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Anvisa aprova medicamento que trata malária com uma dose

Após 70 anos sem novidades no tratamento, órgão libera medicamento que também evita recaídas típicas da doença

atualizado

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1 de 1 malaria2 - Foto: USP Imagens/Divulgação

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro de um medicamento com potencial para facilitar de forma expressiva o tratamento da malária e evitar recaídas. Batizada tafenoquina, a droga é a primeira aprovada nos últimos 60 anos para a principal forma da doença no país, a que é provocada pelo Plasmodium vivax. O maior avanço trazido pelo remédio, de acordo com pesquisadores, está relacionado à forma de uso. Ele reduz a duração do tratamento de sete dias para um.

Atualmente, boa parte dos pacientes, ao sentir uma leve melhora, acaba abandonando a terapia. “Sem o esquema completo, a pessoa pode apresentar a doença novamente”, conta o médico especialista em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz da Amazônia Marcus Vinícius Guimarães Lacerda.

Transmitida pela picada do mosquito Anopheles infectado pelo protozoário, a malária provoca febre, mal-estar, dores de cabeça e no corpo. Entre os meses de janeiro e agosto, foram identificados no país 87 mil casos da doença. A malária é considerada endêmica no Brasil. O tratamento, hoje, inclui duas drogas. Uma delas é indicada para controlar a infecção aguda e a outra, de sete dias, a primaquina, para a eliminação do parasita que se instala no fígado.

As recaídas acontecem mesmo que o paciente não tenha tido um novo contato com o agente causador da doença. Quando o tratamento com a primaquina não é finalizado, o protozoário fica “adormecido” no fígado e, por razões ainda não conhecidas, pode novamente se manifestar. Não há padrão para recaídas, podem tanto ser mais leves como muito mais graves do que a primeira manifestação da doença.

A tafenoquina foi desenvolvida há cerca de 40 anos pelo exército americano, a partir da primaquina. O princípio ativo, no entanto, ficou anos aguardando o desenvolvimento e pesquisas que demonstrassem sua eficácia e segurança. A retomada ocorreu há alguns anos, com uma pesquisa feita em parceria entre a GSK e a organização não governamental Medicines for Malaria Venture (MMV). Pesquisas clínicas foram feitas no Brasil para o uso do medicamento. Cerca de 200 voluntários participaram do estudo.

O Brasil é o primeiro país endêmico a aprovar o uso da tafenoquina. A droga já recebeu registro nos Estados Unidos e na Austrália. Com o sinal verde da Anvisa, terá início em janeiro um estudo para a incorporação da droga no Sistema Único de Saúde (SUS). O medicamento deverá ser usado nas cidades de Manaus e Porto Velho a partir de janeiro do próximo ano, com duração de um ano. Se resultados forem considerados bons, a droga poderá ser incorporada pelo SUS.

O registro concedido pela Anvisa prevê que a tafenoquina seja dada para pacientes com mais de 16 anos. Ela substitui a primaquina e não dispensa o uso de medicamentos para a forma aguda da doença. O novo medicamento não é indicado para mulheres grávidas e para pessoas com deficiência na produção da enzima G6PD. Estima-se que 5% da população apresente o problema. “Pessoas com a deficiência que tomam a tafenoquina podem ter efeitos colaterais graves, como a destruição das células vermelhas”, diz Lacerda.

Para evitar o risco, o novo medicamento somente será usado depois da realização de um teste rápido, feito para identificar a deficiência. Diretor do departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Júlio Croda, afirma que esse teste rápido será aplicado nas duas cidades. “Vamos acompanhar de perto essa implementação, para ver a facilidade do uso do exame e a adaptação dos profissionais”, disse.

O aparelho é semelhante ao que identifica as taxas de glicose no sangue. Portátil e funciona por meio de baterias. Nos casos em que a deficiência da enzima for identificada, a recomendação será usar o medicamento tradicional (primaquina), mas de forma monitorada. “Hoje sabemos que a primaquina também provoca o mesmo risco para pacientes com a deficiência. O tratamento agora ficará mais seguro.”

Médico da GSK, Roberto Zajdenverg, avalia que a droga, que é produzida na Índia, tem um potencial promissor. À frente do estudo clínico realizado no Brasil, Lacerda também está otimista com o impacto positivo que ela pode trazer na redução de casos no país.

“Evitando as recaídas, será possível também reduzir a circulação do parasita”. Com menos pessoas doentes, menor o risco de o mosquito Anopheles se contaminar e passar e transmitir a doença para outras pessoas. Há ainda outro fator importante, a identificação de novos surtos. “Hoje não sabemos se um caso identificado é provocado por uma infecção nova ou uma recaída”, conta Croda.

Se resultados forem positivos, afirma Croda, a nova droga poderá ser usada nas demais áreas onde a malária é endêmica. Hoje, 38 cidades são consideradas prioritárias para a doença.

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