As vacinas contra a Covid-19 podem não funcionar? Entenda
Enquanto os ensaios da fase 3 não forem finalizados, não há certeza sobre a vantagem de se receber a imunização contra o coronavírus
atualizado
Compartilhar notícia
A notícia mais aguardada no mundo é, quando, finalmente, uma vacina segura e eficaz contra a Covid-19 será registrada para que se comece a imunização em massa da população. Mas, para que isso aconteça, a realização e apresentação dos resultados dos ensaios clínicos da fase 3 são obrigatórios.
As candidatas a vacina mais adiantadas estão na fase 3 de testes, quando são aplicadas em milhares de pessoas. Nesta etapa, os voluntários são divididos em dois grupos: um deles recebe a fórmula que produz resposta imunológica e o outro, um placebo.
Durante a fase 3, é necessário que os voluntários tenham contato com o coronavírus em sua vida cotidiana e que aqueles que receberam a imunização não desenvolvam a doença. Os resultados entre o grupo que tomou a vacina e o grupo que tomou o placebo são comparados e a fórmula tem que apresentar vantagem para os que a receberam.
Na etapa anterior, conhecida como fase 2, a imunização é aplicada em algumas pessoas e, passado um tempo, as amostras do plasma sanguíneo delas são examinadas para verificar se houve produção de anticorpos eficientes contra o Sars-CoV-2. Neste momento, o confronto entre o vírus e os anticorpos acontece na bancada do laboratório por isso não dá para ter certeza de que a imunização funcionará em um cenário real.
“Há uma diferença importante entre o corpo desenvolver anticorpos e esses anticorpos serem efetivos para derrotar o vírus no momento em que ele ataca o organismo”, afirma a pesquisadora Luciana Cezar de Cerqueira Leite, do laboratório de desenvolvimento de vacinas do Instituto Butantan. “É preciso saber se os anticorpos serão suficientes, se vão atuar da maneira desejada e se conseguirão neutralizar o vírus”, detalha.
A pesquisadora tranquiliza os pessimistas, entretanto. “Quando uma vacina passa para a fase 3, já se sabe que ela tem muito potencial”, afirma.
Queda de casos atrasa vacinas
Nesta semana, a equipe que desenvolve uma das vacinas mais promissoras do mundo – a fórmula Oxford/AstraZeneca – anunciou que deve publicar os resultados da fase 3 de seu ensaio clínico no final de dezembro. Em pronunciamentos anteriores já havia sido dito que a vacina estaria pronta para a população em setembro, depois em outubro e, por último, antes do Natal. O que está havendo, então?
A mudança de calendário está associada à queda de casos de Covid-19, pois quanto menos o vírus circula, menos pessoas são contaminadas, o que diminui a chance dos voluntários adquirirem a infecção de maneira natural e acaba atrasando o fim da fase 3.
Para tentar acelerar a etapa, o governo britânico topou investir nos controversos estudos de “desafio humano”, no qual os voluntários vacinados são infectados pelo Sars-CoV-2 deliberadamente.
Vacinas com 50% de eficácia são boas
A Organização Mundial de Saúde recomendou, recentemente, que vacinas contra a Covid-19 que apresentem até 50% de eficácia devem ser registradas e aplicadas na população. Normalmente, os imunizantes que são aprovados para uso têm eficácia de pelos menos 70%.
A emergência mundial provocada pelo novo coronavírus justifica a concessão. “Estamos diante de um vírus altamente contagioso e que já provocou muitas mortes, se a vacina funcionar para 50% dos imunizados teremos uma barreira capaz de limitar a circulação dele e isso já é suficiente para reduzir o número de mortes”, detalha a pesquisadora Luciana Cezar de Cerqueira Leite, do Instituto Butantan.