Ativista @sapavegana usa rede social para descomplicar veganismo
Moradora da periferia de São Paulo já reuniu 111 mil seguidores produzindo conteúdos que desmistificam o estilo de vida
atualizado
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“É mais que estilo de vida, é posicionamento político”, avisa Luciene Santos, 26 anos, dona do perfil @sapavegana nas redes sociais. A influenciadora digital e estudante de Direito, que se apresenta como sapatão, periférica e vegana, já atraiu mais de 111 mil seguidores no Instagram com seu estilo direto, sincero e descomplicado de falar sobre veganismo.
Nascida em Salvador e criada na periferia de São Paulo, ela optou pela filosofia em fevereiro de 2018, ao assistir um vídeo sobre como a indústria alimentícia trata os animais. Desde então, pesquisou a fundo e se comprometeu a combater as explorações contra bichos. Isso inclui não consumir alimentos ou produtos de origem animal ou que são testados neles – como alguns tipos de maquiagem, por exemplo -, nem frequentar lugares que apoiem esse tipo de prática.
O perfil @sapavegana surgiu logo depois, em setembro do mesmo ano, como uma maneira de compartilhar as receitas que havia aprendido nos meses anteriores e as dicas que eram repassadas pelos amigos. “Publicava no meu perfil pessoal e a galera perguntava como tinha feito. A ideia inicial era postar as receitas em um lugar só para mostrar aos mais próximos”, lembra.
Atualmente, milhares de seguidores aprendem as receitas de Luciene. As mais populares são as de brigadeiro (abaixo) e a de almôndegas de lentilha. Por lá, a ativista também mostra os pratos que cozinha diariamente, incentiva o público a comer frutas, a ir mais à feira e fala de vivências pessoais. “Sou lésbica, pobre e preta: tenho muita coisa para contar”, diz a ativista. Parte do sucesso dela também está em popularizar o veganismo, mostrando que é possível adotar o estilo gastando pouco.
“Falo de veganismo acessível porque sou pobre e muita gente se identifica porque a maioria das pessoas é pobre”, afirma a moradora de Carapicuíba. “Para mim, é um grande aprendizado estar em um lugar onde as pessoas podem se identificar comigo. Quando você é uma pessoa preta, LGBT e da periferia, você cresce aprendendo que sua voz é menos importante. Subverter isso é muito bom”, afirma.
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Luciene considera que as principais barreiras para o veganismo são as informações distorcidas repassadas à população. “Se vende a ideia de que não é acessível ou de que não é saudável. Pesquisando e procurando referências de alguém dentro da sua realidade, você vê que não é assim e consegue se espelhar”, completa.
Preconceito e resistência
Luciene já dedicou alguns posts para falar sobre os preconceitos e estereótipos que os veganos sofrem. São comuns indagações sobre quando ela vai voltar a comer carne ou acusações de que suas escolhas são motivadas por uma “moda”. “Existem provocações e, dependendo de como está o seu emocional, isso te afeta”, reconhece.
Para não desanimar diante das críticas, ela aposta na empatia. “Eu tento falar de veganismo de uma forma mais tranquila, sem enfrentamento”, pondera. “Tem muita gente que me segue que não é vegana ou que começou a pensar de forma diferente depois de me conhecer”, completa.
A estudante percebeu um crescimento do interesse por hábitos alimentares mais saudáveis durante a pandemia da Covid-19. “As pessoas ficaram mais reclusas e passaram a dedicar mais tempo à alimentação e ao conhecimento sobre o assunto. Há uma busca por se conectar com o alimento e cozinhar se tornou um hábito prazeroso”, afirma.
Ela defende que o vegetarianismo – parte que diz respeito apenas aos hábitos alimentares – não é muito diferente da alimentação que as pessoas deveriam ter no cotidiano, rica em vegetais e leguminosas. “Não é algo tão desafiador assim. Todo mundo deveria comer uma couve, um tomate e uma berinjela”, brinca.
Para quem tem interesse no veganismo, Luciene recomenda que, antes de qualquer coisa, se entenda a motivação para este estilo de vida. De acordo com ela, o exercício vai aumentar a convicção. “Você está indo contra algo que lhe ensinaram desde pequeno, então não vai ser fácil. Em alguns momentos, você vai sentir vontade de comer um bacon ou uma carne. É por isso que reforçar a crença sobre a decisão é importante.”
A dica seguinte da influenciadora é instigante: o iniciante deve se dispor a conhecer os alimentos da região onde vive, saber quais são as frutas da estação e frequentar as feiras próximas de casa. “Os feirantes podem lhe apresentar novas maneiras de consumir aquilo que você já conhece ou lhe apresentar coisas que você ainda não conhece”.
Um dos temas mais comentados pelos seguidores de Luciene são as idas dela à feira. Pelos stories, ela mostra a variedade de produtos e os preços incrivelmente baratos que encontra.
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