Antidepressivos: como interromper o uso sem prejudicar a saúde?
Para evitar a “síndrome de retirada” e efeito rebote, médicos e pacientes têm de pensar juntos em uma estratégia par deixar os remédios
atualizado
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Interromper o uso de antidepressivos pode dar origem a uma “síndrome de retirada”. Essa condição é causada pela suspensão da medicação em um momento no qual o cérebro ainda não se acostumou a operar sem ela. Encontrar o ajuste certo que permita contornar o problema, porém, é mais difícil do que parece.
A “síndrome de retirada” ocorre, principalmente, em quem faz uso de antidepressivos potentes. Se há uma suspensão abrupta da dose, a condição pode aparecer com sintomas variados, indo desde os típicos da gripe, num estágio leve, até um efeito rebote em casos graves, que pode intensificar a doença anteriormente tratada com a medicação.
“Assim como devemos ter cuidado antes de tomar uma medicação, é importante buscar a orientação médica antes de suspender seu uso para que se adote a melhor estratégia”, diz o psiquiatra Alexandre Valverde, de São Paulo.
O médico esclarece que a suspensão de medicamentos antipsicóticos e do lítio podem causar efeitos rebotes, levando a recaídas das doenças originais. Já no caso de outros tipos de medicamentos, a retirada antes de um período de adaptação pode levar a dores de cabeça, náusea e fadiga extrema.
O psiquiatra afirma que é preciso haver um diálogo constante entre médico e paciente e também um planejamento para traçar estratégias que possibilitem segurança em relação à medicação.
Síndrome de retirada ou de abstinência?
Embora por vezes os sintomas dos quadros se confundam, Valverde esclarece que a síndrome de retirada de um antidepressivo não é a mesma coisa que a abstinência de dependentes químicos. “A abstinência é um processo específico de drogas depressoras. Ela causa taquicardia, confusão mental, sinais de uma dependência muito intensa e violenta”, esclarece Valverde.
“Além disso, o uso dessa palavra abstinência traz uma carga moral para o tratamento psiquiátrico que não é adequada. Estamos falando de reações decorrentes do uso necessário de uma medicação”, completa o médico.
Quanto tempo dura a “síndrome de retirada”?
O tempo de duração da adaptação ao fim do uso do remédio varia de acordo com a sensibilidade de cada paciente, podendo chegar a meses. Quando há substâncias que agem de forma mais intensa no corpo, alterando o metabolismo, o período é ainda mais longo.
Entre as medicações que passam por essa espécie de desmame, o especialista ressalta os antidepressivos de ação dupla, como a duloxetina e a venlafaxina, além de ansiolíticos como o Diazepam e o Rivotril. Nestes casos, a retirada pode levar até três meses para evitar os sintomas.
“Interromper uma medicação é algo que leva tempo e deve respeitar um protocolo para acostumar o corpo do paciente. Antes de tudo, temos que identificar se o paciente está recuperado e ir reduzindo a dosagem da medicação semanalmente em cerca de 25% para observar que efeitos. Só se suspende uma medicação de forma abrupta, se ela tiver causado efeitos colaterais, de resto, tudo tem o seu curso”, diz o psiquiatra.
Dependência psicológica
Além das alterações no organismo que levam à “síndrome da retirada”, é comum que pacientes que tomavam antidepressivos, ansiolíticos e outros passem a se sentir inseguros quando estão sem a medicação. Esta sensação de falta de confiança também é avaliada no momento de se fazer a retirada de uma medicação.
“É comum que as pessoas tenham certa insegurança de voltar a ter crises e alguns pacientes até mantém o medicamento na bolsa mesmo que não tenham que usá-lo, como uma forma de garantia. Mas isso também é trabalhado, a retirada é explicada e se há muita resistência do paciente, ela pode até ser repensada”, diz Valverde.
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