Azitromicina: saiba os problemas decorrentes do uso indiscriminado
Antibiótico tem sido consumido para prevenir a Covid-19 ou tratar de casos leves mesmo sem estudos que comprovem sua eficácia contra o vírus
atualizado
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Mesmo sem nenhuma evidência científica de que a azitromicina funciona para evitar o contágio pela Covid-19 ou para diminuir as chances que casos leves evoluam para quadros graves, o antibiótico tem sido muito consumido durante a pandemia de coronavírus.
Normalmente usado para tratar bronquite e pneumonia, infecções de pele, otite, sinusite e algumas doenças sexualmente transmissíveis, o medicamento se tornou famoso quando o presidente americano Donald Trump afirmou que, junto com a cloroquina, a fórmula poderia “mudar a medicina“.
Porém, médicos e profissionais de saúde estão preocupados com o uso indiscriminado do antibiótico. Para começar, este tipo de medicamento é usado contra bactérias e não tem utilidade na batalha contra qualquer vírus.
“Azitromicina nunca deve ser usada para tratar Covid-19. Importante ressaltar que não funciona pra tratar nem prevenir. Pelo contrário, o uso indiscriminado de antibióticos pode causar diversos problemas ao organismo, como resistência bacteriana e arritmias cardíacas”, explica Alexandre Cunha, infectologista e vice-presidente da sociedade de infectologia do DF.
Segundo Patrícia Medeiros, professora do departamento de farmácia da Universidade de Brasília (UnB), a azitromicina só pode ser receitada caso sejam feitos exames que mostrem pneumonia, que é considerada uma condição decorrente da infecção pelo coronavírus. Ainda assim, cabe ao médico escolher qual antibiótico será melhor para o paciente.
“Por medo ou influenciadas por fake news, muitas pessoas usam o remédio sem qualquer tipo de indicação, como se fosse profilático”, afirma.
O clínico-geral Lucas Vargas, coordenador do Hospital Santa Lúcia Gama, diz que, mesmo quando se tem, em casos graves de Covid-19, um quadro de pneumonia bacteriana secundária, a azitromicina não está no protocolo.
Resistência
A principal preocupação é que se crie resistência ao antibiótico, o que significa que ele não irá funcionar para lidar com outras infecções. Se o médico tem um leque de 30 medicamentos para tratar uma infecção, por exemplo, esse número pode abaixar muito caso o paciente tenha feito uso indiscriminado de antibióticos. Sem opções, pode ser necessário usar “um canhão para matar um passarinho”, afetando outras partes do corpo além de onde está localizado o problema.
“Com o uso irracional de antibióticos, o desenvolvimento de futura resistência é previsível por ser inevitável. A resistência influencia não apenas a pessoa mas todo o ecossistema onde ele está inserida, afetando toda a comunidade”, explica Patrícia. As cepas das bactérias, quando expostas ao antibiótico, vão aprendendo a se defender e não são mais destruídas pelos medicamentos que sempre foram suficientes.
Além disso, a azitromicina é conhecida por causar problemas de estômago. Quando se toma o remédio sem orientação médica, fora do horário, de estômago vazio, pode-se experimentar náuseas e dor no estômago. “Muita gente acaba tentando resolver o problema com outro medicamento, que aumenta o pH do órgão e interfere na absorção do antibiótico”, conta a professora da UnB.
O antibiótico pode ainda destruir bactérias que convivem no trato gastrointestinal de forma pacífica. “Esse uso indiscriminado pode causar disbiose, que é um desbalanço nessas bactérias, diarreia, dor intestinal e gastrite”, explica Vargas.