Atrasou vacinas do seu filho por medo da Covid-19? Saiba o que fazer
Pandemia derrubou a cobertura vacinal no país, o que preocupa especialistas
atualizado
Compartilhar notícia
A taxa de vacinação caiu em todo o mundo durante a pandemia da Covid-19. No Brasil, o índice de crianças imunizadas está em 61%, segundo dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI). O percentual é bastante inferior aos 90% estabelecidos como ideais para evitar o surgimento de surtos.
O medo de sair de casa e ir até o posto de saúde fez os pais adiarem a atualização do calendário de vacinas dos filhos. O problema é que, sem as vacinas, as crianças ficam expostas a doenças com índices de mortalidade altos como, por exemplo, o sarampo e a coqueluche.
“Nenhuma vacina pode esperar. O correto é atender ao calendário para proteger as crianças. Algumas doenças vão matar muito mais do que a Covid-19”, pontua a médica pediatra Lílian Cristina Moreira, que é integrante da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Ela sugere que os pais sigam protocolos de segurança como o distanciamento social, o uso de máscaras e a higiene frequente das mãos, para ir ao posto de vacinação mais próximo.
Os bebês menores de 1 ano, que nasceram antes ou durante a pandemia, são os mais expostos às doenças, seguidos pelas crianças maiores e os jovens adultos. “Crianças e jovens adultos na faixa etária dos 10 a 20 anos chegam com o calendário todo esburacado porque, muitas vezes, os pais deixam de dar os reforços na infância”, explica a médica.
O calendário está atrasado. E agora?
Algumas vacinas são aplicadas em doses, com intervalos de meses – hepatite B, poliomielite e tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche), por exemplo. Depois da primeira injeção, o corpo produz uma grande quantidade de anticorpos, mas eles perdem a força com o passar do tempo. O reforço estimula novamente o sistema imunológico a produzir novos anticorpos. Quando o reforço não é feito, a criança fica desprotegida.
“Se você atrasar as doses nesse intervalo, seu filho pode estar com o número de anticorpos insuficiente para combater a doença. Se você atrasou? Corre no posto e vacina mesmo com atraso”, incentiva.
Não é necessário aplicar novamente vacinas quando uma estratégia de imunização em doses é interrompida, ela deve seguir em frente. “Em linhas gerais, você não precisa voltar para o ponto zero. Pode pegar da segunda ou terceira dose em diante, por exemplo”, esclarece a pediatra.
Baixa cobertura do sarampo
“No momento, a nossa preocupação maior está ligada ao sarampo, mas a cobertura vacinal contra a coqueluche também está baixa”, destaca Lilian, ao lembrar que o sarampo é sete vezes mais transmissível do que a Covid-19. O risco da doença evoluir para um quadro grave em crianças com até 5 anos de idade é maior do que na infecção pelo novo coronavírus.
A imunização do sarampo é feita pela tríplice viral ou SCR, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. A da coqueluche pela DPT, contra difteria, coqueluche e tétano.
Imunidade coletiva
A pediatra lembra que a vacinação é uma estratégia de saúde coletiva. Quando o percentual de imunização está abaixo do ideal, o risco de vírus e bactérias infecciosas se espalharem aumenta, dando início aos surtos de doenças. “A gente teve surtos de sarampo e coqueluche em vários locais do país. As duas matam, mas coqueluche mata especialmente crianças menores de 1 ano de idade”, destaca a pediatra.
Lilian lembra que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi um modelo para o mundo, especialmente entre a década de 1980 e início dos anos 2000, quando a cobertura vacinal ficou entre 90% e 95% do público-alvo.
“Se uma pessoa contrai uma doença, mas, no entorno dela, 95% estão imunes, ela pode pegar a doença, mas não vai ter para quem transmitir e o vírus ou a bactéria não têm como se reproduzir”, explica.