Após erro em dosagem, vacina Oxford/AstraZeneca enfrenta críticas
Cientistas levantaram dúvidas sobre metodologia do ensaio clínico após divulgação de que parte dos voluntários recebeu dose errada
atualizado
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O anúncio de que a vacina produzida pela empresa AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford teria alcançado eficácia entre 62% e 90% contra a Covid-19 na fase 3 dos ensaios clínicos deixou a comunidade científica animada. Em um comunicado, as organizações afirmaram que a administração da vacina se deu de duas formas nos testes: na primeira, os voluntários receberam metade de uma dose e, um mês depois, uma dose completa. Na segunda, os participantes receberam duas doses completas.
O problema é que, segundo a própria AstraZeneca, alguns participantes receberam a dose errada da vacina. O fato havia sido anunciado como um “golpe da sorte”, pois a taxa de eficácia foi maior entre o grupo que recebeu a dose menor e isso possibilitaria que mais pessoas fossem vacinadas com a dose prevista. No entanto, nesta quinta-feira (26/11) começaram a surgir questionamentos públicos se, na verdade, o erro não comprometeria a credibilidade da pesquisa e, consequentemente, da vacina.
Em seu anúncio oficial, a empresa afirmou que menos de 2.800 participantes seguiram o programa com uma dose inicial menor, enquanto quase 8.900 participantes receberam duas doses completas. Entre os pacientes que receberam meia dose da vacina, a eficácia foi de 90%, contra apenas 62% entre o grupo que recebeu as duas doses completas. A grande variação entre os dois grupos foi uma das principais perguntas levantadas após o anúncio da empresa. Os pesquisadores admitiram que não sabem o motivo da discrepância.
A empresa informou ainda que a primeira análise sobre eficácia foi baseada em 131 casos sintomáticos de Covid-19 que surgiram em participantes do estudo, porém não detalhou quantos casos foram encontrados em cada grupo de participantes. Outro ponto que levantou questionamentos foi o fato da AstraZeneca ter juntado resultados de dois ensaios clínicos concebidos de maneira diferente, o realizado no Reino Unido e o que está sendo feito no Brasil.
Outra crítica é com relação aos dados envolvendo pacientes idosos. Moncef Slaoui, diretor da operação Warp Speed (iniciativa dos EUA para acelerar a criação de vacinas contra o coronavírus) afirmou em entrevistas que os participantes que receberam a dose inicial mais fraca tinham, no máximo, 55 anos de idade. Ou seja, de acordo com ele, não há dados que indiquem que os resultados teoricamente positivos se aplicariam aos mais velhos.
Menelas Pangalos, executivo da AstraZeneca responsável pelas pesquisas da empresa, disse em entrevistas que o erro na administração da dosagem teria sido cometido por uma firma terceirizada contratada pela empresa. Segundo ele, os reguladores foram notificados imediatamente e autorizaram o plano para continuar a testar a vacina com doses diferentes.
Ao New York Times, Geoffrey Porges, analista do banco de investimentos SVB Leerink, afirmou que uma consequência da falta de precisão na pesquisa pode diminuir as chances de que órgãos reguladores de diversos países autorizem o uso emergencial da vacina.