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Surto de coqueluche: o que explica o aumento de casos no mundo?

Ao menos 17 países europeus registraram o aumento de casos de coqueluche. Doença respiratória é mais grave para bebês

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O aumento de casos de coqueluche em alguns estados brasileiros e países da Europa e Ásia preocupa autoridades de saúde de todo o mundo. A doença é especialmente grave para os bebês pequenos, que ainda não têm anticorpos contra a infecção bacteriana.

No Rio de Janeiro, foi registrado um aumento de mais de 300% de casos da doença até julho deste ano, em comparação com 2023 inteiro, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde. Em todo o Brasil foram registrados 240 casos entre o início do ano e 5 de julho, contra 217 acumulados em todo o ano de 2023.

O último boletim epidemiológico divulgado pela União Europeia mostra que pelo menos 17 países do bloco viram os registros da doença dispararem no início deste ano. Foram notificados mais 32 mil casos entre o início de janeiro e o fim de março. Em todo o ano de 2023, 25 mil casos foram registrados.

Pelo menos dez bebês morreram de coqueluche no Reino Unido desde novembro de 2023, de acordo com a Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido.

“O aumento do número de casos vem sendo relatado em outros países de um a dois anos para cá. Como aconteceu em 2009, começamos ver essa situação se refletir também no Brasil”, lembra o pediatra Juarez Cunha, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Aumento de casos no mundo

De acordo com o Ministério da Saúde, os novos diagnósticos de coqueluche têm sido feitos em diversos grupos etários, mas as crianças menores de 1 ano de idade são a maioria. Especialistas esclarecem que a coqueluche é uma doença cíclica, com picos a cada três a cinco anos. O recente aumento de casos ocorreu após um período de circulação muito baixa durante a pandemia de Covid-19, devido ao isolamento social.

Para os especialistas ouvidos pelo Metrópoles, as quedas das taxas de cobertura vacinal são o principal motivo por trás desse cenário. Com a redução da quantidade de pessoas protegidas, a bactéria se aproveita da situação e circula mais, infectando mais pessoas e causando mortes.

A meta de cobertura vacinal da pentavalente (que protege contra coqueluche, difteria, tétano, meningite por Haemophilus influenzae tipo b e hepatite B) é de 95%. No entanto, desde 2016 os números para as principais vacinas infantis seguem em níveis preocupantes, e a meta não é alcançada desde 2019. Em 2023, ela chegou a 83,7%.

“Estamos longe do objetivo e precisamos fazer esforços para melhorar a cobertura vacinal”, considera Cunha.

O mesmo cenário se repete em outros países. O médico Fabrizio Motta, chefe do Serviço de Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Porto Alegre, lembra que o grupo antivacina ganhou força nos Estados Unidos e Europa.

“Temos dados de baixa cobertura vacinal nesses países. Publicações recentes da Itália mostram uma baixa cobertura nas gestantes e em relação à terceira dose nas crianças. Esse é o grande problema para o aumento de casos”, considera Motta.

“Tinha tempo que não víamos casos de coqueluche aumentarem tanto. Já tivemos em outros momentos um aumento importante dos casos de coqueluche no país, mas a cobertura vacinal foi focada nos adolescentes e adultos jovens que não tinham vacina e conseguimos melhorar a cobertura, reduzindo os casos”, lembra o médico.

Coqueluche

A coqueluche é uma doença respiratória causada através da infecção pela bactéria Bordetella pertussis. Ela está presente em todo o mundo e se espalha quando uma pessoa não vacinada tem contato direto com um paciente doente.

A tosse seca é o sinal mais característico da doença, que pode atingir também a traqueia e os brônquios. Os pacientes também podem apresentar febre, coriza e mal-estar geral.

Crianças menores de 6 meses são as que mais sofrem com a infecção, com maior risco de doença grave pelos quadros respiratórios e óbitos. “A coqueluche pode ser muito grave e levar a óbito, principalmente entre crianças pequenas. Por isso, as estratégias de vacinação são voltadas para proteger o bebê e manter a doença controlada”, afirma Cunha.

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Doença causada por bactéria pode ser contida com a aplicação de vacinas como a DTP
Coqueluche provoca tosses secas intensas
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Em bebês, os casos costumam ser mais graves e levar a mortes

reprodução/Mil Dicas de Mãe
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Doença causada por bactéria pode ser contida com a aplicação de vacinas como a DTP

Geovana Albuquerque/Agência Saúde-DF
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Coqueluche provoca tosses secas intensas

Getty Images

A vacinação de gestantes, lactantes e das crianças ainda é a melhor forma de prevenção da doença. Nos pequenos, a imunidade é adquirida com três doses da vacina pentavalente – aos 2, 4 e 6 meses de idade – e dois reforços aos 15 meses e 4 anos de idade com a tríplice bacteriana.

A vacinação da gestante é uma estratégia para transmitir os anticorpos da mãe para o filho, protegendo o bebê, que só adquire a proteção adequada contra a doença a partir dos 6 meses. Nesse caso, a mulher deve receber a tríplice bacteriana acelular tipo adulto (dTpa) a cada gestação, entre a vigésima semana de gravidez até 20 dias antes da data provável do parto.

No Brasil, apenas seis em cada dez mulheres gestantes recebem a vacina contra a coqueluche. “É fundamental que os profissionais de saúde orientem essa mulher para que ela saiba que a vacina existe e precisa ser colocada em dia”, afirma o diretor da SBIm.

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) não prevê a vacinação de adultos contra a doença, mas profissionais de saúde podem atualizar a imunização. Com o aumento de casos, o Ministério da Saúde ampliou a indicação da vacina para outros profissionais.

Para as pessoas que não fazem parte desse grupo mas querem reforçar a proteção, a opção é tomar a vacina tríplice viral (difteria, tétano e coqueluche) na rede privada. A imunização pode ser repetida a cada dez anos para manter os anticorpos ou quando se tem um bebê em casa, criando a chamada imunização de casulo.

“É uma estratégia para vacinar todas as pessoas que estão responsáveis pelo cuidado de um bebê recém-nascido – a mãe, pai, irmãos, avós”, explica Motta.

No início do mês, o ministério emitiu duas notas técnicas alertando os atletas que vão para os Jogos Olímpicos e os turistas que vão à França para assistir às competições a reforçarem os esquemas de vacinação, inclusive contra a coqueluche.

“Grandes eventos como as Olimpíadas aumentam o fluxo de pessoas e aglomerações, o que aumenta o risco de transmissão de doenças. Por isso, a vacinação se faz importante: para reduzir a ameaça de reintrodução de doenças que estão em controle ou já foram eliminadas no país”, alerta a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel.

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