Amigos influenciam mais que governo para o cumprimento da quarentena
Pesquisa britânica mostra que atitude de pessoas próximas é determinante para que indivíduos adotem o distanciamento social
atualizado
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Uma pesquisa britânica, publicada no British Journal of Psychology nesta quinta-feira (21/01), descobriu que as pessoas estão mais propensas a seguir o distanciamento social quando os amigos e a família também o fazem. A influência do círculo social foi mais forte que as diretrizes governamentais e, até mesmo, que as próprias convicções pessoais dos indivíduos — ou seja: mesmo quando acreditam que o distanciamento é o certo a se fazer, as pessoas tendem a cumprir a medida somente quando conhecidos também cumprem.
O estudo, liderado pela Universidade de Nottingham em parceria com especialistas em comportamento coletivo de universidades britânicas, francesas, alemãs e norte-americanas, analisou dados de 6.674 pessoas em 114 países.
O objetivo principal do trabalho foi investigar o papel que as redes sociais desempenham na prevenção da disseminação da Covid-19. Para isso, os pesquisadores enviaram questionários aos participantes para descobrir o quanto eles e as pessoas de seus círculos sociais aprovavam e seguiam as medidas de distanciamento social em vigor no local em que moravam.
De acordo com Bahar Tunçgenç, cientista da Escola de Psicologia da Universidade de Nottingham e pesquisador afiliado da Universidade de Oxford, os participantes mais esforçados em cumprir a norma eram aqueles cujos amigos e familiares também seguiam as regras. O comportamento se aplicou a todas as faixas etárias, sexos e países estudados e aconteceu independentemente da gravidade da pandemia de coronavírus e da intensidade das restrições.
Outro dado curioso foi que pessoas particularmente ligadas ao seu país eram mais propensas a seguir as regras de distanciamento social. “O país foi encarado como uma família nesse sentido, alguém por quem se está disposto a arriscar o pescoço”, explicou Tunçgenç.
“Quando o coronavírus atingiu o Reino Unido pela primeira vez em março, fiquei impressionado com a forma como os líderes na Europa e na Ásia estavam respondendo de maneira diferente para a pandemia”, explicou o cientista. “Enquanto o Ocidente enfatizava ‘cada pessoa fazendo a coisa certa’, as estratégias de pandemia em países como Cingapura, China e Coreia do Sul se concentraram em mover o coletivo como uma única unidade“.
Para Bahar Tunçgenç, os dados sugerem que as políticas públicas estariam seguindo um “caminho errado” ao apostar apenas em argumentos de cientistas e políticos para convencer a população a seguir recomendações para conter o Sars-CoV-2.
Uma solução para vencer a resistência das pessoas ao distanciamento social poderia ser o uso estratégico das redes sociais. Uma das sugestões dos pesquisadores seriam aplicativos semelhantes aos voltados para o estímulo de exercícios físicos, que avisam quais amigos estão inscritos e realizando as tarefas. A ideia seria criar um sistema em que a rede de amigos fosse informada sobre quem recebeu a vacina contra a Covid-19.
“Usar as redes sociais para demonstrar aos seus amigos que você está seguindo as regras, em vez de expressar indignação com as pessoas que não as seguem, também pode ser uma abordagem mais impactante”, completa Tunçgenç.
Mensagens de figuras públicas enfatizando valores coletivos, como o benefício de agir em prol de amigos e entes queridos, também poderiam funcionar, segundo Bahar Tunçgenç. “Nossa mensagem para os formuladores de políticas é que, mesmo quando o desafio é praticar o distanciamento social, a proximidade social é a solução.”