Armas de fogo mataram 145 mil crianças e jovens no Brasil em 20 anos
Sociedade Brasileira de Pediatria afirma que número de vítimas de disparos propositais ou acidentais é um problema de saúde pública
atualizado
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Estudo inédito da Sociedade Brasileira de Pediatria revela que 145 mil crianças e adolescentes morreram em consequência de disparos de armas de fogo em 20 anos, em situações como homicídios, suicídios ou tiros acidentais. A pesquisa usou como base os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, entre os anos de 1997 e 2016, que são os dados mais recentes.
“É um grave problema de saúde pública. É como se uma cidade de médio porte tivesse sido riscada do mapa. Entendemos que essa situação é insuportável para um país que pretende ter um futuro”, afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, Luciana Rodrigues Silva, a respeito dos dados levantados.
Do total de mortes, 2.863 foram no Distrito Federal. O estado mais violento, de acordo com as informações recolhidas pela instituição foi a Bahia, que registrou 13.813 mortes por disparos no período analisado.
A série histórica levantada mostra que o número de mortes violentas entre crianças e jovens está crescendo com o passar do tempo. Em 2016, ano mais recente da análise, foram registrados 9.517 óbitos. O número é praticamente o dobro das 4.846 mortes identificadas em 1997.
Para a presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, a violência epidêmica entre jovens e adolescentes é multifatorial, envolve a falta de políticas públicas sociais e a precariedade das ações da área de segurança pública. “O acesso às armas de fogo deve ser discutido com profundidade por conta de suas implicações éticas, morais e sociais”, afirma Luciana Rodrigues Silva.
Além de calcular o volume dos disparos com armas de fogo na mortalidade da população brasileira de zero a 19 anos, o levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria também mostrou as consequências da violência desenfreada para o sistema público de saúde, entre elas estão a sobrecarga nos prontos-socorros e nas alas de internação dos hospitais.
Segundo a análise, a cada duas horas, em média, uma criança ou adolescente dá entrada em um hospital com ferimento por disparo de algum tipo de arma. Entre 1999 e 2018, foram registradas mais de 95,7 mil internações de vítimas graves decorrentes de acidentes, tentativas de homicídios ou de suicídio envolvendo armas de fogo. O custo estimado desta violência para o sistema de saúde foi de R$ 210,8 milhões.