AVC sem sequelas: entenda técnica cirúrgica que salvou vida de médico
Cirurgia de trombectomia mecânica permitiu que médico de 73 anos sobrevivesse a um AVC sem apresentar sequelas
atualizado
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O cirurgião plástico Antonio Fernandes, de 73 anos, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em março deste ano. Um mês depois ele já estava em um cruzeiro de férias e, em seguida, de volta às atividades profissionais.
O médico foi operado poucas horas depois dos primeiros sintomas em um procedimento chamado trombectomia mecânica. A cirurgia tem como objetivo desobstruir os vasos cerebrais e reduzir a possibilidade de sequelas de um AVC. “Não senti nenhuma debilitação, considero que fiz parte de um afortunado milagre”, afirma Antonio.
Segundo o neurologista Luca Cabral, que atendeu Fernandes, o procedimento é realizado em cerca de uma hora e consiste em introduzir um catéter no paciente para aspirar e remover o coágulo sanguíneo.
“É colocado um pequeno tubo, geralmente na virilha ou no punho e, por meio dele, se guiam catéteres finíssimos até onde os exames de raio x identificaram a obstrução”, explica Luca Cabral, que trabalha mo Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS). O passo seguinte é colocar um stent, que permitirá que o coágulo seja aspirado.
O procedimento permitiu que o cirurgião plástico se recuperasse sem sequelas. “Estava tomando café com meu companheiro e, então comecei a tossir e a falar frases desconexas. Uns 45 minutos depois já estava em uma sala de cirurgia e, naquela mesma tarde, despertei bem”, lembra Francisco.
Quem pode recorrer à técnica?
O AVC é causado por um coágulo sanguíneo que entope ds artérias do cérebro. Dependendo da área atingida e do tempo sem assistência médica, a pessoa corre risco de morte e pode ficar com sequelas variadas. A mais comum é a perda de força, mas também pode ocorrer perda nas funções cognitivas, dificuldades de fala e de movimentos.
Por muito tempo, realizar a desobstrução de um coágulo sanguíneo no cérebro em tempo hábil e sem riscos foi um dos maiores desafios da neurologia. “Foi só a partir dos anos 2010 que a trombectomia mecânica começou a ser esudada. A técnica se mostrou segura e, em 2012, já estávamos realizando o procedimento em Porto Alegre”, explica Cabral.
De acordo com os estudos disponíveis, mais de metade dos pacientes submetidos ao procedimento estavam recuperados totalmente em três meses. Isso representa o dobro da taxa de sucesso alcançada pela trombólise endovenosa, protocolo padrão após um AVC. A trombólise endovenosa consiste na dissolução do coágulo com o uso de medicação.
A trombectomia mecânica exige um socorro rápido, o procedimento deve ser realizado em, no máximo, 8h depois do momento em que ocorre o derrame.
A técnica não pode ser usada em todos os pacientes, mas sim apenas nos que têm trombos (entupimentos) identificáveis em exames. “Muitos AVCs não têm coágulos para serem retirados: ou esses coágulos são microscópicos e não factíveis de retirada ou já se desfizeram antes do atendimento. No geral, essa técnica se aplica a aproximadamente um em cada 3 casos que atendemos”, esclarece Cabral.
A recuperação de Francisco foi facilitada pela audência de sequelas, mas o AVC levou a mudanças positivas na vida de Francisco. “O AVC me modificou muito. Acordar em um hospital sem se lembrar de nada e descobrir que você sofreu um derrame e escapou ileso, muda sua percepção sobre a vida. Sinto que hoje sou um médico e uma pessoa melhor, sempre gostei de gente, de vida, e hoje em dia gosto ainda mais”, elenca o médico.
Disponibilidade da técnica no SUS
A trombectomia mecânica está aprovada no Brasil desde 2021 para ser o procedimento padrão em atendimentos emergenciais de AVC quando o paciente se enquadra nos critérios. No entanto, de acordo com o neurologista Francisco José Mont’Alverne, membro da Sociedade Brasileira de Neurorradiologia (SBNR), ainda são poucos os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) que adotam a prática.
Os cinco centros públicos de saúde que realizam o procedimento são o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, o Hospital das Clínicas de São Paulo, o Hospital Estadual de Vitória, o Hospital de Joinville e o Hospital Geral de Fortaleza.
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