tinha acontecido”, lembra.
Cuidados na gravidez
Mara passou por vários tratamentos posteriores para se recuperar das sequelas deixadas pelo acidente. Foi acompanhada por neurologistas, cardiologistas e ginecologistas, já que ainda estava na gestação. Ela teve de tomar injeções de Clexane a cada 12h para evitar novos AVCs ou episódios de trombose que pudessem prejudicar a gravidez. Seu maior medo era perder a criança.
“A trombose podia afetar até o cordão umbilical, então foi um período de muito cuidado. Tinha de fazer uma procedimento para fechar o FOP e eliminar os riscos de um novo AVC, mas não podia fazer durante a gravidez, então o acompanhamento precisou ser intenso”, explica.
A neurologista Letícia Rebello conta que a própria gestação já é um fator de risco para a formação de trombos e o problema cardíaco congênito foi um agravante. “A gente constatou que ela estava com uma trombose na perna e, além disso teve o AVC, então foi preciso acompanhar de perto e manter o anticoagulante até um pouco depois do parto”, relata Letícia.
Procedimneto após o parto
Depois que Noah nasceu, Mara conseguiu fechar a FOP para evitar novos episódios de AVC.
A principal sequela do derrame foi a perda de sensibilidade do lado direito do corpo, que ela vem tratando desde então com fisioterapia. Ainda não voltou a dançar, mas confia que um dia isso aconteça.
Diante dos riscos que ela e o filho correram, Mara se sente grata por ter sobrevivido e, há sete meses, recebeu Eva, sua terceira filha nos braços.
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