Asco 2024: conheça os principais avanços no tratamento do câncer
O encontro da Sociedade Americana de Oncologia Clínica acontece nos EUA e teve pesquisas sobre melanoma e câncer de pumão como destaque
atualizado
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O encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês) é tido como referência na medicina contra o câncer. No congresso, que termina nesta terça-feira (4/6), são apresentados resultados de diversos estudos internacionais que podem revolucionar o entendimento e tratamento da doença.
Em conversa com a imprensa direto de Chicago, nos Estados Unidos, onde ocorre a conferência, os oncologistas Rafael Kaliks e Diogo Bugano, do Hospital Albert Einstein, apontaram alguns dos estudos mais importantes que foram discutidos nesta edição.
O destaque ficou para o tratamento do câncer de pulmão, melanoma e do trato digestivo, além de novas evidências sobre os benefícios dos cuidados paliativos por telemedicina. Confira:
Melanoma avançado
Um dos trabalhos de maior destaque apresentados na Sessão Plenária da Asco (a principal, que recebe a maioria dos médicos), foi sobre o melanoma localmente avançado. Este é o tipo de câncer de pele mais grave, já que atinge camadas profundas da pele e pode causar metástase.
O estudo mostrou que dois ciclos de imunoterapia com a combinação de dois medicamentos (nivolumabe neoadjuvante e ipilimumabe) antes da cirurgia para a retirada do tumor reduzem o risco de progressão, retorno da doença ou morte em 68% em comparação com o tratamento padrão.
Atualmente, o padrão passa por cirurgia seguida de imunoterapia com o nivolumabe por um período de um a dois anos, a depender do caso.
“Esses imunoterápicos já estão disponíveis no Brasil. A terapia já pode ser feita de maneira imediata, economizando recursos porque não precisaria fazer o tratamento nos anos seguintes”, afirma Kaliks. Apesar de aprovados pela Anvisa, os medicamentos ainda não estão disponíveis no SUS, apenas na rede particular.
Câncer de intestino
Durante a conferência, um grupo de oncologistas mostrou que os pacientes com câncer de intestino e metástase no fígado, que costumavam ser tratados com quimioterapia ou radioterapia localizada, se beneficiam mais com o transplante de fígado do que com a quimioterapia.
De acordo com Bugano, a possibilidade de transplante de fígado para pacientes com câncer em geral cresceu nos últimos anos. O grande receio dos médicos anteriormente era que o paciente transplantado precisava tomar imunossupressores para não rejeitar o novo órgão, o que acaba diminuindo as defesas do corpo e aumentando as chances de um retorno do câncer.
O estudo mostrou, porém, que pacientes já operados do tumor no intestino e com metástase no fígado podem ser considerados para um transplante hepático, desde que já tenham passado pelo tratamento com quimioterapia sem completa melhora.
Ao comparar a abordagem com o tratamento padrão, viu-se que 40% dos transplantados ficaram sem a doença por até quatro anos. “Ainda é cedo para falar que estão curados, mas é surpreendente”, comemora Bugano.
“A diferença em termos de sobrevida desses pacientes, ou seja, a proporção dos que estão vivos depois de alguns anos, é inacreditavelmente maior para os que foram transplantados. É possível que esse resultado comece a mudar a prática médica”, considera Kaliks.
Pulmão
O câncer de pulmão é o que mais mata no mundo. Um dos estudos de maior destaque apresentados na Asco de 2024 mostra que uma droga produzida pelo laboratório Pfizer lançada em 2020 reduz significativamente a progressão da doença e melhora em até sete vezes a sobrevida dos pacientes em estágio avançado.
O lorlatinibe, comercializado nos EUA com o nome Lobrena, foi testado em centenas de pessoas que sofrem de uma forma avançada de linfoma quinase anaplásico (ALK), um câncer de pulmão de células não pequenas.
Em cinco anos usando o lorlatonibe, 60% dos participantes do ensaio clínico tiveram a progressão dos tumores interrompida. Para comparação, o mesmo efeito foi observado em apenas 8% dos pacientes que usavam crizotinibe, o tratamento apontado como o segundo melhor para tumores mais agressivos.
“Os autores da pesquisa mostraram um resultado excepcional do uso do medicamento a longo prazo”, considera o oncologista Kaliks.
Terapia-alvo
O câncer é uma doença complexa, com muitos subtipos e mutações que exigem tratamentos cada vez mais personalizados de acordo com o tipo de tumor do paciente. Um dos focos da Asco deste ano foi mostrar os avanços do tratamento com terapia-alvo para diferentes mutações.
Essa abordagem usa drogas ou outras substâncias para atacar especificamente as células cancerígenas, usando como base as mutações genéticas e determinados genes dos tumores. Como resultado, o tratamento provoca poucos danos às demais células do paciente.
A terapia tem alta precisão e pode aumentar a eficácia de seu combate ao enfraquecer o tumor, já que o divide em partes menores. “Isso é extraordinariamente interessante porque você vai fragmentando a doença”, avalia Kaliks.
Cuidados paliativos
Outro trabalho citado pelos médicos apontou a eficácia dos cuidados paliativos por telemedicina (ligações e videochamadas com os médicos) em pacientes oncológicos.
Os cientistas compararam marcadores de saúde de pacientes que passaram a ser acompanhados remotamente a partir da pandemia de Covid-19 com os dos indivíduos que permaneceram em cuidados presenciais.
A investigação mostrou que não existe diferença na qualidade de vida dos pacientes tratados à distância. “O que fica é a evidência da utilidade do acompanhamento virtual. Esse tipo de estudo aumenta a própria aceitação na comunidade médica do cuidado remoto. Deslocar é custoso, gera dores, desconfortos, e é possível reduzir tudo isso com a telemedicina”, indica Kaliks.
A pesquisa focou em pacientes com câncer de mama, mas Bugano destaca que os resultados podem ser aplicados em todos os indivíduos com tumores sem perspectiva de cura.
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